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quinta-feira, novembro 19, 2015

Maria Barroso e a defesa do Teatro nacional

 
 
 
 

Maria Barroso e a Defesa do Teatro nacional... ou os excessos revolucionários de um punhado de idiotas. 
Que bonita aquela discreta nota de rodapé... ainda está por fazer a história dos sacanas e oportunistas em Portugal

Álbum de Memórias de Maria Barroso - volume 9 - Pelos Caminhos da Liberdade - Edição Jornal Sol

sexta-feira, agosto 17, 2012

Maria Barroso diz Carlos Oliveira - 1974


Descrição da Guerra em Guernica, de Carlos Oliveira, por Maria Barroso

I

Entra pela janela
o anjo camponês;
com a terceira luz na mão;
minucioso, habituado
aos interiores de cereal,
aos utensílios
que dormem na fuligem;
os seus olhos rurais
não compreendem bem os símbolos
desta colheita: hélices,
motores furiosos;
e estende mais o braço; planta
no ar, como uma árvore,
a chama do candeeiro.
II

As outras duas luzes
são lisas, ofuscantes;
lembram a cal, o zinco branco
nas pedreiras;
ou nos umbrais
de cantaria aparelhada; bruscamente;
a arder; há o mesmo
branco na lâmpada do tecto;
o mesmo zinco
nas máquinas que voam
fabricando o incêndio; e assim,
por toda a parte,
a mesma cal mecânica
vibra os seus cutelos.
III

Ao alto; à esquerda;
onde aparece
a linha da garganta,
a curva distendida como
o gráfico dum grito;
o som é impossível; impede-o pelo menos
o animal fumegante;
com o peso das patas, com os longos
músculos negros; sem esquecer
o sal silencioso
no outro coração:
por cima dele; inútil; a mão desta
mulher de joelhos
entre as pernas do touro.
IV

Em baixo, contra o chão
de tijolo queimado,
os fragmentos duma estátua;
ou o construtor da casa
já sem fio de prumo,
barro, sestas pobres? quem
tentou salvar o dia,
o seu resíduo
de gente e poucos bens? opor
à química da guerra,
aos reagentes dissolvendo
a construção, as traves,
este gládio,
esta palavra arcaica?
V

Mesa, madeira posta
próximo dos homens: pelo corte
da plaina,
a lixa ríspida,
a cera sobre o betume, os nós;
e dedos tacteando
as últimas rugosidades;
morosamente; com o amor
do carpinteiro ao objecto
que nasceu
para viver na casa;
no sítio destinado há muito;
como se fosse, quase,
uma criança da família.
VI

O pássaro; a sua anatomia
rápida; forma cheia de pressa,
que se condensa
apenas o bastante
para ser visível no céu,
sem o ferir;
modelo doutros voos: nuvens;
e vento leve, folhas;
agora, atónito, abre as asas
no deserto da mesa;
tenta gritar às falsas aves
que a morte é diferente:
cruzar o céu com a suavidade
dum rumor e sumir-se.
VII

Cavalo; reprodutor
de luz nos prados; quando
respira, os brônquios;
dois frémitos de soro; exalam
essa névoa
que o primeiro sol transforma
numa crina trémula
sobre pastos e éguas; mas aqui
marcou-o o ferro
dos lavradores que o anjo ignora;
e endureceu-o de tal modo
que se entrega;
como as bestas bíblicas;
ao tétano; ao furor.
VIII

Outra mulher: o susto
a entrar no pesadelo;
oprime-a o ar; e cada passo
é apenas peso: seios
donde os mamilos pendem,
gotas duras
de leite e medo; quase pedras;
memória tropeçando
em árvores, parentes,
num descampado vagaroso;
e amor também:
espécie de peso que produz
por dentro da mulher
os mesmos passos densos.
IX

Casas desidratadas
no alto forno; e olhando-as,
momentos antes de ruírem,
o anjo desolado
pensa: entre detritos
sem nenhum cerne ou água,
como anunciar
outra vez o milagre das salas;
dos quartos; crescendo cisco
a cisco, filho a filho?
as máquinas estranhas,
os motores com sede, nem sequer
beberam o espírito das minhas casas;
evaporaram-no apenas.
X

O incêndio desce;
do canto superior direito;
sobre os sótãos,
os degraus das escadas
a oscilar;
hélices, vibrações, percutem os alicerces;
e o fogo, veloz agora, fende-os, desmorona
toda a arquitectura;
as paredes áridas desabam
mas o seu desenho
sobrevive no ar; sustém-no
a terceira mulher; a última; com os braços
erguidos; com o suor da estrela
tatuada na testa

sexta-feira, agosto 10, 2012

sexta-feira, junho 15, 2012

Álbum de Memórias de Maria Barroso com o Jornal Sol


O Jornal Sol inicia esta semana a publicação do Álbum de Memórias de Maria Barroso. Mais do que a política, tenho muita curiosidade em saber mais do seu trabalho no Colégio Moderno e como Actriz de teatro e cinema... espero que esta colecção abarque estas duas facetas.

O bom disto tudo é que, à excepção deste primeiro volume, todos os outros podem ser comprados separadamente do jornal. Cada volume irá custar € 2.90.

sexta-feira, junho 04, 2010

Maria Barroso diz Poesia...


Foi lançado pela Althum e o Museu do neo-realismo, o livro Geração do Novo Cancioneiro, com poemas de Fernando Namora, Álvaro Feijó, Joaquim Namorado, Mário Dionisio, Carlos Oliveira, Manuel da Fonseca, entre outros e texts introdutórios de Eduardo Lourenço, Urbano Tavares Rodrigues e outros.

Este livro tem a particularidade de conter um belissimo CD com os poemas do livro lidos ou interpretados por Maria Barroso com um belo acompanhamento musical de Luisa Amaro.

Maria Barroso era a artista que mais marcou a minha juventude, pelo seu exemplo de Actriz corajosa, pondo a Poesia e o Teatro ao serviço do anti-fascismo. (...) Mas voltemos ao Bar "Toxinas" do Hospital de Santa Maria. Ei-la que sobe ao estrado para falar, com um casaco castanho. Lembro-me como se fosse hoje!! Logo um chefe da polícia a agarrar por um braço e diz: "A Senhora está proibida de falar!!!". - Uh! Uh! Uh! - vozes "de malta", claro... E diz Maria Barroso: Não posso falar, mas posso recitar!! E diz um Poema do velho Poeta Comunista Armindo Rodrigues.

Mário Viegas, Auto-Photo Biografia (Não Autorizada).


1 – Fernando Namora – Cacilda
2 – Álvaro Feijó – Nossa Senhora da Apresentação
3 – Joaquim Namorado – Prometeu
4 – Mário Dionísio – Elegia ao companheiro morto
5 – João José Cochofel – XIII
6 – Políbio Gomes dos Santos – Poema da voz que escuta
7 – Francisco José Tenreiro – Epopeia
8 – Manuel da Fonseca – Estradas
9 – Carlos Oliveira – Descidas aos infernos
10 – Sidónio Muralha – Soneto imperfeito da caminhada perfeita
11 – Mário Dionísio – Utilidade
12 – Manuel da Fonseca – Maria Campaniça
13 – Álvaro Feijó – Dois sonetos da hora triste
14 – Mário Dionísio – Arte poética
15 – Carlos de Oliveira – Xácara das bruxas
16 – Mário Dionísio – Depois de mim
17 – Manuel da Fonseca – Mataram a tuna

terça-feira, maio 17, 2005

Maria Barroso em "Mudar de Vida", de Paulo Rocha


Maria Barroso
Esta é uma reportagem de Óscar Alves, para a Revista "Plateia", de 7 de Junho de 1966.
A entrevistada é, nada mais nada menos que, Maria de Jesus Barroso. Actualmente ex-actriz, ex-primeira dama, ex-directora do Colégio Moderno, ex-Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, uma das caras da revista "Cais" (da direcção, entenda-se; não estão a ver a Maria Barroso à porta de um Pingo Doce, vestida de amarelo, a vender a "Cais"), católica fervorosa (mas há pouco tempo), e muitas outras coisas que já nem me lembro.
Esta entrevista foi dada à revista "Plateia" devido à estreia nacional do filme "Mudar de Vida", de Paulo Rocha.
Eis alguns excertos da entrevista:
"Por grande amabilidade para com a "Plateia", Maria Barroso, que detesta publicidade e vive num mundo completamente extra-artistico, o seu mundo de familia e de mãe, acedeu a conceder-nos esta entrevista."
"- Porque não representou durante os dezassete anos em que esteve ausente do palco?
- Porque não se me deparou qualquer oportunidade de interesse. Dediquei-me por isso apenas a recitais poéticos, sobretudo em meios estudantis e operários".
"- Sendo algarvia, foi-lhe dificil adaptar-se ao tipo de mulher piscatória nortenha?
- Sai do Algarve há muitos anos. E não se esqueça que o nivel do actor se revela, sobretudo, na capacidade de adaptação a cada nova situação que se lhe apresente."
"- Em Portugal os actores têm ou não um nivel de cultura suficiente?
- Temos actores muitos cultos e temos outros que porventura o serão menos. O grave, é que não possuimos, infelizmente, os meios necessários para podermos progredir e para melhorar a nossa condição de profissionais. É no entanto, com agrado, que verifico haver imensa gente nova que se interessa pelo teatro e que tem preocupações culturais muito sérias.
- Parece-lhe certo o teatro que actualmente se apresenta em Portugal?
- Acho que, de uma maneira geral, está errado. Mas, a maior parte das vezes, as empresas não têm outras possibilidades...
Ao terminar esta entrevista, Maria Barroso falou acerca da sua situação de actriz num pais onde ela não o pôde nem pode ser, a não ser por espaços, muito longe da medida das suas excepcionais faculdades.
- O futuro é sempre uma incógnita. Acima de tudo estou interessada em ter uma vida calma, dedicada ao meu lar e à minha familia. Se as condições de trabalho, em Portugal, não se modificarem, não creio muito provável que volte a representar."
Agora pergunto eu: Se naquela altura achava errado o teatro que se fazia, que diria Maria Barroso hoje? Em vez de um Teatro Nacional temos um jazigo plantado na Praça do Rossio. Em vez de Actores em palco, temos manequins. Seria uma Ivone Silva pior que uma Teresa Guilherme? Seria uma Fernanda Serrano superior a uma Mariana Rey Monteiro? Será que um Diogo Amaral é superior a um Rui de Carvalho (naquela época)?
Assim como assim, Maria Barroso teve o maior palco que se podia imaginar: Portugal. E se não continuou actriz foi pedagoga, sendo directora de um Colégio que muito me orgulho ter frequentado (tal como meu pai e meus muitos irmãos).