Mais um ano que passa e mais um ano em que fico sem dar aular, sem arranjar colocação. Diz-se, entre os historiadores, que a história não se repete... que apenas tem semelhanças quando certos e determinados factores se conjugam. Sabemos que em anos de muita seca, ou de muita chuva, os campos agricolas ficavam arrasados, haveria carência alimentar, levando ao aumento dos preços. Até à Idade Moderna levava, obrigatoriamente, à fome e desta para as pestes. Isto é ciclico e sabido.
Mas no caso dos concursos de professores, os factores que se conjugam não são sempre os mesmos e levam ao mesmo resultado: desemprego de milhares de pessoas que apostaram, como muitos outros em muitos áreas, a uma formação especificia com o objectivo de fazer da vida qualquer coisa de útil e benefico.
Os partidos sucedem-se no Governo; os ministros também; há reformas e contra-reformas no ensino; há novas leis que saem e outras que se revogam; há novos programas, novas pedagogias (normalmente cada uma pior que a outra), novas maneiras de se entender a escola. E qual é o resultado? Uma escola cada vez mais degradada, com professores cada vez mais incompetentes e com falta de paciência para os alunos que, com a conivência do Estado e da Familia, estudam cada vez menos, para quem o trabalho não existe, e para quem o que interessa é o recreio (que tem a sua continuidade na sala de aula) e o lazer.
Ano após anos a história repete-se com factores diferentes que se conjugam. Vejo a escola e os concursos de professores como um daqueles virus que, consoante o ambiente, as resistências e as vacinas que se arranjam, encontra maneira de se transformar, de se transmutar para conseguir sobrevivier e continuar a sua "destruição".
Haverá quarentena possivel para esta doença? Não sei. No estado avançado em que se encontra dúvido. Melhor mesmo é acabar com a espécie que serve de transmissor ao virus e recomeçar tudo de novo. Eu sugiro que se começe pelos pedagogos e supostos entendidos em educação e mandava implodir o Ministério da Educação... eu mesmo me ofereço para o detonar.
Daniel Ferreira
Os professores sem alunos
Filipe Rodrigues da Silva
A respeito do último texto deste espaço do DD, «No país dos tristes», vários leitores enviaram emails efectuando comentários sobre o mesmo.
Uns concordando. Outros discordando. Outros ainda opinando. Uns quantos questionando. E entre as questões surgidas, há uma - enviada por uma portuguesa a viver há alguns anos em França - pertinente: em que área da sociedade se deu o maior falhanço nacional?
Podemos falar das reformas do Estado que nunca chegaram. Da falta de dinâmica da economia. Da saúde. Da justiça. Mas julgo que o maior drama nacional se centra na educação, onde nenhuma política assumida pelos diferentes governos foi seguida de forma ordenada, equacionando-se muitas vezes se os sistemas adoptados haviam sido alguma vez realmente pensados para a realidade portuguesa.
O problema vai do pré-escolar às universidades. Dos programas adoptados à colocação de professores. Do início quase sempre confuso das aulas à qualidade das mesmas. Dos desejos de uma reforma do ensino às infraestruturas em degradação. Das fornadas de licenciados com cursos de papel e sem futuro à falta de preparação profissional e de saídas profissionais.
É uma luta antiga, mas que não pode ser abandonada, sob o risco de hipotecar-se o futuro do País. Uma área sensível, que não pode viver sob a instabilidade de 20 e tal ministros diferentes desde o 25 de Abril, cada um ansioso por deixar obra feita e borrar do mapa o trajecto do antecessor.
A poucas semanas do começo das aulas, foram conhecidos na segunda-feira os resultados dos concursos de professores que não pertencem aos quadros do Ministério da Educação.
Os números terão as suas justificações, mas assustam. Findas as colocações, analisando-se os saldos dos récem-contratados pelo Ministério da Educação e os dos novos candidatos ao trabalho no ensino, cerca de 40 mil destes profissionais ficarão sem trabalho neste ano lectivo.
No entanto, a boa notícia é que - aparentemente - este ano lectivo vai começar sem grandes sobressaltos, ou, pelo menos, distante dos percalços do ano passado.
Notou-se um esforço meritório do Governo, de modo a garantir o arranque das aulas. Haja algo que comece a funcionar bem em Portugal.
Fica, no entanto, o drama. Estamos a salvaguardar o futuro ao dar melhores condições a milhares de jovens e a contribuir para a sua formação. Mas tal só valerá a pena se daqui a vinte ou trinta anos não houver 40 mil candidatos a professores desempregados. Desperdiçar tantos recursos é um suicídio social.
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