sexta-feira, junho 12, 2009

Tatuagem

Quarta-feira irei tatuar esta imagem nas minhas costas. Depois de muito reflectir, acabava sempre com esta imagem na ideia.
A razão aparentemente mais óbvia para tatuar este perfil de Amália Rodrigues é, claro está, a minha profunda admiração e estima pela pessoa que, e durante décadas ao longo do século XX, levou Portugal ao Mundo. E este ano passam dez anos da sua morte.
Mas há razões menos óbvias.
Eu queria algo com que me identificasse, mas que também me reportasse a outras coisas.
Em primeiro lugar a Portugal. País que amo profundamente e que continuo a acreditar ser capaz de grandes conquistas. No perfil de Amália podemos "ver" o perfil de Portugal.
Depois há os poetas, os escritores. Portugal é, desde as medievais Cantigas Trovadorescas, um dos paises com maiores e melhores tradições literárias do Mundo: D. Afonso V, D. Dinis, D. Duarte, Fernando Esguio, João Garcia de Guilhade, Paio Gomes Charinho, Luis de Camões - entre outros - até aos bem mais conhecidos poetas do séc. XIX e XX. Ora, a todos estes deu Amália a voz, reavivando-os.
Depois, claro está, temos o Fado. Género musical que muito me agrada onde, nos momentos melhores ou menos bons da vida, encontro sempre um reflexo, uma ajuda, um conselho, uma similitude. E é no Fado, e estou bem convicto disso, que se encontra reunida e unificada quase nove séculos (se não mais... ainda mesmo da ocupação árabe da Pensinsula Ibérica) do ser e sentir português. Seja o sentir alegre, de festa, de optimismo e grandeza, seja o sentir melancólico, por vezes triste, de um povo "entalado" entre uma Espanha forte e um mar assustador, sem que nos restasse outra grande alternativa que não fosse a Aventura.
Assim, ao escolher esta imagem, homenageio o Fado e os seus interpretes, músicos e poetas. Ao escolher esta imagem, compilo em mim a História de Portugal.
Esta imagem é também a forma de marcar, para sempre, as recordações de férias passadas em casa dos avós maternos, a quem "roubei" as primeiras cassettes da Amália que ouvi, onde me contaram as primeiras histórias sobre ela e onde li os primeiros livros sobre esta mulher e este género musical que nunca mais abandonei. Porque abandoná-lo era, de certa forma, abandonar-me. Descobrir o Fado foi, sem dúvida, descobrir-me a mim.
Tatuar esta imagem é não esquecer-me.
Outras razões existem... mas que não cabem aqui...


Toda a poesia – e a canção é uma poesia ajudada – reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste.
O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar.
As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade própria, porque ela não existe.
O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou.
No fado os Deuses regressam legítimos e longínquos. É esse o segundo sentido da figura de El-Rei D. Sebastião.

Fernando Pessoa

3 comentários:

nuno vasconcelos disse...

lá estarei ;-)

Anónimo disse...

Depois tens que mostrar como ficou :)

Anónimo disse...

e já te vai acompanhando :)

beijo,
helena nilo