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terça-feira, maio 13, 2014
quarta-feira, abril 23, 2014
Tias destas é que é...
"Em
seguida disse a doadora tia do esposado Mar – g digo esposado Maria
d’Almeida que também pelo gosto que tem em que se verifique o casamento
do dito seu sobrinho de que aqui se tracta para o caso d’elle se
effectuar, d’esde já lhe dá todos os seus bens, direitos e acções, com
transferencia do domínio e posse, reservando em quanto
viva todo o usufruto d’elles, e sessenta mil reis para dispor ou dotar
em dias de sua vida dos quais não dispondo ficarão para o dado seu
sobrinho, ficando de mais a mais elle dito seu sobrinho a dar-lhe em
quanto viva, em cada um anno, quarenta alqueires de milho, vinte almudes
de vinho, três alqueires de feijões, quinze quartilhos de azeite, a
metade de um porco cevado e a casa nova que foi da forneira, para viver e
de mais a mais a mandar-lhe fazer o seu funeral a bem d’alma conforme o
uso de sua freguesia e qualidade de sua pessoa e de lhe mandar dizer
pela sua alma cento e trinta missas, cinco pelas penitencias mal
cumpridas, vinte pelas almas de seus pais, duas ao anjo da guarda e de
dar a cada uma de suas sobrinhas – Barbara, Maria e Margarida vinte mil
reis, a seu sobrinho António dez mil reis, a seu sobrinho José cinco mil
reis, isto porem por morte d’ella doadora, e no caso em que o dito
doado seu sobrinho, de todos os bens direitos e acções p’ella doadora, e
também no caso de amar e estimar, pois que se lhe fizer má estimação ou
sua futura esposa nada valera, a doação que aqui lhe faz e ella doadora
poderá dispor de seus bens a quem melhor lhe parecer, por quanto disse
ella doadora que só no complemento total d’estas condições e que se
obriga a fazer a presente doação boa e de paz [?] [?] declara que todos
os bens que doa os houve por herança de seus pais."
Transcrição minha e por isso passível de não ser nada disto o que lá está
segunda-feira, julho 01, 2013
Sobre a Avó Eduarda (Dadinha para os amigos)
A minha Avó nasceu em 1925. Morreu em 2013, pouco
menos de um mês antes de completar 88 anos.
Viveu uma vida feliz, apesar dos dissabores que
numa existência em pleno são inevitáveis.
Nasceu no seio de uma família grande, privilegiada
(a pulso, pelo Bisavô João), de refinada inteligência e humor. E partiu rodeada
de uma família igualmente grande (dois filhos, um genro, seis netos, seis
bisnetos e um número que já não sei contar de sobrinhos).
Escrever sobre a Avó não é tarefa fácil. É, garanto,
sempre uma tarefa inacabada. As valências da sua pessoa são inúmeras, tanto há
a salientar.
A par da inteligência, a “liberdade” foi aquilo
que sempre me fascinou na Avó. A liberdade de escolher, de se adaptar, de se
actualizar sempre, aceitando sempre, com uma enorme dignidade, cada novo
desafio da vida: a viuvez, o desaparecimento precoce de todos os irmãos, um
filho que, como tantos outros, foi à guerra e voltou, para depois de novo se
ausentar para o outro lado do mundo, a mudança política e social em Portugal
(que eu sei que a Avó abraçou e gostou - nos seus últimos meses de vida, e por
diversas vezes, “deixou escapar” alguns comentários críticos à situação pré-25
de Abril).
Mais do que tudo, a Avó acompanhou, reflexiva e
inteligentemente, a modernidade dos tempos. E sempre com uma elegância e uma
postura como, desculpem-me a exclusão definitiva, nunca vi em mais ninguém. E
foi assim na vida como na morte.
A Avó nunca viveu refugiada nos apelidos de
nascença (que eram muitos), nem de vidas que já passaram e que não foram a sua.
Construiu solidamente a sua biografia pelas acções que praticou. Nunca parou. O
futuro, e nunca o passado, foi a sua vida. Olhou o primeiro de frente e do
passado queria apenas as histórias, lembranças e recordações do que viveu mas nunca
a ele ficou presa.
Ela própria o diz numa carta enviada a uma
sobrinha em 2003, referindo-se à família, para ela tão importante e da qual ela
própria foi um importante pilar:
“Enquanto nós existirmos,
as pessoas que amamos não morreram, porque vivem sempre na nossa lembrança e no
nosso coração. Vamos recordá-las sempre com muita saudade, mas sem tristeza.
Temos tantas coisas, tantos momentos, tantas lembranças tão boas nas nossas
memórias, que é isso que devemos sempre conservar como um bem precioso. Temos
de nos sentir felizes com a Família que Deus nos deu. Com os que já partiram e
com todos os que temos junto de nós.”
E isto tanto servia para a
família como para os amigos. A Avó sempre cultivou grandemente as amizades. E
tinha-as de longuíssima data. Não dispensava, fizesse Sol ou chuva, o chá
semanal na Avenida de Roma com as colegas do Colégio.
Culturalmente, a Avó
mantinha-se constantemente actualizada. Tantas vezes fui com ela ao Teatro, ao
Cinema e a Exposições. Lembro-me, desde miúdo, de com ela conhecer a Gulbenkian
como as minhas mãos. Levou-me ao Museu Grão Vasco. O ex-libris terá sido o
Museu de Cera de Fátima… muito nos rimos. Falava-me de música, dos seus tempos
no Conservatório Nacional de Música. Recordava comigo as grandes peças de
Teatro que vira, os Bailados que assistiu, as Óperas.
Exercitava constantemente
a memória e a inteligência.
Devorava palavras cruzadas
(dava-as como álibi para comprar a revista Caras e outras).
Lia imenso e sempre com
sentido crítico. E era tão bom ver o entusiasmo com que falava quando encontrava
um novo – no sentido de desconhecido - autor que havia gostado. O último,
penso, terá sido Rentes de Carvalho. O livro chamava-se “Ernestina”. Ofereci-o
porque este era o nome de um cozinheira que tivera durante anos em sua casa.
Uma figura que todos estimámos.
Mas para verem o quanto
era importante a literatura para a Avó, aqui fica mais um excerto, desta feita
de um postal de aniversário que me enviou em 2007:
“À tarde, está calor e ficamos em casa. Leio 3
livros ao mesmo tempo. Levanto-me cedo e venho ler a Divina Comédia - o Inferno
de Dante. É terrível e morro de medo. À tarde, para amenizar, leio as Cartas de
Inglaterra do Eça e à noite não dispenso um policial. Assim se vai passando o
tempo.”
Construiu assim uma grande biblioteca. Foi, aliás,
a última grande obra que realizou na casa das Eiras. Mandou fazer, onde outrora
funcionava a sala de refeições dos criados, uma biblioteca. A sua biblioteca.
Falar da Avó é, também, falar do Avô Manuel. Eram
perfeitos um para o outro. Havia igualdade entre ambos e não se permitiam a
fretes. Se um queria ir para a esquerda e o outro para a direita, assim era e
encontrar-se-iam, de novo, mais à frente.
O Avô mimava-a constantemente. Com palavras, actos
e nenhumas omissões. Tinham ambos uma inteligência forte e um sentido de humor
apurado que se completavam. E nos longos meses da doença terminal do Avô a Avó
foi uma heroína, até à exaustão física. Um exemplo. Mas era-o sempre perante a
adversidade. Era seguro que encontraríamos nela um baluarte.
O Natal era, nunca lhe perguntei mas adivinha-se,
a época favorita. Primeiro os passados na sua casa de infância, em Passos de
Carvalhais, e por fim os passados na casa das Eiras que ela organizava e
esmerava-se sempre.
Tudo profusamente iluminado e decorado. A lareira
acesa. Por cima desta um presépio grande, com musgo verdadeiro, que a Avó
sempre se ria e chamava a atenção para elementos “menos próprios” que nele
habitavam: desde camelos decapitados, a uma confusa banda de música, um mocho
de olhos esbugalhados, entre outras. O pinheiro, sempre verdadeiro, era cortada
de alguma das suas matas.
Normalmente raquítico, com meia dúzia de agulhas onde se espalhavam as bolas e as fitas de Natal.
Normalmente raquítico, com meia dúzia de agulhas onde se espalhavam as bolas e as fitas de Natal.
Tudo o resto era amor e muita comida. A canja, o bacalhau e o peru. Uma obscena mesa de doces, e taças e tacinhas de frutos secos, bombons de recheio e frutas cristalizadas. Sempre uma noite especial, com muita gente – a Tia e os primos de Vouzela, os meus irmãos, os meus pais, os caseiros da quinta e quem mais que aparecesse. A mesa de camilha com a braseira ligada (a lareira era mais decorativa que calorifica).
Haviam duas coisas que fascinavam a Avó: o Mar e
as searas alentejanas (como somos diferentes até nisso!). Terá percorrido Portugal
de lés a lés com o Avó… mas era sempre o Mar e as searas que lhe davam
tranquilidade.
Tinha Espinho no coração. Era a praia de toda uma
vida. E tantas histórias me contou. Foi lá, no Casino, que o Bisavó João – para
grande escândalo de alguns presentes – a
levou para provar, pela primeira vez, vodka… a pedido da Avó (lembro-me de vê-la
a beber caipirinha quando existia uma espécie de restaurante italiano em Santa
Cruz da Trapa, há muitos anos).
Ouvi-la a contar as histórias das viagens de São
Pedro do Sul para Espinho no célebre Vouguinha era de chorar a rir. Era todo um
cerimonial e muitas horas de viagem. Aliás, histórias com comboios tinha
muitas. Um atentado à bomba e um descarrilamento. Um deles foi sério. Foi
parar, era noite escura, a um campo de milho.
Fico-me, para já, por aqui. São muitas as coisas
que vêm à cabeça, tantas que se atropelam umas às outras e dificultam a
escrita. Mais tarde, outro dia, voltarei a escrever.
Fica uma espécie de apresentação, que é de
saudade, de amor e de falta. A vida ainda se está a reorganizar, a preencher os
vazios da ausência. Foram anos e anos com um ritmo presente sempre certo. Agora
não há os almoços de Terça e Quinta-feira. Agora não há os jantares aos
Sábados. Vamos lá ver os Natais.
Para já, ainda não me adaptei.
segunda-feira, março 25, 2013
terça-feira, março 12, 2013
Caricatura de António de Oliveira Salazar
De entre as coisas encontradas nas gavetas da minha querida Avó Eduarda, aqui fica aquela que mais gostei. Uma caricatura de Salazar feita por Helena Varela, grande amiga de minha Avó e mulher de Antunes Varela, ilustre jurista português e antigo Ministro da Justiça.
Helena Varela e a Dadinha (a minha Avó Eduarda)
Antunes Varela numa festa organizada pela minha Avó Eduarda na sua casa de Santa Cruz da Trapa
sábado, agosto 18, 2012
Postais da I Grande Guerra Mundial
Berguette, França, 21 de Fevereiro de 1919
Exma Senhora
Agradeço-vos muito o vosso postal de 13 do corrente. Fiquei bastante satisfeito em saber que não foram incomodadas com a revolta dos trauliteiros que, como dizem os jornais, espancáram covardemente muitos Republicanos. Esses bandidos, só à traição, é que se atrevem a atacar os defensores da Liberdade! Por causa desses covardes, ainda eu e os meus camaradas, não podemos embarcar este mês para Portugal poisque, os barcos em que nós haviamos de embarcar, tiveram que ser utilizados noutros serviços mais urgentes. Agora dizem que que embarcamos no dia 22 de Março.
Recebam um sincero e fraternal abraço do vosso sincero admirador
Anastácio J[osé] Santos [Republicanos fervoroso, de Viseu, fundador do jornal O Trabalho]
sábado, agosto 11, 2012
segunda-feira, abril 30, 2012
Rua Frei Tomé de Jesus
A Rua Frei Tomé de Jesus era uma
das minhas ruas. Só tinha um sentido. Descendente. Adivinhava-se que ao chegar
ao fim não se podia fazer meia-volta e recomeçar. E cheguei ao fim. Não houve
volta a dar.
Na Rua Frei Tomé de Jesus havia
uma casa, num prédio, diferente de todas as outras. Era uma casa de amor, de
reunião, de cheiros e sabores.
Na casa da Rua Frei Tomé de
Jesus, havia um móvel com bolachas em latas antigas, marmelada tapada com pano
de linho, bolos caseiros em pratos redondos. Numa gaveta, entre panos e
paninhos, estavam os caramelos. E um pano verde de mesa de jogo.
Naquela casa, com uma longa
varanda, havia uma mesa de camilha. Nela, entre dois cadeirões, lanchava-se, jogavam-se
cartas e escrevinhavam-se cartas. Naquela mesa, de camilha, fumava-se um
cigarro e bebiam-se licores. Naquela mesa, de camilha, haviam rituais e lugares
marcados.
Nas traseiras da Rua Frei Tomé de
Jesus, ficava a cozinha daquela casa. Fabricavam-se sabores, prazeres, cheiros.
Ouviam-se os cães, chatos, a ladrar. Havia passarinhos que iam ao beiral comer
arroz. Um relógio de cuco que não “cucava”. Havia amor.
Na sala de jantar da casa na Rua
Frei Tomé de Jesus havia uma mesa grande, para muitos. Homens à cabeceira, os
restantes sentavam-se nos lados. Tinham-se conversas, festas de aniversário,
política, memórias, risos e gargalhadas. E discussões. Os pratos eram brancos
com rebordo alaranjado, os copos com pé-baixo. Cadeiras de costas altas
forradas a tecido bordado. E corações cheios de cuidados.
Na Rua Frei Tomé de Jesus havia
uma casa onde se nasceu e morreu. Onde se cresceu e se formaram memórias. Dias,
semanas, meses, anos, décadas que se viveram. Um centenário que se comemorou.
Uma vida que se fez morte durante a noite e que principiou o fim de outra vida.
A Rua Frei Tomé de Jesus já não é
uma das minhas ruas. Só tinha um sentido. Descendente. E chegou ao fim, sem
retorno. A casa, dizem, lá permanece… Não acredito.
Sei que não está, porque está em
mim.
domingo, abril 22, 2012
domingo, março 18, 2012
Blog de Culinária
Há um novo blog de culinária com as receitas memoráveis da minha Avó Helena. Passe por lá e surpreenda-se com receitas deliciosas - www.asreceitasdaavohelena.blogspot.com
domingo, maio 01, 2011
Poemas à(s) Mãe(s) - Feliz Dia da Mãe
Aqui ficam 5 poemas que falam de "Mães", de 4 Poetas maiores de Portugal - Eugénio de Andrade, António Gedeão, Miguel Torga e Natália Correia.
Da minha parte, homenageio a minha Mãe através das fotografias do vídeo... as palavras, essas, são apenas dos Poetas.
Da minha parte, homenageio a minha Mãe através das fotografias do vídeo... as palavras, essas, são apenas dos Poetas.
Poema à Mãe, de e dito por Eugénio de Andrade
As Mães, de e dito por Eugénio de Andrade
Mãezinha, de António Gedeão, dito por Mário Viegas
Mãe, de e dito por Miguel Torga
Requiem por nossa Mãe, de e dito por Natália Correia
terça-feira, agosto 17, 2010
A actividade Politica do meu Avô Manuel
Teixeira manuel marques
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quarta-feira, maio 26, 2010
Coisas de Pharmácia... Séc. XIX. Maleta de Homeopatia.
terça-feira, dezembro 22, 2009
sexta-feira, junho 12, 2009
Tatuagem

A razão aparentemente mais óbvia para tatuar este perfil de Amália Rodrigues é, claro está, a minha profunda admiração e estima pela pessoa que, e durante décadas ao longo do século XX, levou Portugal ao Mundo. E este ano passam dez anos da sua morte.
Mas há razões menos óbvias.
Eu queria algo com que me identificasse, mas que também me reportasse a outras coisas.
Em primeiro lugar a Portugal. País que amo profundamente e que continuo a acreditar ser capaz de grandes conquistas. No perfil de Amália podemos "ver" o perfil de Portugal.
Depois há os poetas, os escritores. Portugal é, desde as medievais Cantigas Trovadorescas, um dos paises com maiores e melhores tradições literárias do Mundo: D. Afonso V, D. Dinis, D. Duarte, Fernando Esguio, João Garcia de Guilhade, Paio Gomes Charinho, Luis de Camões - entre outros - até aos bem mais conhecidos poetas do séc. XIX e XX. Ora, a todos estes deu Amália a voz, reavivando-os.
Depois, claro está, temos o Fado. Género musical que muito me agrada onde, nos momentos melhores ou menos bons da vida, encontro sempre um reflexo, uma ajuda, um conselho, uma similitude. E é no Fado, e estou bem convicto disso, que se encontra reunida e unificada quase nove séculos (se não mais... ainda mesmo da ocupação árabe da Pensinsula Ibérica) do ser e sentir português. Seja o sentir alegre, de festa, de optimismo e grandeza, seja o sentir melancólico, por vezes triste, de um povo "entalado" entre uma Espanha forte e um mar assustador, sem que nos restasse outra grande alternativa que não fosse a Aventura.
Assim, ao escolher esta imagem, homenageio o Fado e os seus interpretes, músicos e poetas. Ao escolher esta imagem, compilo em mim a História de Portugal.
Esta imagem é também a forma de marcar, para sempre, as recordações de férias passadas em casa dos avós maternos, a quem "roubei" as primeiras cassettes da Amália que ouvi, onde me contaram as primeiras histórias sobre ela e onde li os primeiros livros sobre esta mulher e este género musical que nunca mais abandonei. Porque abandoná-lo era, de certa forma, abandonar-me. Descobrir o Fado foi, sem dúvida, descobrir-me a mim.
Tatuar esta imagem é não esquecer-me.
Outras razões existem... mas que não cabem aqui...
Toda a poesia – e a canção é uma poesia ajudada – reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste.
O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar.
As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade própria, porque ela não existe.
O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou.
No fado os Deuses regressam legítimos e longínquos. É esse o segundo sentido da figura de El-Rei D. Sebastião.
Fernando Pessoa
segunda-feira, janeiro 12, 2009
Carta
Foi com grande surpresa que recebemos por email uma belissima carta de um dos poucos amigos do meu avô - que morreu no início de Janeiro de 2009 - que ainda restam.
Para vocês não dirá muito... para mim diz tudo. Para que fique em arquivo, publico-a:
Cher José Manuel Ferreira,
Merci de vos nouvelles, et mes sincères condoléances pour la perte de feu votre père qui était un de mes meilleures amis et compagnons dans la vie professionnelle du textil. Nous avons passé de maintes heures et jours ensembles en beaucoup d'années. Il était un bon et toujours très correcte représentant qui nous aidait à avoir une bonne place dans les ventes des produits suisses au Portugal, et de bonnes relations avec nos clients. Je le garderai toujours avec de souvenirs de sympathie et respect dans ma mémoire.
Quand je reprenait (dans les années 60!) de mon prédecesseur la réorganisation des ventes au Portual pour la Maison Mettler, je le nommait représentant en raison de recommandations de la part de mes amis Bernasconi et Lamperti de la Maison Bischoff-Textil qui travaillaient déjà avec lui. Ensuite feu votre père passait l'agence à son collaborateur Miguel Valhelhas avec lequel - assisté par M. Eduard Tavares - on voyageait une à deux fois par année depuis Lisbonne au Nord du Portugal comme c'était l'habitude de feu votre père. Évidemment, la cathégorie de clientèle changeait énorment au courant des années.
Votre père m'écrivait encore le 19-12-2008 dernier une jolie lettre de voeux pour l'Année Nouvelle et c'était donc sa dernière lettre. Il y parlait de son âge de 101 ans et de ses 6 neuveux et ses 5 bis-neuveux ! Il jouissait sans doute de l'amour que votre belle famille lui dédiait. Ma femme et moi, nous admirions la parfaite calligraphie avec laquelle feu votre père savait encore écrire à cette age, et formuler clairement ce qui pensait. Si vous le désirez, je peux vous envoyer cette lettre, car à mon âge de 78 ans je suis obligé de réduire mes archives ....
Vous êtres probablement le fils de mon ami Delfim duquel il parlait avec l'indication "mon fils dentiste", mais nous avons en réalité rarement étendu nos conversations sur les vies familiaires réciproques. Il savait que je suis marié avec une éspagnole, et que assez souvent mes voyages au Portugal étaient liés avec ou par des voyages à l'Espagne.
Merci de votre photo, et encore de votre E-Mail, et je vous envoie mes meilleures salutations et voeux pour votre belle famille.
Sincèrement
Thomas & MariaRosa Clerici - Gols
sábado, janeiro 03, 2009
Avô Delfim - 1907 - 2009

Desculpem a repetição.
No próximo Sábado, dia 14, o meu Avô paterno - Delfim - vai comemorar 99 anos de vida... 99 anos. Como ele próprio refere - em jeito de resumo de uma vida - nasceu numa Monarquia, viu nascer a República, sobreviveu a duas Grandes Guerras, sobreviveu ao Salazarismo e tenta sobreviver aos "Carroceiros" (expressão usada pelo próprio) que depois dele vieram. Acha o Mário Soares um "palhaço" e um "chéché", o Jorge Sampaio um "piegas", o Sócrates um "vaidoso" e Guterres um "merdas"... Só para nomear alguns.
Lembra-se de instalarem a luz electrica no Porto (de onde é natural), referindo sempre que esta, tal como hoje a TvCabo, só era instalada em algumas divisões da casa.
Viveu intensamente (enquanto solteiro, claro!) o Parque Mayer, contando histórias perfeitamente "surreais", em episódios cómicos que eu só julgava possíveis nas rábulas dos filmes antigos portugueses ou do velho, enquanto novo, Raul Solnado (quantas vezes não o ouvi a rir e a contar a célebre rábula do Soldado da Guerra).
Fez da Baixa e do Chiado a sua segunda casa (duplex, portanto). Até há muito pouco tempo ainda lá ia tomar o seu café ao sitio do costume. Agora já não vai. "Morreram todos... eramos por vezes mais de 30, agora só resto eu", diz... sorrindo e ironizando.
Escreve-lhe ainda um amigo, mais novo (uns 80 e tal) a quem ele dera emprego no seu escritório da Rua da Madalena. Mas escreve da Suiça (País, não a Pastelaria).
A Rua dos Fanqueiros, continua a ser aquela rua onde tudo se encontra e onde "apenas lá é que arranjas isso que procuras", diz... e quem se atreve a tentar convencê-lo do contrário?!?!
Não faz muito tempo perguntou-me se o Nina, no Largo do Picadeiro, ainda tinha por lá umas espanholas. Ficou contentissimo por saber que tal "espaço de convivio" ainda existia, embora as nacionalidades que por lá passem sejam mais viradas a Leste.
Deixou de ler o jornal "O Diabo". Descobriu as maravilhas do "Compact Disc", embora eu ache que ele nem se apercebeu da mudança do Vinil para a Cassette. Primeira encomenda? Um CD do Carlos Paredes.
Só no ano passado, deixou o seu único cigarro diário, embora não dispense um cálice de Porto, Lacrima, Contreau ou Licor Beirão. Por Lagosta ou Camarões é capaz de dançar o vira.
Continua vaidoso. Sempre impecavelmente bem vestido, penteado, barbeado e cheiroso.
Na vida profissional era representante de grandes marcas internacionais de tecidos. Pelo toque percebe logo se um tecido é bom ou mau. Normalmente diz sempre que é mau... no tempo dele é que era... e devia ser. Mas mostrar uma peça de roupa nova ao meu Avô pode ser a coisa mais frustante deste mundo. Eu já não o faço. Quase que chorou quando encerraram o Marks & Spencer da Avenida Guerra Junqueiro. Contenta-se agora com a Springfield, de que - até - não diz mal.
Para ele os espanhóis são o melhor que o mundo tem. Depois sim, vêm as crianças. Ele ainda tem um costela de São Tiago de Compostela... mas não precisava de exagerar. Deve odiar o Nuno Álvares Pereira e a Batalha de Aljubarrota... hei-de perguntar-lhe.
Os padres nunca o convenceram... Quando da cerimónia religiosa dos 50 anos de casado, a minha Avó obrigou-o a confessar-se. Esteve que tempos fechado com o padre - padre Apolinário - no confessionário. A minha avó, comovida e, por certo, aliviada, pensava que ele estava a expiar os 50 anos de pecados cometidos e nunca confessados. Claro que não... futebol foi o tema de conversa entre confessor e confessado... Deus foi o árbitro.
Tardes inteiras passámos (eu e os meus irmãos) a jogar Biriba (jogo de cartas oriundo do Brasil) ou Krapô (será assim que se escreve??); e a minha Avó (normalmente na equipa adversária) a refilar da "caganeira" monstruosa que ele tem a jogar seja o que fôr.
Faz-lhe impressão os preguiçosos ou aqueles que vivem bem sem trabalharem... "aquele malandro vive do quê, afinal?".
Só no ano passado começou a usar bengala. Não queria nada. "Disparate... usar bengala é para velhos... eu não estou velho. Hum...". Gargalhada geral, pois tá claro.
O seu sonho, neste momento, é chegar aos 100 anos e ir directo à Multiopticas usufruir dos "descontos iguais à idade"... e se fizer 101 não me admira se lá fôr receber a percentagem de lucro.
Escrevo tudo isto não sei porquê!!! Memórias que ficam já registadas. No fundo, talvez seja o orgulho de ter um avô com esta vivência, idade e total usufruto de todas as suas capacidades. Ou porque me assusta a aproximação da data do aniversário. Já lá vai o tempo em que me entusiasmavam os aniversários da minha familia mais chegada. Agora já não. Assustam-me. Fico triste ao olhar a mesa, todos em redor dela... e para o ano? A mesa será composta por todos, tal qual, como no ano anterior? E se faltar alguém? Já falta um, o avô materno. E faz falta, muita. Não quero que falte jamais mais ninguém... se assim fosse...
Quem me dera ser como o David e escrever isto, com a perfeita consciência da finitude... e a sua aceitação:
Ladainha dos póstumos Natais
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito
David Mourão-Ferreira, in "Cancioneiro de Natal"
Mas não deixa de ser uma cadeia fantástica. Do meu Avô criou-se um filho; este fez-se Pai de seis; destes já se geraram quatro. Estará assegurada a minha sobrevivência acompanhada - e não solitária - neste mundo?
E já agora? O que é que se compra de prenda de aniversário a uma pessoa que faz 99 anos???
Aceitam-se sugestões.
quinta-feira, outubro 30, 2008
Coisas que nunca mudam

Vim passar uns dias a Viseu. Instalado na casa da minha irmã, acompanhado com as minhas maravilhosas sobrinhas, sinto-me bem. Viseu tem algo que me põe para cima, que me alegra e me comove.
Ando pelas ruas, sozinho, e parece que as percorro como se fosse a primeira vez.
A verdade é que desde que me lembro de existir que venho à cidade de Viriato. Passando na infância e adolescência todas as férias em Santa Cruz da Trapa - São Pedro do Sul -, Viseu nunca me foi estranha.
Fosse para visitar familiares, para ir à Feira de São Mateus no Verão ou simplesmente passear, era uma ida sempre obrigatória. "Temos de ir à cidade", dizia-se.
Mas é com o meu avô que as recordações de Viseu mais se avivam, homem nascido nestas paragens.
Antigo Governador Civil desta cidade, conheci-a como ninguém. À cidade e às pessoas. Marcaram-me para sempre as idas ao Hotel Grão Vasco almoçar, a ida primeira ao Museu Grão Vasco, o seu velório numa capela da cidade.
Mas as recordações que mais sabor e cheiro têm, são as da ida à Confeitaria Lobo, bem no centro. A montra dos bolos, o cheiro reconfortante, os vidros trabalhados e pintados, as pessoas. Mas, mais do que tudo, os Pastéis de Feijão, que há anos que não os comia.
Resolvi ir até lá. Fiquei parado à porta uns momentos, com medo que as anteriores recordações fossem deturpadas por uma nova ordem, por um outro café que não fosse aquele que conheci.
Mas entrei. O ambiente é o mesmo. As mesmas montras, o meus conforto, o mesmo género de clientela, a mesma decoração. Sentei-me. Pedi um chá preto e, a medo, dois pasteis de feijão.
Quando vieram, trinquei desconfiado o primeiro pastel. Num ápice recuei para os meus 8 anos de idade e voltei a ter a companhia do meu avó bem ao meu lado.
Felizmente, existem ainda coisas que não mudaram...
segunda-feira, outubro 20, 2008
sexta-feira, agosto 22, 2008
Manuel Marques Teixeira

Há poucas pessoas de quem me orgulho a 100% na minha vida. Uma delas é um dos meus avôs, que faleceu em Fevereiro de 2000. Orgulho-me pela rectidão com que pautou a sua vida, os ensinamentos que me transmitiu, o sentido de humor apuradíssimo e a inteligência activa que não parava de surpreender a quem o rodeava.
As saudades saudáveis que sinto fazem lembrar-me dele quase diariamente. E porque por vezes o orgulho é vaidade, vou transcrever um pequeno texto escrito por Júlio Cruz na Gazeta das Beiras (Viseu) sobre o centenário do nascimento do meu avô.
Deixo este texto para os meus familiares e a todos aqueles que algum dia contactaram com este Homem.
"No Centenário de Manuel Marques Teixeira
O Dr. Marques Teixeira foi um político de "mão-cheia" do antigo regime que nunca renegou. Lafonense de gema, sempre lutou pelo engrandecimento desta região.
Manuel Marques Teixeira nasceu em Santa Cruz da Trapa, concelho de S. Pedro do Sul, em 28 de Setembro de 1908, filho de Maria José Teixeira de Almeida e de Luís Marques de Almeida.
Este é, assim, o ano do primeiro centenário do seu nascimento.
Licenciou-se primeiramente em Histórico-filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e, mais tarde, em Direito, pela Universidade de Coimbra.
Começou por leccionar no Liceu Nacional de Portalegre [nota do neto: convivendo com José Régio], onde depois exerceu o cargo de Governador Civil daquele Distrito, entre Maio de 1942 e Setembro de 1943.
Em 1945, foi eleito, pela primeira vez, Deputado à Assembleia Nacional, pelo Círculo de Viseu, sendo reeleito sucessivamente nas quatro legislaturas seguintes.
A 8 de Dezembro de 1947 contraiu matrimónio com Maria Eduarda de Ataíde Sá e Melo Amaral Marques Teixeira, de quem teve dois filhos, João José Ataíde Amaral Marques Teixeira e Isabel Maria Amaral Marques Teixeira Soares Ferreira [nota do neto: minha mãe e ver foto].
Foi Governador Civil do Distrito de Viseu, de 8 de Março de 1957 a 2 de Julho de 1964, ou seja durante sete anos. Em 1963, o município viseense distinguiu-o com a Medalha de Ouro da Cidade.
Em 1964, por deliberação do Conselho de Ministros, presidido por António de Oliveira Salazar, foi nomeado representante do Estado na Administração da CNE - Companhia Nacional de Electricidade.
Faleceu em 5 de Fevereiro de 2000.
Foi um homem fortemente empenhado no regime salazarista que serviu fielmente, mas também um homem dedicado à sua terra que muito beneficiou com a sua acção política.
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