sábado, junho 04, 2005

Aldina Duarte - Culturgest

Na noite passada um momento mágico aconteceu em Lisboa - O concerto de Aldina Duarte, na Culturgest.
Aldina Duarte provou o que há muito já se sabia: que é uma fadista de alma e coração, sem artificios nem rodeios.
Vestida de preto com um belissimo xaile sobre os ombros (só não sei se seria um dos xailes-amuleto feitos por Argentina Santos), Aldina Duarte estava bonita.
A casa estava lotada. Algumas caras conhecidas como Maria da Fé, David Ferreira e Margarida Mercês de Melo, Ana Sousa Dias (a quem Aldina Duarte havia dado uma entrevista que ficará para sempre na minha memória), João Lopes, entre outros. O público foi altamente receptivo, ouvindo os habituais "bravos" e "Ah, Fadista". Aldina mereceu-o.
No palco apenas dois músicos: José Manuel Neto, na Guitarra e Carlos Manuel Proença, na Viola. Quatro cadeiras vazias e uma instalação em madeira a fazer lembrar (segundo o meu acompanhante no concerto) a estrutura em madeira que circunda uma arena de uma praça de touros. Tudo obra de Jorge Silva Melo.
Aldina Duarte cantou bem embora, a meu ver, seja um pouco inconstante na utilização da voz. Mas penso que isso não a desfavorece. Antes pelo contrário, é a sua imagem de marca. Aldina é uma fadista de tabernas e casas de fado. É uma fadista das ruas ingremes dos Bairros de Lisboa. Reúne em si, e sem querer fazer comparações, as vozes de Beatriz da Conceição, Lucilia do Carmo e Herminia Silva.
No rosto estava estampado as contradicções do próprio fado: a dor e a alegria; a saudade e o reencontro; o amor e o traição.
E que sorriso inocente, simpático, sincero e belo tem Aldina Duarte. É impossivel não nos comovermos. Aldina está ali verdadeiramente. Não finge, não mostra o que não é. Está como se estivesse despida, nua.
Cantou músicas do seu album "Apenas o Amor" e alguns temas novos. Recordou Alfredo Marceneiro, Lucilia do Carmo e Herminia Silva (que fechou o espectáculo).
O carinho que sente pelos músicos, e eles por Aldina, não passou despercebido. Troca de meiguices foram acontecendo ao longo do concerto, olhares cúmplices e de encorajamento foram sendo trocados.
Mas eu acho que Aldina Duarte não sabia ao que ia, nem o que iria encontrar. Não esperava aquele sucesso nem aquele acolhimento. Como posso esquecer a expressão no rosto de Aldina quando, já no fim do concerto, as luzes da sala se acenderam e ela pode, realmente, olhar a sala e o público, da primeira à última fila. A expressão foi de terror, de susto, de algo surpreendente e de que não esperava. Estavamos todos de pé a aplaudir. Aldina abandona de imediato o palco e não voltou.
- Desculpa lá Fadista se te assustámos. Não foi por mal... e a culpa é tua. Quem te manda mexeres com os nossos sentimentos daquela forma? Tiveste o que mereceste por seres tão genuina. Espero que tenhas percebido que aquelas palmas eram mesmo para ti. E se tivesses voltado terias muitas mais.
Obrigado Aldina.
"Acredito que os artistas existem para servir as pessoas na construção dum mundo onde todos viverão de forma mais justa e mais feliz - Ai de nós e do mundo quando os artistas deixarem de ser a voz da coragem e da luta das pessoas por uma vida mais feliz!
Como diria o poeta Teixeira de Pascoaes "Eliminem a palavra Humanidade e ficaremos cobertos de pêlo, num instante".
Aldina Duarte

4 comentários:

Anónimo disse...

A barreira não foi a escolha cénica mais acertada para um espectáculo de Aldina Duarte.
O seu fado é de mulheres que esperam os barcos no cais, de mulheres que perdem os amantes no mar, ou de mulheres que se perdem nas vielas sombrias de Lisboa.
É o verdadeiro fado castiço, sem os excessos de faca e alguidar, perpetados por uma geração onde Aldina vai buscar inspiração, mas que evidentemente não se confunde.

Foi tudo isso que tivemos ontem, pois não há dúvida que Aldina nos sabe tocar e confundir a sua tristeza, saudade e solidão com a nossa.

Anónimo disse...

Pela descrição deve ter sido um momento excepcional. Por mim, fica para a próxima...

Gustavo Monteiro de Almeida disse...

Parece-me ter sido um momento muito interessante. No entanto, não temos o dom da ubiquidade. Estava a apreender outro momento interessante...: "Visitando Mr. Green". Excelente e com bom humor. Tinhas razão!! Obrigado pela dica.

Anónimo disse...

Eu só temo que determinado tipo de observações empurrem uma artista como Aldina Duarte para o secretismo das casas de fado, porque acima de tudo, para mim, na Culturgest Aldian duarte provou que´a sua arte é imensa e incorruptível! E que todos ficámos a ganhar, pelas suas brilhantes interpretações e pela sua voz única e talento musical extremo, em t~e-la naquela dimensão que não me pareceu nunca grande demias para ela, pelo contrário se maior fosse era ígual... nós é que temos de aprender aentrar naquela dimensão na nossa intimidade, porque ela dá tudo o que é preciso para isso... naturalmente porque é um mar de talento!