sexta-feira, novembro 28, 2008

A Arte do Crime - O bom Teatro na CTC


A Companhia Teatral do Chiado estreou ontem, dia 27 de Novembro, a nova peça de teatro - A Arte do Crime (The Business of Murder), original de Richard Harris, com encenação de Juvenal Garcês e representação de Emanuel Arada, Vanessa Agapito e Simão Rubim.

Trata-se de um texto policial de enredo inteligente, recheado de surpresas, humor, alguma violência e muito, muito suspense. No cerne do enredo, estão o crime e a manipulação - manipulação de vidas, de mortes, de pessoas e de histórias.

O assassino - homicida do físico ou do psicológico - qualquer uma das personagens o poderá ser.

Katy Lewis, da BBC, descreve deliciosamente o que se passa em palco e na plateia, enquanto se assiste à Arte do Crime: “The Business of Murder has so many twists, you'd think you were at a Chubby Checker concert, and by the time you've waited for all to be revealed, you really are gagging for the answer! As it reached its climax I just wanted to scream at them - "alright, just get on with it! WHAT'S GOING TO HAPPEN!"
Earlier in the evening as more and more intricacies were revealed, I began to wonder if I really cared, but of course I did. That's the thing about thrillers, you have to see them out, however long it takes! But as soon as things start to fit together and what you have seen earlier relates to something later, you begin to feel that sinister chill and you're hooked!”

A encenação de Juvenal Garcês é perfeita. Tudo tem um sentido, imediato ou não. Não existe nada de supérfluo. Nada está fora do sítio.
Juvenal Garcês montou uma autêntica montanha-russa de emoções e sentimentos. Num segundo estamos a rir como no momento imediato um nó na garganta corta-nos o ar; num momento temos comiseração pelo Sr. Rocha [Emanuel Arada] como no segundo imediato odiamo-lo.

E a música… sempre com o belíssimo gosto musical, apanágio e toque de génio das encenações de Juvenal Garcês.

Emanuel Arada tem uma estreia em grande na Companhia Teatral do Chiado. A personagem é sólida, convincente e muito bem construída. Temos actor.
Com preciosos momentos de humor e insuportáveis [porque muito bem representados] momentos de maldade e sadismo, de crueldade e ódio.
A personagem de Emanuel Arada é o principal condutor da trama, que cresce do humor ao ódio e nós, espectadores, crescemos com ele. Confesso que, mesmo depois de muito pensar, não sei que sentimento nutro pelo sr. Rocha.

Vanessa Agapito é a mulher da peça. A personagem, uma dinâmica e criativa autora de produtos policiais para a televisão, é uma amante de vodkas e analgésicos e de policias. É também uma belíssima mulher e uma extraordinária actriz.
Diana Galvão [personagem de Vanessa Agapito] é uma mulher segura que acaba desesperada, alcoolizada, aterrorizada com tudo o que se passa à sua volta. E com óptimas tiradas de humor, verbais ou de expressão.
Vanessa Agapito constrói a sua personagem de forma precisa e é extraordinária a maneira como, subtil e quase imperceptivelmente, vamos assistindo ao ruir de uma pessoa segura e forte, ao descontrolo total de emoções. Bravo Vanessa.

Simão Rubim, que representa o Inspector-Chefe Vasco Machado, tem uma personagem complexa. A personagem de Simão Rubim vive tanto da fala como das expressões. É exigente. É das melhores personagens que alguma vez vi representadas por Simão Rubim.
Policia cínico, prepotente, de sentido de humor aguçado, quase sem sentimentos. É o “policia de estimação” de Diana Galvão. Violento e traidor. Mas muito, muito inteligente.
Simão Rubim demonstra toda a sua perícia e experiência em palco. Constrói uma personagem altamente credível, humana de tão desumana que é, perverso com a situação envolvente. E nós somos levados por ele, chegamos a ter pena dele. No fim, o feitiço vira-se contra o feiticeiro - ou será o contrário?

Esta é uma peça onde todos os sentimentos são aflorados. Do melhor ao pior. Vamos do riso ao choro. Do medo ao medo.

O desenho de luzes de Vasco Letria, a cenografia e os figurinos de Ana Brum, a tradução de Célia Mendes e a revisão, adaptação e dramaturgia de Gustavo Rubim são também responsáveis pelo espectáculo mais que perfeito estreado ontem no Teatro-Estúdio Mário Viegas.

Não deixe de ver este policial, de 5ª a Sábado, pelas 21 h., no Teatro-Estúdio Mário Viegas, em Lisboa.

O bom Teatro está no Chiado… seja cúmplice de um crime perfeito (ou será de um suicídio perfeito?).

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