Podemos afirmar que um dos acontecimentos
culturais que irão marcar o ano de 2015 em Portugal é, sem dúvida, o lançamento
ao grande público da obra de Ramiro Guiñazú: Amália no Mundo – Sinais de uma
vida nos sulcos do vinil, pela editora Tradisom.
Ramiro Guiñazú, argentino de nacionalidade,
lisboeta por amor, empreendeu uma investigação longa e exaustiva sobre o
suporte material que nos permite, e nos permitirá sempre, ouvir Amália Rodrigues:
os discos.
O que Ramiro realizou foi uma impressionante
recolha, nacional e internacional, de toda a obra discográfica de Amália
Rodrigues, desde o seu primeiro disco de 1945 até ao álbum Obsessão, o último
de Amália, de 1990, passando ainda por compilações, álbuns ao vivo, edições
comemorativas, etc.
São centenas e centenas de edições e reedições
lançadas em Portugal, França, Itália, Chile, Argentina, Espanha, Inglaterra,
África do Sul, Japão e muitos outros países. São, acima de tudo, centenas e
centenas de discos que fizeram de Amália Rodrigues a mais internacional,
intuitiva, inteligente e aplaudida das nossas artistas. São centenas e centenas
de razões para agradecermos aos céus o termos tido a sorte de ter estado entre
nós uma Amália Rodrigues.
Todo o livro, que é, no fundo, um imenso catálogo,
é acompanhado pela impressão dos discos transformando-o, também, num livro de
história de arte (ou de estética) e imprescindível para percebermos, de forma
intuitiva e bem explicada através dos textos de Ramiro, as opções discográficas
e as tendências musicais que pautaram a longa carreira de Amália Rodrigues.
Os textos que acompanham cada um dos 14 capítulos
são breves e certeiros para percebermos o contexto em que determinado disco –
ou série de discos – foi editado. Não é, sublinho, um livro biográfico. É um
livro sobre os discos editados de Amália Rodrigues. E é essa informação que nos
é dada: o estúdio de gravação, o ano de gravação, o ano de edição (muitas vezes
distante do ano de gravação), guitarristas que a acompanham, compositores,
poetas, o fotógrafo da capa, etc. Por vezes, um ou outro apontamento curioso e
algumas citações de imprensa.
Numa leitura seguida do livro podemos, por vezes,
achá-lo repetitivo e até confuso. Mas esta impressão tem razão de ser pela
forma como os capítulos foram desenhados e pela forma como foi estabelecida a sequência
das edição dos discos. A ajudar, por vezes, à confusão, está o facto de muitas
gravações serem realizados anos e anos antes da edição do disco. Mas, repito,
estas são impressões que rapidamente percebemos que não têm fundamento e
mostra-nos a maneira inteligente como todo o livro foi concebido.
Na minha opinião, este livro/catálogo não é para
ser lido de uma assentada ou, se o fizermos – como eu fiz – rapidamente percebemos
que cada capítulo é um capítulo, solto do anterior e do posterior, não se perdendo,
contudo, a ideia de unidade e de fio condutor.
Uma coisa resulta clara: a enorme paixão,
dedicação e investigação de Ramiro Guiñazú na recolha de toda esta informação.
Estou certo que poucos artistas no mundo – passados ou presentes - se podem
gabar de ter uma obra com estas características.
Depois da biografia de Vitor Pavão dos Santos e da
sua recente compilação dos poemas cantados por Amália Rodrigues, do extraordinário
documentário de Bruno de Almeida, do catálogo da exposição Amália: Coração
Independente que esteve presente no CCB e Museu da Electricidade, esta obra
Amália no Mundo: Sinais de uma vida nos sulcos do vinil era a contribuição que
faltava, o valiosíssimo acrescento para a nossa consciencialização da
verdadeira dimensão universal e única de Amália Rodrigues.
Uma nota final para dar os parabéns pela concepção
gráfica do livro. Excelentes reproduções das capas dos discos, belíssimas cores,
boa arrumação dos assuntos e nada confusa visualmente (que numa obra deste
género seria fácil acontecer). A minha palavra de apreço aos designers
gráficos.
Folhear este catálogo é, também, passar em
revista mais de 50 anos da História da Música Portuguesa e Universal e é, sem
sombra de dúvidas, virar de páginas aos mistérios de uma mulher que se fez imortal e
que se ama incondicionalmente.
Ah... e podem folhear as 317 páginas do livro enquanto ouvem um dos dois cd's que o acompanham... só vantagens.
4 comentários:
Li com enorme satisfação este seu artigo e na verdade gostaria de confidenciar que esta edição só foi possível pela dedicação e entusiasmo deste grande homem que é Ramiro Guinazu. Levou anos a fio a descobrir tudo sobre Amália e a "envenenar-me", no bom sentido, claro, para comprar todas os discos que ia descobrindo no ebay.
Assim consegui reunr esta maravilhosa coleção, que tanto gozo me dá rever de vez em quando.
Estamos de parabéns, ele e o país!
José Moças (editor)
Injustiça a minha que devia ter mencionado o seu nome e não mencionei. O trabalho dos editores é imprescindível. Fica desde já aqui os meus parabéns e o meu obrigado.
Numa segunda edição só é preciso uma revisão do texto mais cuidada. De resto, está perfeito.
Um abraço e bem-haja por ter apostado neste projecto
Carissimo, o meu nome aqui não é importante. O trabalho do Ramiro merecia este esforço, que infelizmente muitas pessoas não compreendem. Algumas que só sabe, criticar, mas não fazem nada, o costume. Outras por sim e outras porque não!
Mas, pela nossa parte, continuaremos a tentar editar obras que tenham a ver com valores culturais e património musical. É uma missão difícil, mas que nos dá um prazer incomensurável. Um abraço.
Maravilhosa ideia esta! Adorei! Viva Amália, viva Portugal!
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