OMISSÃO
de João de Deus (1830-1896)
Uma noviça, jovem de talento
Na arte do desenho e da pintura,
Pede à madre abadessa do convento
O favor de lhe ver uma figura.
Era a imitação escrupulosa
De um menino em tamanho natural
... Que pertencia a sóror Anna Rosa,
Tido em conta de um belo original!
A sóror costumava, por decência,
Tê-lo com uma tanga pequenina,
Que lhe encobria aquela saliência
Que distingue o menino da menina.
Mas uma tanga tão apropriada
No tecido e na cor, que na verdade
A gente olhava e não lhe via nada
Que desmentisse a naturalidade.
Era, pois, de esperar que a nossa artista,
Assim como no mais, naquela parte,
Pintasse apenas o que tinha à vista,
Que é o preceito e o primor da arte.
Vê a madre abadessa a maravilha,
E não se cansa de a louvar! Mas lança
A vista atenta àquele ponto: "Ai, filha,
Que falta essencial!... pobre criança!
Que pena! o colorido, que beleza!
Pernas, braços e tudo, que perfeito!
Mas confesso... confesso com tristeza...
Que enorme, enormíssimo defeito!"
de João de Deus (1830-1896)
Uma noviça, jovem de talento
Na arte do desenho e da pintura,
Pede à madre abadessa do convento
O favor de lhe ver uma figura.
Era a imitação escrupulosa
De um menino em tamanho natural
... Que pertencia a sóror Anna Rosa,
Tido em conta de um belo original!
A sóror costumava, por decência,
Tê-lo com uma tanga pequenina,
Que lhe encobria aquela saliência
Que distingue o menino da menina.
Mas uma tanga tão apropriada
No tecido e na cor, que na verdade
A gente olhava e não lhe via nada
Que desmentisse a naturalidade.
Era, pois, de esperar que a nossa artista,
Assim como no mais, naquela parte,
Pintasse apenas o que tinha à vista,
Que é o preceito e o primor da arte.
Vê a madre abadessa a maravilha,
E não se cansa de a louvar! Mas lança
A vista atenta àquele ponto: "Ai, filha,
Que falta essencial!... pobre criança!
Que pena! o colorido, que beleza!
Pernas, braços e tudo, que perfeito!
Mas confesso... confesso com tristeza...
Que enorme, enormíssimo defeito!"
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