quarta-feira, novembro 28, 2007

11 ANOS DE WILLIAM SHAKESPEARE


No passado dia 24 de Novembro de 2007 a peça de teatro As Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos - (The Complete Works Of William Shakespeare - Abridged) de Daniel Singer, Adam Long, Jess Borgeson - comemorou o seu 11º ano (consecutivos) em cena.
Para os mais distraídos, isto é notícia. É inédito, em Portugal. É, acima de tudo, uma vitória da Companhia Teatral do Chiado e da própria comédia (considerada como uma género menor em Portugal; a provar isto mesmo está a afirmação do encenador João Lourenço, no dia 24 de Outubro de 2006 no Teatro Nacional D. Maria II: "A palavra Comédia, a mim, provoca-me arrepios."

Estreou a 24 de Novembro de 1996, em Portimão. Desde então, com casas sempre cheias (esgotadas mesmo) tem percorrido o país, contabilizando já cerca de 136 digressões e 1.141 representações até à data. Número total de espectadores: 175.993.

Nestes onze anos, o espectáculo contou já com 5 elencos (4 vá, porque o quinto voltou ao original – fechar do ciclo?!). Foram eles:

1º elenco (1996 - 1999): João Carracedo, Manuel Mendes e Simão Rubim;
2º elenco (1999 - 2000): João Carracedo, Simão Rubim e Vitor d´Andrade;
3º elenco (2000 - 2001): João Carracedo, Pedro Tavares e Simão Rubim;
4º elenco (2001 - 2002): Carlos Pereira, Miguel Fonseca e Simão Rubim;
5º elenco (2002 - até hoje): João Carracedo, Manuel Mendes e Simão Rubim

Muitos questionam-se qual a razão que leva uma peça de teatro, em Portugal, ter esta longevidade.

Juvenal Garcês, encenador, director e co-fundador da Companhia Teatral do Chiado, adianta que o segredo está no próprio Shakespeare.

É verdade. Mas há muito mais (como ele próprio reconhece).

Há o excelente elenco. Três actores de uma energia contagiante, com óptimos registos de comédia, sempre prontos a desafiar o público e o seu próprio papel e texto.

Há o texto. Uma súmula cómicamente séria que revisita todas as obras do dramaturgo inglês (que é para os que não sabem, o Gil Vicente dos ingleses), incluindo os sonetos.

Há o cenário. Duas entradas encimadas pelo nome TEATRO DO GLOBO, com muitas estrelinhas. Simples e altamente eficaz.

Há os adereços. Muitas cabeleiras, espadas, coroas, corpos e decapitados, ratinhos, taças, fantasmas e iguarias do melhor (a melhor cabeça de empadão humano).

Há a música. De época no início, passando por um rap e uns falsetes de uma rapariga doida que não pára de andar aos saltos.

Há o público. Participativo, voluntarioso e sempre pronto a ajudar o amigo a subir ao palco.

Mas há acima de tudo o respeito e o gosto genuíno pelo teatro, apanágio da Companhia Teatral do Chiado, do seu director e restante staff (actores, bilheteira, técnicos, contra-regras, produtores, tradutores...).

Neste texto não posso, contudo, deixar umas linhas particulares a Simão Rubim. A levar este barco durante 11 anos sem nunca se afundar, brindando-nos no final de cada actuação com uma outra actuação. Desta feita apenas dele. Só em palco, uma peça dentro do final da peça. Mais de meia hora de uma genial improvisação, de um discurso agitador para realidades actuais diversas, de puro entretenimento que só um brilhante actor seria capaz de o idealizar e ousar realizar. E é aqui que me comovo sempre. Não pela amizade que por ele tenho (que é inesgotável) mas porque naqueles poucos mais de 30 minutos me apercebo do verdadeiro sentido do teatro, da extraordinária morfina que as tábuas de um palco são. É ali que eu imagino Mário Viegas e Juvenal Garcês, lado a lado, a rir do amigo e do verdadeiro sentido da vida.

Não desejo mais onze anos de Shakespeare mas, pelo menos, mais onze séculos de Teatro.

Sem comentários: