quinta-feira, maio 24, 2012

Resposta ao Pescador - António Maria Eusébio (Calafate)



Resposta ao Pescador
por António Maria Eusébio (Calafate) - 1820/1911

Mote

Tu pescas e eu apanho
Quanto tu pescas eu caço,
Tu pescas para o teu chalrão,
Eu apanho para o meu laço.

Glosa

Tu rapaz eu rapariga
Tu petiscas e eu petisco,
Tu no mar pescas marisco
E eu em terra apanho espiga.
Tu de cu e eu de barriga,
Se banhas também eu banho,
Tu perdes, eu sempre ganho,
Tu tens pau e eu tenho a risca,
Tu tens pesca e eu tenha a isca,
Tu pescas e eu apanho.

Tu em certas madrugadas
Fazes a pesca geral,
E eu dentro de qualquer nabal
Apanho boas nabadas.
Tu pescas coisas salgadas,
Eu apanho algum cabaço,
Tu abaixas o regaço,
Eu sou fêmea e tu és macho,
Eu para cima e tu para baixo
Quando tu pescas eu caço.

Tu és pescador de fé,
Vais pescar a várias partes,
E eu vou apanhar tomates
Quando vejo dois num pé.
Para nós sempre há maré,
Nunca falta ocasião,
Com iscas de lingueirão
Vais pescar a qualquer Tejo
Camareiras com badejo,
Tu pescas para o teu chalrão.

Tu pescas peixes taludos,
Na pesca fazes empenho,
Eu com um bom laço que tenho
Apanhos pássaros papudos.
São iguais nossos estudos,
É igual o nosso passo,
Com as armadilhas que faço
Tenho a passarada certa,
Tendo a ratoeira aberta,
Eu apanho para o meu laço.

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