BAILATA DOS DOIDOS
Se os doidos não sabem
Seu nome e idade
- Quem dera ser doido,
Que felicidade!
Seu nome e idade
- Quem dera ser doido,
Que felicidade!
Se os doidos não sentem
As mágoas reais
- Quem dera ser doido,
Não as sentir mais!
As mágoas reais
- Quem dera ser doido,
Não as sentir mais!
Se os doidos não vêem
Como os outros são
- Quem dera ser doido,
Ter essa ilusão!
Como os outros são
- Quem dera ser doido,
Ter essa ilusão!
Se os doidos não cuidam
Do que é necessário
- Quem dera ser doido,
Sem este fadário!
Do que é necessário
- Quem dera ser doido,
Sem este fadário!
Se os doidos não temem
A hora da morte
- Quem dera ser doido,
Para ser tão forte!
A hora da morte
- Quem dera ser doido,
Para ser tão forte!
Carlos Queiroz, Epístola aos Vindouros e outros poemas, Edições Ática
FADO
A que tinha no andar restos de infância
Saudosos de correr atrás do arco,
Deixando no ar um rastro
De inocência e de constância;
Saudosos de correr atrás do arco,
Deixando no ar um rastro
De inocência e de constância;
A que no olhar denunciava
- Quando olhava sem ver, mas calma e doce -
Sintomas de morte precoce;
- Quando olhava sem ver, mas calma e doce -
Sintomas de morte precoce;
A que lembrava
Quando sorria, estar pensando
Nas fadas dos contos antigos;
Quando sorria, estar pensando
Nas fadas dos contos antigos;
A que num lago sem perigos
- No mínimo gesto brando
Das suas mãos impolutas -
Dava a imagem da vida...
- No mínimo gesto brando
Das suas mãos impolutas -
Dava a imagem da vida...
É hoje a mais conhecida
No bairro das prostitutas.
No bairro das prostitutas.
Junho de 1930
Carlos Queiroz, Desaparecido * Breve Tratado de Não-Versificação,
Edições Ática
1 comentário:
É com muita alegria que vejo, não um, mas dois poemas de Carlos Queirós, infelizmente quase ignorado por uma (grande) maioria.
Não é, concerteza, pela qualidade da sua obra que tem sido esquecido, talvez apenas por ter sido irmão de quem foi.
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