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sábado, abril 16, 2011

Maria, Cavakov e Tudo o Mais - Companhia Teatral do Chiado

Maria, Cavakov e Tudo o Mais é a nova peça que a Companhia Teatral do Chiado de Juvenal Garcês estreou ontem, com grande êxito.

Esta peça, aprovada pelo PEC4 (Plano Entretenimento e Comédia), conta com o Pedido de Casamento de Anton Tchekhov, um poema de Alexandre O'Neill e muitas referências ao cinema mundo, aos inicios do cinema sonoro, a Buster Keaton, gestos e situações de Laurel & Hardy e houve até quem visse uma referência ao teatro de Lourdes Castro.

Seja como fôr, esta é uma aposta ganha por Juvenal Garcês que, paulatinamente, tem vindo a criar nos últimos anos uma "revolução estética" do seu modo de fazer teatro, onde "less is more" (veja-se, a exemplo, as peças Antes de Começar e Amor com Amor se Paga - Um acto teatral para Mário Viegas).

O bom gosto "grotesco" (parece contrasenso, mas não é), a enorme sensibilidade e humanidade que imprime nas personagens e um non-sense desconcertante mas comovente, são os trunfos de mestre das encenações de Juvenal.

Duarte Grilo é exímio na expressão corporal e utilização vocal, interpretando um "Noivo" hipocondriamente apaixonado até ao momento em que lhe metem a mão nas propriedades.

Fábio Sousa, a figura feminina da peça, constrói uma fogosa "Noiva", bipolar da doçura ao histerismo, com grandes momentos em cena, em que julguei estar perante uma marioneta.

João Carracedo, o "Pai e Sogro" e tudo o mais, interpreta com muito humor e à-vontade as situações em cenas e cabe-lhe o extraordinário momento dizer o discurso fúnebre a Cavakov, com palavras de Alexandre O'Neill.

Uma palavra para a brilhante execução do cenário, salientando um extraordinário coração-baloiço que nos remete a uma mistura de Moulin Rouge com um postal de amor dos anos 30.

No fim, rebuscando a velha tradição da Revista à Portuguesa, distribuí-se pelo público o refrão da letra de Chaplin - Smile - e assim, em perfeita comunhão, somos levados a cantar, a sorrir e amar, cada vez mais, o Teatro da Companhia Teatral do Chiado.

Em cena Sextas e Sábados, no Teatro Estúdio Mário Viegas (Chiado, Lisboa), às 21 horas.

quinta-feira, abril 14, 2011

Juvenal Garcês desafia a crise com a arma do riso



Porque rir é o melhor remédio – até para a crise que atravessamos – a Companhia Teatral do Chiado estreia dia 14 de Abril, às 21h00, no Teatro Estúdio Mário Viegas, em Lisboa, ‘Maria, Cavakov e tudo o mais!’, um espectáculo de humor burlesco que mistura textos de Anton Tchekov com músicas de Charlie Chaplin e a poesia de Alexandre O’Neill.

Assim que o pano sobe há um cómico, vestido de Charlot, que executa um número cómico sem palavras. Pouco depois, começa a falar: é ‘O Pedido de Casamento’, um dos dois pequenos textos que Tchekov escreveu em início de carreira e que Juvenal Garcês decidiu usar num espectáculo onde se conta uma história de amor e que terá, para contentamento geral, um final feliz.

“São textos muito bonitos, de que gosto muito, e que decidi juntar neste espectáculo que é uma espécie de manta de retalhos bem cosida, onde o humor e a poesia se juntam”, explica o encenador, que volta a usar a colagem para a construção de um trabalho de entretenimento a lembrar os espectáculos de cabaret.

Quanto ao sugestivo título, saiba-se que ‘Maria’ e ‘Cavakov’ são os nomes dos simpáticos cães que entram neste espectáculo para roubar a cena aos actores e que, no contexto da acção, são pretexto para discussões entre os heróis Natalya e Ivan.

Para o encenador Juvenal Garcês este é “o espectáculo certo para o momento”, antídoto à depressão que assola o País. “Já que a política não parece salvar-nos, talvez o teatro o faça: é preciso rir e é preciso reagir”, diz.

Em palco, o espectador encontrará os actores Duarte Grilo, Fábio Sousa e João Carracedo. Ver às sextas e sábados, sempre às 21h00.

Fonte: Correio da Manhã

domingo, junho 27, 2010

"Entre Nós e as Palavras", o dever de ver esta peça

(clique na imagem para aumentar)
Crítica da revista Visão à peça de homenagem a Mário Viegas, patente no Teatro Estúdio Mário Viegas, no Chiado.

segunda-feira, maio 24, 2010

Amor com Amor se Paga (Um Acto Teatral Para Mário Viegas)



Na passada sexta-feira estreou na Companhia Teatral do Chiado mais uma produção teatral levada a cena no Teatro Estúdio Mário Viegas. Mas esta não é uma estreia como as outras. É, acima de tudo, a homenagem de um amigo a outro amigo através da palavra, do corpo, da voz e do vinho: audição, tacto, visão, paladar e olfacto. Tudo está presente… mais o Amor.

Amor com Amor se Paga (Um acto teatral para Mário Viegas) é, antes de mais, a forma como Juvenal Garçês (co-fundador com Mário Viegas da Companhia Teatral do Chiado e encenador deste espectáculo) se lembra de Mário Viegas e do modo como este via e queria o Teatro. E só um grande amigo (o melhor amigo) nos poderia mostrar a sensibilidade, o humanismo, a loucura sã da comédia e da tragédia do outro.

Ver este espectáculo é abrir um Diário pessoal de emoções e recordações… ver este espectáculo é participar num acto de generosidade e de partilha.

Amor com Amor se Paga (Um acto teatral para Mário Viegas) compõe-se de um conjunto de actos teatrais de Anton Tchékhov (O Pedido de Casamento, A gaivota e A Corista), August Strindberg (O Sonho), Henrik Ibsen (uma frase) e Karl Valentin (O Chapeleiro, O Aquário e Vende-se Casa) e de um poema de Mário Cesariny (You are welcome to Elsinor). Os contos são traduzidos e adaptados pelo próprio Mário Viegas e Manuela de Freitas.

Do elenco fazem parte Alexandra Sargento (belissimas representações no Pedido de Casamento, Corista e Chapeleiro, detentora de uma mimica facial poderosa), Emanuel Arada (“transformista” na Corista, cómico no Chapeleiro e emocionante na cena final), João Carracedo (um noivo inesperado em Pedido de Casamento, um extraordinário explicado em Aquário e um imobiliário notável em Vende-se a Casa) e Manuela Cassola (a quem cabe a mais surpreendente cena de todo o espectáculo, de uma inspiradora - ou inspirada? - beleza estética visual e auditiva e de uma sensiblidade comovente, apanágio, aliás, de Juvenal Garcês).

Amor com Amor se Paga (Um acto teatral para Mário Viegas) é irresistível. Obrigatório. Absurdo. Riso. Absoluto. Canto. Choro. Completo. Aplauso. Respiração. Cortante. Emocionante. Juvial. Juvenal. Maior. Mário.

Interpretação: Alexandra Sargento, Emanuel Arada, João Carracedo, Manuela Cassola
Encenação: Juvenal Garcês
Escolha de Figurinos: Luciano Cavaco
Assistência de Encenação: Aritz Bengoa
Contra-Regra: Aritz Bengoa
Produção: Companhia Teatral do Chiado
Direcção de Produção: Luís Macedo
Marketing e Comunicação: Nuno Santos
Responsável de Bilheteira: Duarte Nuno Vasconcellos
Bilheteira: Ana Filipa Neves, Joana Barreto
Gestão de conteúdos da página na internet: Duarte Nuno Vasconcellos

Local: Teatro-Estúdio Mário Viegas
Em cena de 2010-05-20 a 2010-06-25
Horário: Sextas às 22h

segunda-feira, abril 26, 2010

Amor com Amor se Paga (Um acto teatral para Mário Viegas)



Amor com Amor se Paga (Um acto teatral para Mário Viegas) é uma peça, ou melhor, é um conjunto de actos teatrais, que se assumem no seu todo como uma sentida homenagem ao co-fundador da Companhia Teatral do Chiado no ano em que esta comemora 20 anos de actividade artística.
Juvenal Garcês assume-se como o Mestre de Cerimónias deste espectáculo, acumulando a função de encenador e "aparador" de textos da autoria de Anton Tchékhov, August Strindberg, Henrik Ibsen e Karl Valentin.
Sempre de uma forma cómica, o espectáculo aborda temas como o amor, a desilusão e a perda. É a transposição cénica da máxima de Mário Viegas: "A vida é uma anedota muito séria". É o espectáculo que teria posto Mário Viegas a chorar a rir e a rir de tanto chorar. Mas sempre a rir.

Interpretação: Alexandra Sargento, Emanuel Arada, João Carracedo, Manuela Cassola
Encenação: Juvenal Garcês
Escolha de Figurinos: Luciano Cavaco
Assistência de Encenação: Aritz Bengoa
Contra-Regra: Aritz Bengoa
Produção: Companhia Teatral do Chiado
Direcção de Produção: Luís Macedo
Marketing e Comunicação: Nuno Santos
Responsável de Bilheteira: Duarte Nuno Vasconcellos
Bilheteira: Ana Filipa Neves, Joana Barreto
Gestão de conteúdos da página na internet: Duarte Nuno Vasconcellos

Local: Teatro-Estúdio Mário Viegas
Em cena de 2010-05 a 2010-07
Horário: Sextas às 22h

Classificação: M/12

Estreia em Maio

Amor com amor se paga (um acto teatral para Mário Viegas) é o novo espectáculo da Companhia Teatral do Chiado (CTC), que estreia a 14 de Maio. No ano em que comemora 20 anos, a CTC leva agora à cena uma verdadeira homenagem ao actor e co-fundador da companhia, Mário Viegas.

A CTC sempre se apresentou, nas palavras de Mário Viegas, como uma companhia de teatro "a pensar nas pessoas normais e não naquelas que já sabem tudo".

Para fazer jus a essa afirmação, o espectáculo que agora sobe ao palco apresenta três contos de Anton Tchékov, um dos maiores escritores do século XIX, três contos de Karl Valentin, um excerto do texto O Sonho de August Strindberg, uma frase de Henrik Ibsen e um poema de Mário Cesariny. Alguns dos maiores nomes do teatro do séc. XX todos adaptados com grande sentido de humor e acessível a todos.

O Pedido de Casamento, A gaivota e A Corista (de Anton Tchékov), O Chapeleiro, O Aquário e Vende-se Casa (de Karl Valentin) são os contos adaptados e traduzidos por Mário Viegas e Manuela Freitas, que vêm agora à cena pelas mãos do encenador Juvenal Garcês.

Dois jovens namorados incapazes de planear um futuro feliz, uma senhora casada com um velho general que se confessa a um jornalista mundano, são algumas das personagens interpretadas por Alexandra Sargento, Emanuel Arada e João Carracedo, caricaturando o nosso quotidiano de forma divertida e irónica.

Este conjunto de contos e textos de autores de referência adaptados de forma irreverente por Juvenal Garcês revelam um grande sentido de humor perante a vida, tão característico do Mário Viegas.

Os bilhetes vão estar disponíveis para venda a partir de dia 3 de Maio no site da Companhia, em toda a rede Ticketline e Blue Ticket. Inclui um copo de vinho, para brindar ao actor Mário Viegas.

sábado, novembro 14, 2009

Teatro - A Dama de Copas e o Rei de Cuba - Companhia Teatral do Chiado



A Companhia Teatral do Chiado, residente no Teatro Estúdio Mário Viegas - Lisboa, estreou na passada Quinta-Feira, 12 de Novembro, a sua mais recente produção: A Dama de Copas e o Rei de Cuba, do sociólogo brasileiro Timochenco Whebi.

Juvenal Garcês - Director da CTC e encenador deste espectáculo - no seu breve discurso de estreia desta peça, referiu que a mesma é o pontapé de saída para a comemoração dos 20 anos da Companhia Teatral do Chiado e que a escolha deste texto não foi inocente. Timochenco Whebi, falecido há uns anos, foi grande amigo de Mário Viegas que nunca teve a oportunidade de encenar uma peça do amigo do "país irmão". Esta era a altura ideal. E a oportunidade de levar à cena um texto em lingua portuguesa.

Juvenal Garcês teve ainda a oportunidade de referir que esta peça foi levada à cena em Portugal, pela mão de Raul Solnado, no dia 22 de Abril de 1974. Três dias depois deu-se a Revolução dos Cravos e a oportunidade do êxito esfumou-se.

E o que dizer desta peça? Tiro certeiro, escolha acertada. Trata-se de um grande texto, escrito para uma realidade das favelas brasileiras mas aqui com uma excelente adaptação à realidade popular portuguesa, realidade popular citadina.

Três personagens muito bem construidas e conseguidas, quer na consistência quer na interpretação - Alexandra Sargento (Zinha), Cristina Basílio (Tita) e Pedro Saavedra (Avelino).
A acção desenrola-se num qualquer quarto de uma qualquer pensão da cidade de Lisboa, onde habitam duas personagens muito diversas mas com um ponto em comum - a solidão e a tentativa de fuga da mesma. Carlos Porto, critico de teatro, quando da estreia em 1974, referiu que esta peça era uma "comédia amarga". Nada mais certo. O segundo acto é, em certas cenas, altamente triste e comovedor.

São duas personagens femininas antagónicas, onde o cordeiro em pele de lobo (e vice-versa) assenta que nem uma luva.

O cenário é irrepreensível, onde as diferenças entre as personagens se notam até no mobiliário.

A escolha musical, apanágio aliás de qualquer encenação de Juvenal Garcês é comovedora e acertada. Amália Rodrigues, com "Formiguinha Bossa Nova" dá o arranque.

A encenação de Juvenal Garcês não apresenta uma única falha e, aqui, a sua imaginação e "sexto sentido" revela-se ao mais alto grau do bom-gosto e da inteligência, nunca caindo no óbvio e no brejeiro, caminho que seria de todo errado mas o mais fácil para o texto em questão.

As referências ao imaginário religioso português - como, não tenho dúvidas, no brasileiro - são uma constante na peça. Quer na referência à Procissão da Senhora da Saúde, quer no sonho de Zinha (onde uma Nossa Senhora aparece - cena de teatro brilhante), ou ainda, no final da peça, na Pieta de Zinha com Avelino (momento de celebração do Kitsch e de um certo imaginário Pierre Et Gilles).

O momento que elejo dos mais comoventes ao longo da peça, foi quando Tita abre uma caixinha de música e põe-se a danças ao som da música. Essa caixinha havia sido já usada por Lia Gama na peça que inaugurou a nova e bonita sala do Teatro Estúdio Mário Viegas - Oh Que Ricos Dias. Inocente ou não, esta caixinha de música marca uma nova etapa da Companhia Teatral do Chiado e do próprio Teatro em Portugal.

Só posso reforçar a escolha acertada de Juvenal Garcês, a sua encenação, os cenário e figurinos, a interpretação das actrizes. O extraordinário texto.

Parabéns Juvenal Garcês e a toda a Companhia Teatral do Chiado por este trabalho e pelos extraordinários 20 anos a encantar Portugal com o que de melhor se faz em Teatro.

Não percam esta peça: Quintas, Sextas e Sábados, às 21 horas, no Largo do Picadeiro, Chiado, Lisboa - Companhia Teatral do Chiado - Teatro Estúdio Mário Viegas

Interpretação: Alexandra Sargento, Cristina Basílio, Pedro Saavedra
Encenação: Juvenal Garcês
Adaptação: Juvenal Garcês, Luciano Cavaco
Cenografia: Luciano Cavaco
Figurinos: Luciano Cavaco
Desenho de Luz: Vasco Letria
Sonoplastia: Sérgio Silva
Assistência de Encenação: Aritz Bengoa
Contra-Regra: Aritz Bengoa
Produção: Companhia Teatral do Chiado
Direcção de Produção: Luís Macedo
Marketing e Comunicação: Nuno Santos
Responsável de Bilheteira: Duarte Nuno Vasconcelos
Bilheteira: Ana Filipa Neves, Joana Barreto
Gestão de conteúdos da página na internet: Duarte Nuno Vasconcelos

terça-feira, agosto 04, 2009

As Obras Completas de William Shakespeare chegaram hoje aos 200 Mil Espectadores



Há fenómenos extraordinários que não se explicam... ou talvez se possam. Este de que vos irei falar talvez se consiga.

Falo-vos dos 12 anos em cartaz da peça de teatro As Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos, em cena desde então no Teatro Estúdio Mário Viegas, em Lisboa. E do impressionante número de 200.000 (duzentos mil) espectadores, atingidos em 03 de Agosto de 2009. E do não menos incrível número de digressões: 154. Trata-se do maior sucesso teatral de sempre em Portugal, em longevidade, público e digressões.

Como é que uma peça de teatro consegue manter, durante tanto tempo, o interesse do público, mantendo a frescura, a surpresa e a saudável "loucura", criando este enorme êxito?

Em primeiro lugar, o nome da peça. William Shakespeare é um nome por todos reconhecido mesmo para aqueles que julgam que Gil Vicente é apenas um clube de futebol. E ainda por cima, em 97 minutos, vêem-se as peças todas. E é assaz sabido que o português gosta disso. Despachar tudo no menor tempo possível. Afinal de contas, quantos de nós leram realmente os Os Lusíadas de Camões ou os Maias do Eça de uma ponta a outra? Muito poucos eu diria. Quem teve de ler na escola estes dois "calhamaços" fê-lo com toda a certeza pelos livrinhos fininhos de capa amarela e preta da Europa-América que resume tudo e ainda nos dá umas dicas de resposta para qualquer pergunta saida num exame. Tudo no menor esforço.

Depois, claro está, o sucesso da peça deve-se a Juvenal Garcês. Homem de teatro no sangue, fundou com Mário Viegas a Companhia Teatral do Chiado sendo esta peça a melhor homenagem ao maior actor do Teatro português do século XX. Inteligente, cómica e conta com a ajuda do público. Público esse que Mário Viegas respeitava e para quem trabalhava.

Em terceiro lugar, o sucesso deve-se à sua estrutura simples. Duas entradas (e saídas) e três actores em palco que, num ritmo estonteante e figurinos diversos, transportam-nos para as diversas personagens criadas por William Shakespeare. Falas dos próprios textos de Shakespeare, improvisos e referências actuais, vão fazendo o "up-grade" na estrutura textual da peça e aproximam o novo público à mesma.

Mas como não há teatro sem actores, cabe talvez a estes a maior responsabilidade do sucesso dos 12 anos desta peça. Nestes 12 anos, as Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos contaram já com 4 elencos diferentes (neste momento tem o elenco original com que estrearam a peça em Portimão, no Algarve) mas um manteve-se estoicamente desde a primeira representação até à actual. Refiro-me a Simão Rubim, rosto mais visível e reconhecível deste enorme sucesso. O homem das mulheres desta peça.

Estou convencido que a ele se devem, pelo menos, 6 anos dos 12 em que a peça se mantém em representação. Actor versátil, dinâmico, inteligente e imprevisível, mostra durante toda a representação a alegria que é o Teatro, mantendo a critica social e política acessa, especialmente quando chega o momento do seu stand-up comedy - trinta minutos bónus de teatro em que toma conta do palco, agiganta-se e leva o público a uma viagem inesquecível ao Portugal "dos pequeninos" fazendo, com a maior inteligência, a crítica mordaz ao mundo político, económico, social, cultural e religioso do nosso país. À boa maneira, aliás, do seu primeiro Mestre - Mário Viegas.

Estes são, para mim, os 4 factores principais que justificam o êxito desta peça. Ou talvez não sejam sequer estes. Não importa. O que interessa é que esta foi mais uma aposta ganha para a Companhia Teatral do Chiado, os seus actuais directores, actores, técnicos de som e luz, cenografos, figurinistas, produtores e, acima de tudo, a prova de que o público português não dorme e ainda consegue, como noutros tempos, separar o "trigo do joio".

A todos os meus mais sinceros parabéns e o meu infinito obrigado.


E agora, palavras de Carlos Fragateiro (ex-director do Teatro da Trindade e do Teatro Nacional D. Maria II), retiradas da página pessoal do Facebook do actor Simão Rubim (a quem foi pedida licença de retirar este excerto):
"Um caso destes é exemplar num panorama teatral português que vive centrado no umbigo dos criadores, sem nenhuma preocupação com os públicos, ou com o sentido de serviço público, ainda que seja um teatro fortemente subsidiado. O vosso sucesso tem que ser gritado por todo o lado, o vosso exemplo tem que ser tratado como um caso de referência, para que as coisas comecem a mudar, e as migalhas da cultura não continuem a ser distribuidas por projectos e obras que só interessam ao ego de quem as faz."

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

É seu o papel principal




Esta é a publicidade que poderá ver em alguns cinemas de Lisboa à Companhia Teatral do Chiado.

COMPANHIA TEATRAL DO CHIADO

em cena no Teatro-Estúdio Mário Viegas

A Arte do Crime
com Emanuel Arada, Simão Rubim e Vanessa Agapito
encenação de Juvenal Garcês

A Bíblia: Toda a Palavra de Deus (d'uma assentada)
com Henrique Martins, Pedro Saavedra e Ricardo Cruz
encenação de Juvenal Garcês

As Vampiras Lésbicas de Sodoma
com João Carracedo, João Marta, Manuel Mendes, Pedro Luzindro, Rita Lello e Simão Rubim
encenação de Juvenal Garcês

As Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos
com João Carracedo, Manuel Mendes e Simão Rubim
encenação de Juvenal Garcês

Perguntem aos Vossos Gatos e aos Vossos Cães
com Diogo Andrade, Gonçalo Ruivo, Helena Veloso e Maria Dias
encenação de Manuel Mendes

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Entrevista a Juvenal Garcês

Eu e o Juvenal

To be or not to be já não é uma questão existencial para a Companhia Teatral do Chiado! Entrevista exclusiva com o director e encenador da Companhia que celebrou o seu 18º aniversário no passado mês de Dezembro.Localizada nesta zona emblemática de Lisboa e fundada em 1990 pelo saudoso Mário Viegas e Juvenal Garcês, a Companhia Teatral do Chiado (CTC) conta com uma sólida carreira de 18 anos e com um fenómeno chamado “Obras Completas de Shakespeare em 97 minutos” dos americanos Daniel Singer, Adam Long e Jess Borgeson. A propósito da comemoração dos 12 anos em cena desta peça de teatro – e também dos 18 anos da companhia, a Rua de Baixo entrevistou o encenador e director artístico da CTC, Juvenal Garcês, que nos faz um balanço deste percurso e do sucesso desta peça junto do público português, nunca esquecendo a alusão ao actual panorama teatral nacional e a polémica do financiamento artístico.

RDB - “Obras completas de William Shakespeare em 97 minutos” … são 12 anos, cerca de 190 mil espectadores, 150 digressões … será que as obras já são conhecidas por todos os portugueses?

Juvenal Garcês (JG) - Acho que não… não quero ser tão megalómano a esse ponto! Mas são já conhecidas pelo menos por 180 mil espectadores - o que é um feito extraordinário - e já estar há 12 anos em cena. Confesso que nunca imaginei que tivesse tanto sucesso! Pensei que seria de 3 meses! Aconselhavam-me a não fazer este espectáculo, seria complicado em Portugal. As pessoas não conhecem Shakespeare, e fazer um espectáculo sobre as obras completas iria ser um flop. Na altura, o Mário Viegas tinha acabado de morrer e seria um risco muito grande… que eu decidi correr… Não tinha dinheiro nenhum. O espectáculo, chamado de “teatro pobre” (que de pobre não tem nada), era de montagem fácil: cenário e figurinos quase inexistentes (risos). E acabou por ser um sucesso, que tem também divulgado imenso a Companhia pelo país todo. Ou seja, o Shakespeare é de facto um grande dramaturgo e comercial (risos): tem sustentado todas as obras, todos os outros espectáculos que tenho feito nesta companhia. Shakespeare ainda continua a ser o grande motor da literatura.

RDB - Falou da questão da montagem da peça como factor de sucesso - que permite tanta mobilidade. Quais foram os outros factores?

JG - Shakespeare! E o facto de ter 3 actores fantásticos: o Simão (Rubim), o Manuel Mendes, o João Nuno Carracedo… Mas o grande mestre é o Shakespeare. Dá para tudo. E há qualquer coisa de enigmático ou de mágico na palavra de William Shakespeare.

RDB - As pessoas também têm tendência a gostar mais de comédias?

JG - A comédia sempre foi o género mais popular de sempre, o próprio Shakespeare o sabia, escreveu 16 comédias e tragédias só escreveu 10. Ou seja, ele sabia que a comédia é sempre o género mais popular.

A comédia é criticar o poder, é criticar os costumes, é descontrair… por isso as pessoas gostam. E mesmo nas tragédias, o Shakespeare tem cenas cómicas para cativar o público. As comédias sempre foram e serão o género mais popular. Como o Mário Viegas era um actor cómico por excelência e gostava muito de fazer comédias, nada melhor do que orientar uma companhia de teatro popular para as comédias.

RDB - Passados 12 anos, que agora permitem uma boa avaliação olhando para trás, mudaria algo na peça?

JG - Nada! Já nem o saberia fazer… porque é tão simples… acho que a minha cabeça já está demasiado complicada (risos)! A peça tem a ingenuidade de quem começa a encenar (na altura era a minha segunda encenação). E isso é que é o grande truque do espectáculo!

Os ingleses não fazem assim, de maneira nenhuma, fazem em 97 minutos – hora e meia, tiro e queda, com guarda-roupa fantástico, com cenário fantástico… Eu não faço nada daquilo, o cenário está a cair às três pancadas, os figurinos são sacos de batatas. E não tem hora e meia, tem quase 3 (risos).

RDB - Há pessoas que voltam a ver a peça… que é sempre diferente! Como é essa re-invenção?

JG - Há sempre uma margem de improviso. E que depende muito do público. Há espectáculos em que o público é óptimo e puxa pelos actores, é inteligente! E percebemos que o espectáculo começa a crescer. Mas o público nao é sempre o mesmo… e depende deles!

RDB - A razão do sucesso da tournée nacional é também o facto de adaptarem a peça a cada região…

JG - Sim, algumas coisas podemos adaptar, mas nem sempre… o motor de sucesso do Shakespeare é o Shakespeare!

RDB - A reacção do público não é muito diferente de local para local?

JG - Não, mas há pessoas que se chateiam (risos). Desde pessoas que ficam furiosas, insultam-nos, chamam-nos nomes… há pessoas que adoram, que já viram 10 vezes “As obras completas …”, já temos clube de fãs! Há pessoas que já vieram ver, casaram e trouxeram os filhos (risos)! E isto acontece na Companhia! Uma coisa fantástica! Como já houve pedidos de casamento durante o espectáculo… já aconteceu de tudo (risos)! Desde um padre a levantar-se, um senhor a insultar-nos… É assim. É um espectáculo vivo!i

COMPANHIA TEATRAL DO CHIADO - 18 ANOS DE RELAÇÃO COM O PÚBLICO

RDB - Estava a falar na questão dos autores ingleses. Nestes 18 anos da CTC, a escolha recai maioritariamente em autores anglo-saxónicos. Porquê?

JG - Sim, mas também tenho feito autores nórdicos, tenho feito (Henrik) Ibsen, (August) Strinberg… mas mais recentemente tenho feito os ingleses. Principalmente por uma coisa: porque eles têm uma grande tradição e escola de escrita teatral – é a terra do Shakespeare - e têm grandes peças. Tenho - a CTC - “A Arte do Crime”, que é uma peça do ponto de vista de estrutura perfeita. Através das palavras ele consegue cativar o público durante duas horas. Os ingleses quando são bons, são perfeitos a construir. O teatro faz parte dos ingleses… uma coisa que em Portugal ainda não acontece… eles vão ao teatro como quem vai ao cinema.

RDB - Essa é a minha próxima questão. Falava que em Portugal não existia a cultura do teatro: é essa a razão para não escolher autores portugueses?

JG - Não… Em Portugal temos geralmente é uma grande tradição de comédia e de actores cómicos… os grandes actores que ficam normalmente são cómicos, Laura Alves, Beatriz costa, Mirita Casimiro, Vasco Santana, Ribeirinho, Mário Viegas, etc… Os grandes actores são sempre cómicos e faziam grandes comédias. A grande tradição é de facto de actores de comédia…

Vou ser sincero… nós não temos uma grande escrita a nível de escola de dramaturgia. Temos o Garrett… mas grandes peças do ponto de vista de escrita não há. Temos grandes poetas, muitos, são tantos que a gente nem fixa (risos). Mas a nível de construção de peças não temos.

RDB - Falando exactamente do público: a CTC e o próprio Juvenal dizem que o público é vosso grande patrocinador. O que distingue esta companhia das outras em Portugal para ter tanto sucesso junto do público e não precisar dos apoios?

JG - Nós não fazemos teatro à espera do subsídio! O meu sonho - e que neste momento já realizo - é o teatro sem subsídios… temos pequenas ajudas, da Câmara (de Lisboa)… que nos cede o espaço, a água e luz… mas o meu sonho é fazer de facto um teatro verdadeiramente independente, que não dependesse do Estado! Já faço, mas acho que o teatro deveria depender mais do público! Os portugueses ainda continuam a pensar que se não houver subsídio, não há teatro… e isso é completamente errado! As pessoas têm que arriscar, e isso é o que nos distingue das outras companhias. Aliás, deixei de pedir subsídios, são todos viciados, é uma pescadinha de rabo na boca… as companhias têm milhares de euros e acabam por fazer 3 espectáculos, com 30 representações cada um: ou seja, fazem 90 representações - o exigido pelo ministério - se pensarmos que o ano tem 365 dias, o que fazem nos restantes? O teatro tem por obrigação estar aberto todos os dias e esse é o meu objectivo! Aliás, neste momento temos peças a mais. Uma no auditório Carlos Paredes, a Biblia (A Bíblia: Toda a Palavra de Deus) e temos uma peça infantil na escola São João de Brito. Aqui, o Teatro Mário Viegas tem de estar aberto todos os dias: é um espaço municipal, temos de dar espectáculos às pessoas, elas têm o direito, como qualquer capital europeia civilizada, de sair à noite e se lhes apetece ir ao teatro, este estar aberto. O que não acontece em Portugal! São poucos os teatros que fazem isso…

RDB - A tal questão da gestão e da arte estarem de costas voltadas tem de mudar?

JG - Claro, claro. Se formos a ver quanto custa ao herário público - que são as pessoas coitadas que andam a pagar - quanto custa cada cadeira ao Estado … é um terror! Quando sabemos que em Portugal há pessoas que vivem com 300 euros e famílias com 600 e têm de alimentar filhos… acho que isto é um desperdício e um privilégio que ninguém deve ter.

RDB - Como é a relação da CTC com as outras companhias portuguesas?

JG - Temos pouco, aliás não há, está tudo estragado… como não fazemos parte dos subsídios, não vamos… não estamos mesmo…

RDB - No entanto a companhia é aberta a outras iniciativas?

JG - Sim, já tivemos, mas tenho um problema aqui na sala - tem apenas 100 lugares - apesar de não fazer teatro com objectivos comerciais, atenção… mas esta sala é muito pequena! Um dia gostava de voltar a fazer programas - que já fiz - mas isso teria de ter pelo menos outra sala com 200 lugares. Muitas vezes temos de fazer tournées para poder pagar o Teatro Mário Viegas, ou seja, a estrutura toda que está aqui criada, actores, produção, meninas da bilheteira, a senhora que vem limpar os camarins… há toda uma estrutura que o próprio Teatro Mário Viegas não tem cadeiras para pagar, então de vez em quando fazemos tournées.

RDB - Vamos mudar um pouco de assunto e falar dos 18 anos da companhia. No início, em 1990, o Juvenal e o Mário Viegas pensavam neste sucesso e longevidade?

JG - Não, não pensávamos. Nem no desfecho que iria ser. Nem o Mário nem eu sabíamos fazer outra coisa. E depois como éramos muito amigos, pensámos porque não haveríamos de fazer uma companhia. Mas não foi com um objectivo de muito sucesso… foi para nos divertirmos, para fazer teatro (risos).

RDB - Mas agora o discurso muda um pouco, já fala na questão comercial, no sustento da estrutura…

JG - Claro, porque tenho responsabilidades; além de ser director do Teatro Mário Viegas, sou encenador, sou director da empresa e sou sócio maioritário, e tenho pessoas a quem tenho de pagar ordenado, porque têm filhos, têm de pagar a renda, a água e luz… tenho responsabilidades sobre isso e não posso chegar ao final do mês e dizer que não tenho dinheiro para lhes pagar!

RDB - Mas não é também um dever público? Mostrar o teatro e a CTC ao resto do país, através das tournées?

JG - Exactamente! E para ganhar dinheiro para poder pagar aos actores e às pessoas que aqui trabalham!

RDB - Falando agora do Mário Viegas… 13 anos depois da sua morte, ainda sente a sua influência na direcção do Teatro?

JG - Sempre, sempre! Eu já tenho uma certa maturidade, mas claro que sou uma espécie de produto do Mário, porque tinha 18 anos quando o conheci e ele tinha 30 e muitos. Obviamente que o Mário também se inspirou em algumas coisas que eu tinha como jovem e vice-versa. Mas a minha educação e o meu gosto teatral foram muito influenciados por ele… mas eu também já tinha isso, porque o actor que eu mais gostava era já o Mário Viegas (risos)! Era a pessoa de quem eu mais gostava, a maneira de estar no teatro e na vida, que eu mais me identificava… Antes de o conhecer, de o ver… já havia uma cumplicidade de gostos e maneira de estar!

RDB - Olhando para o passado… Nestes 18 anos e há 14 que dirige o teatro, alguma coisa que mudaria?

JG - Fazem-se erros. Disparates. Já tenho 47 anos e uma certa maturidade para dizer que fiz alguns erros e que não os voltaria a fazer. O que é natural. Mas a maior parte das coisas não mudaria.

RDB - E nestes 18 anos, gostaria de destacar um ponto positivo, um ponto negativo e uma surpresa na história da CTC? Apesar de ser complicado fazer este tipo de avaliação numa carreira tão longa.

JG - Positivo, a fundação da Companhia e a minha estreia como encenador. Triste, a morte do Mário Viegas.
A surpresa, “As Obras Completas de Shakespeare em 97 minutos”. Estávamos tão mal, tão mal de dinheiro que foi uma surpresa. E toda a gente dizia que iria apenas durar 3 meses! Aquilo é uma espécie de ad eternum… há mais 10 milhões de portugueses que ainda querem ver (risos)! O Shakespeare é um marco na companhia e no teatro português! Acho que não há nenhum espectáculo que tenha 12 anos em cena!

RDB - E planos futuros?

JG - Quero continuar a fazer teatro, a divertir-me, principalmente com os meus amigos e actores que gosto. E mais nada! Fazer teatro e viver minimamente bem.
Entrevista retirada do site: Rua De Baixo

terça-feira, janeiro 13, 2009

sexta-feira, dezembro 05, 2008

A Arte do Crime

(Clique na imagem para ler)
Jornal "Público", 05 de Dezembro de 2008

A Arte do Crime




Interpretação: Emanuel Arada, Simão Rubim, Vanessa Agapito
Encenação: Juvenal Garcês
Tradução: Célia Mendes
Revisão: Gustavo Rubim
Dramaturgia: Gustavo Rubim
Adaptação: Gustavo Rubim
Cenografia: Ana Brum
Execução Cenográfica: EPC - Empresa Portuguesa de Cenários
Figurinos: Ana Brum
Desenho de Luz: Vasco Letria
Sonoplastia: Sérgio Silva
Assistência de Encenação: Luciano Cavaco
Contra-Regra: João Marta
Produção: Companhia Teatral do Chiado
Direcção de Produção: Luís Macedo
Marketing e Comunicação: Nuno Santos
Responsável de Bilheteira: Bruno Monteiro
Bilheteira: Cátia João, Mafalda Melo
Gestão de conteúdos da página na internet: Bruno Monteiro

Local: Teatro-Estúdio Mário Viegas
Em cena de 2008-11-27 a 2008-12-30
Horário: Quintas, Sextas e Sábados, às 21 horas
Bilhetes à venda também em TicketLine ou nos CTT Online
Classificação: M/16

Uma Inquietante Experiência Teatral
Um Triller que o vai prender até ao fim!

domingo, novembro 30, 2008

As Vampiras Lésbicas de Sodoma

Para ver aos Domingos, no Teatro-Estúdio Mário Viegas, pela Companhia Teatral do Chiado, às 21 h.

sexta-feira, novembro 28, 2008

A Arte do Crime - O bom Teatro na CTC


A Companhia Teatral do Chiado estreou ontem, dia 27 de Novembro, a nova peça de teatro - A Arte do Crime (The Business of Murder), original de Richard Harris, com encenação de Juvenal Garcês e representação de Emanuel Arada, Vanessa Agapito e Simão Rubim.

Trata-se de um texto policial de enredo inteligente, recheado de surpresas, humor, alguma violência e muito, muito suspense. No cerne do enredo, estão o crime e a manipulação - manipulação de vidas, de mortes, de pessoas e de histórias.

O assassino - homicida do físico ou do psicológico - qualquer uma das personagens o poderá ser.

Katy Lewis, da BBC, descreve deliciosamente o que se passa em palco e na plateia, enquanto se assiste à Arte do Crime: “The Business of Murder has so many twists, you'd think you were at a Chubby Checker concert, and by the time you've waited for all to be revealed, you really are gagging for the answer! As it reached its climax I just wanted to scream at them - "alright, just get on with it! WHAT'S GOING TO HAPPEN!"
Earlier in the evening as more and more intricacies were revealed, I began to wonder if I really cared, but of course I did. That's the thing about thrillers, you have to see them out, however long it takes! But as soon as things start to fit together and what you have seen earlier relates to something later, you begin to feel that sinister chill and you're hooked!”

A encenação de Juvenal Garcês é perfeita. Tudo tem um sentido, imediato ou não. Não existe nada de supérfluo. Nada está fora do sítio.
Juvenal Garcês montou uma autêntica montanha-russa de emoções e sentimentos. Num segundo estamos a rir como no momento imediato um nó na garganta corta-nos o ar; num momento temos comiseração pelo Sr. Rocha [Emanuel Arada] como no segundo imediato odiamo-lo.

E a música… sempre com o belíssimo gosto musical, apanágio e toque de génio das encenações de Juvenal Garcês.

Emanuel Arada tem uma estreia em grande na Companhia Teatral do Chiado. A personagem é sólida, convincente e muito bem construída. Temos actor.
Com preciosos momentos de humor e insuportáveis [porque muito bem representados] momentos de maldade e sadismo, de crueldade e ódio.
A personagem de Emanuel Arada é o principal condutor da trama, que cresce do humor ao ódio e nós, espectadores, crescemos com ele. Confesso que, mesmo depois de muito pensar, não sei que sentimento nutro pelo sr. Rocha.

Vanessa Agapito é a mulher da peça. A personagem, uma dinâmica e criativa autora de produtos policiais para a televisão, é uma amante de vodkas e analgésicos e de policias. É também uma belíssima mulher e uma extraordinária actriz.
Diana Galvão [personagem de Vanessa Agapito] é uma mulher segura que acaba desesperada, alcoolizada, aterrorizada com tudo o que se passa à sua volta. E com óptimas tiradas de humor, verbais ou de expressão.
Vanessa Agapito constrói a sua personagem de forma precisa e é extraordinária a maneira como, subtil e quase imperceptivelmente, vamos assistindo ao ruir de uma pessoa segura e forte, ao descontrolo total de emoções. Bravo Vanessa.

Simão Rubim, que representa o Inspector-Chefe Vasco Machado, tem uma personagem complexa. A personagem de Simão Rubim vive tanto da fala como das expressões. É exigente. É das melhores personagens que alguma vez vi representadas por Simão Rubim.
Policia cínico, prepotente, de sentido de humor aguçado, quase sem sentimentos. É o “policia de estimação” de Diana Galvão. Violento e traidor. Mas muito, muito inteligente.
Simão Rubim demonstra toda a sua perícia e experiência em palco. Constrói uma personagem altamente credível, humana de tão desumana que é, perverso com a situação envolvente. E nós somos levados por ele, chegamos a ter pena dele. No fim, o feitiço vira-se contra o feiticeiro - ou será o contrário?

Esta é uma peça onde todos os sentimentos são aflorados. Do melhor ao pior. Vamos do riso ao choro. Do medo ao medo.

O desenho de luzes de Vasco Letria, a cenografia e os figurinos de Ana Brum, a tradução de Célia Mendes e a revisão, adaptação e dramaturgia de Gustavo Rubim são também responsáveis pelo espectáculo mais que perfeito estreado ontem no Teatro-Estúdio Mário Viegas.

Não deixe de ver este policial, de 5ª a Sábado, pelas 21 h., no Teatro-Estúdio Mário Viegas, em Lisboa.

O bom Teatro está no Chiado… seja cúmplice de um crime perfeito (ou será de um suicídio perfeito?).

domingo, novembro 23, 2008

12 Anos das Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos




Há fenómenos extraordinários que não se explicam... ou talvez se possam. Este de que vos irei falar talvez se consiga.

Falo-vos da comemoração dos 12 anos em cartaz da peça de teatro As Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos, em cena desde então no Teatro Estúdio Mário Viegas, em Lisboa. Trata-se do maior sucesso teatral de sempre em Portugal, em longevidade, digressões e público.

Como é que uma peça de teatro consegue manter, durante tanto tempo, o interesse do público, mantendo a frescura, a surpresa e a saudável "loucura", criando este enorme êxito?

Em primeiro lugar, o nome da peça. William Shakespeare é um nome por todos reconhecido mesmo para aqueles que julgam que Gil Vicente é apenas um clube de futebol. E ainda por cima, em 97 minutos, vêem-se as peças todas. E é assaz sabido que o português gosta disso. Despachar tudo no menor tempo possível. Afinal de contas, quantos de nós lerem realmente os Os Lusíadas de Camões ou os Maias do Eça de uma ponta a outra? Muito poucos eu diria. Quem teve de ler na escola estes dois "calhamaços" fê-lo com toda a certeza pelos livrinhos fininhos de capa amarela e preta da Europa-América que resume tudo e ainda nos dá umas dicas de resposta para qualquer pergunta saida num exame. Tudo no menor esforço.

Depois, claro está, o sucesso da peça deve-se a Juvenal Garcês. Homem de teatro no sangue, fundou com Mário Viegas a Companhia Teatral do Chiado sendo esta peça a melhor homenagem ao maior actor do Teatro português do século XX. Inteligente, cómica e conta com a ajuda do público. Público esse que Mário Viegas respeitava e para quem trabalhava.

Em terceiro lugar, o sucesso deve-se à sua estrutura simples. Duas entradas (e saídas) e três actores em palco que, num ritmo estonteante e figurinos diversos, transportam-nos para as diversas personagens criadas por William Shakespeare. Falas dos próprios textos de Shakespeare, improvisos e referências actuais, vão fazendo o "up-grade" na estrutura textual da peça e aproximam o novo público à mesma.

Mas como não há teatro sem actores, cabe talvez a estes a maior responsabilidade do sucesso dos 12 anos desta peça. Nestes 12 anos, as Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos contaram já com 4 elencos diferentes (neste momento tem o elenco original com que estrearam a peça em Portimão, no Algarve) mas um manteve-se estoicamente desde a primeira representação até à actual. Refiro-me a Simão Rubim, rosto mais visível e reconhecível deste enorme sucesso. O homem das mulheres desta peça.

Estou convencido que a ele se devem, pelo menos, 6 anos dos 12 em que a peça se mantém em representação. Actor versátil, dinâmico, inteligente e imprevisível, mostra durante toda a representação a alegria que é o Teatro, mantendo a critica social e política acessa, especialmente qando chega o momento do seu stand-up comedy - trinta minutos bónus de teatro em que toma conta do palco, agiganta-se e leva o público a uma viagem inesquecível ao Portugal "dos pequeninos" fazendo, com a maior inteligência, a crítica mordaz ao mundo político, económico, social, cultural e religioso do nosso país. À boa maneira, aliás, do seu primeiro Mestre - Mário Viegas.

Estes são, para mim, os 4 factores principais que justificam o êxito desta peça. Ou talvez não sejam sequer estes. Não importa. O que interessa é que esta foi mais uma aposta ganha para a Companhia Teatral do Chiado, os seus actuais directores, actores, técnicos de som e luz, cenografos, figurinistas, produtores e, acima de tudo, a prova de que o público português não dorme e ainda consegue, como noutros tempos, separar o "trigo do joio".

A todos os meus mais sinceros parabéns e o meu infinito obrigado.

sexta-feira, maio 30, 2008

Videos de Entrega dos Prémios Guia dos Teatros ás Vampiras Lésbicas de Sodoma


Juvenal Garcês recebe o prémio de Melhor Peça de Teatro 2007

Simão Rubim recebe o prémio de Melhor Actor de teatro 2007