sábado, março 31, 2007

sexta-feira, março 30, 2007

MARIA CALLAS EM LISBOA E O ESCÂNDALO NA ÓPERA DE ROMA

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A passagem de uma grande cantora por Lisboa

Maria callas foi, talvez, a artista de quem recentemente pior se falou em todo o mundo, em repercussão da sua atitude no Teatro da Opéra de Roma.

Esperava-se com natural ansiedade a vinda da genial cantora ao nossa País, para se constatar se, de facto, Maria Callas mereceria tudo aquilo que lhe foi chamado: incorrecta, agressiva, mal educada. A crítica foi, porém, unânime em declarar que a artista é pura e simplesmente extraordinária, e não fez sequer alusão aos terríveis defeitos que lhe foram atribuídos.

Efectivamente, Maria Callas revelou-se interessante, elegantíssima, de lindos olhos e perfeitíssimos dentes, e... amável.

O seu sucesso no teatro S. Carlos foi tão estrondoso, como o foi o escandâlo que estalou em Roma, quando a cantora se recusou a cantar o final da ópera "Norma" de Bellini. E se bem que o assunto fosse delicadíssimo, Maria Callas não hesitou abordá-lo e a dar gentilmente as explicações que o público necessitava para poder continuar a acreditar nela.

Assim, a insigne artista declarou que não guarda rancor, nem aos jornalistas nem mesmo àqueles que a insultaram, sob a janela do quarto de hotel onde se encontrava hospedada. Apenas lamenta profundamente que Sampaoli, o director artístico do teatro de Roma, não a tivesse querido substituir, como Maria Callas desejava, em virtude de se não encontrar bem de saúde.

Coagida pelos seus deveres e animada por umas momentâneas melhoras, a artista acabou por cantar, tendo notado imediatamente a péssima forma em que se achava. Os aplausos que recebeu irritaram-na, porque sentiu que não eram merecidos, e a segunda ária que cantou veio confirmar a sua apreensão: a sua voz diminuira consideràvelmente e estava incapacitada de prosseguir.

As palmas que ouviu, enquanto se dirigia ao seu camarim, soaram dolorosamente aos seus ouvidos, e a sua indignação começou quando todos aqueles que a rodeavam pretenderam exigir que cantasse... de qualquer forma.

Então, deu-se qualquer coisa de difícil de explicar embora muito fácil de comprrender. Maria Callas que não preza ùnicamente a sua reputação, lembrou-se do respeito que a sua arte e até o nome do autor da "Norma" lhe mereciam e recusou-se terminantemente continuar o espectáculo.

Parece-nos que àquilo que se chamou o escândalo da Callas, se deveria chamar, com mais razão, o drama da Callas.

Por Lisboa, passou Maria Callas, deixando um rasto da sua arte, que só muito tempo poderá fazer esquecer. O resto é lamentável, mas lamentável principalmente pelo muito que a feriu.

Crónica Feminina, nº 73, 14-04-1958"

quarta-feira, março 28, 2007

O Meu Colega William Shakespeare - António Pedro


The Reduced Shakespeare Company is one of the world's best-known touring comedy troupes. Now in its fifth year at London's Criterion Theatre, the company's The Complete Works of William Shakespeare (abridged), an irreverent, fast-paced romp through the Bard's plays, is London's longest-running comedy.

Aos vinte e quatro dias de Novembro do ano da graça de mil novecentos e noventa e seis, estreava no reino dos Algarves, mais propriamente na cidade foraleira de Portimão, aquele que viria a constituir-se como o maior êxito teatral de sempre em terras lusas: As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos, homenagem de três norte-americanos não alinhados: Adam Long, Jess Borgeson e Daniel Singer, ao Gil Vicente lá das Terras de Sua Majestade: William Shakespeare! Paródia que mereceu desde então adjectivações várias: «alucinante», «irreverente», «cardíaco», «hilariante», «desopilante», «burlesco», «divertido», «transversal», «louco», «irresistível», «fenómeno», «endiabrado», «interactivo», «mordaz», «histriónico», «genial», «excelente», «imperdível», «incontornável», «truculento», «indispensável», «obrigatório», etc., etc., etc. ...!

Fabricante de luvas é o que o pai queria que ele fosse - e não foi. Letrado apenas ou filósofo em disfarce, poeta, vá lá! - mas não aquele mesmo "good William" que dirigia a companhia dos "Homens do Rei", montava e representava as suas peças em que nem sequer reservava para si os principais papéis, é o que queriam dele os literatos - mas também não foi.

O que ele foi é quem foi: William Shakespeare, nascido em Stratford-upon-Avon, no condado de Warwickshire em Inglaterra, (gentleman, sim senhor, mas depois de celebrizado) no dia 23 de Abril de 1564, ao que se supõe e gostariam os ingleses que fosse, por ser dia de S. Jorge. Esse, o tal que tendo escrito, montado e representado uma quantidade fabulosa de comédias e de tragédias durante cerca duma vintena de anos, deixou um dia a Londres que o glorificara e enriquecera tão calada e misteriosamente como lá chegara, para voltar a casa, aconchegar-se e morrer, outra vez no dia 23 de Abril - e desta feita a data é certa - de 1616, na cidade ribeirinha em que tinha nascido 52 anos antes.

Pois. E o resto é congeminação de congeminadores que nunca viram por dentro como uma peça se põe em pé. Que não sabem como o afluir do espectador à bilheteira depende de como é doseado o efeito dum diálogo ou acertado o comprimento duma cena. Pois! Que quem souber como elas mordem e vir como da exploração duma personagem pitoresca (nascida em outra peça e feita a pedido) surge essa maravilha de construção teatral que são as "nerry Wifes", aparentemente uma comédia de costumes, mas que toca as notas todas do divertimento, da farça à "féerie", não tem dúvida um momento sobre a identidade do autor. A identidade da profissão do autor - homem de dentro do teatro, a quem o génio fez sair do seu palco para a eternidade por obra e graça do Espírito Santo, que parece que é quem intervém nestas coisas, escrevendo, ali, às pressas, para que se pudesse ensaiar outra peça enquanto uma estava em cena, encurtando, aumentando, suprimindo e acrescentando cenas, segundo a qualidade e o número de actores de que dispunha e segundo o público a que destinava a representação.

Olha os literatos a fazerem destas coisas!

A grande trapalhada dos quartos e dos fólios, das discrepâncias textuais nas primeiras e segundas edições das suas obras, vem daí. A eternidade aconteceu-lhe. O que escrevia destinava-se à vida efémera da palavra falada, do conflito vivido por gente em face de gente - ao teatro, isto é - à ocasião.

Essa ocasião tinha condições extraordinárias no tempo da rainha Isabel. Os cais de Londres, ao pé dos quais estava "O Globo", formigavam de gente com dinheiro fácil e desejosa de emoções fortes; o mundo cultural da Renascença abrira-se a um horizonte imenso que os "humanistas" tinham sabido, pelo menos, ensinar que se podia conceber à medida do homem; o palco chamado isabelino - um grande proscénio aberto por três lados, encostado a uma parede perfurada e sobremontado por uma varanda - deixava livre a imaginação do autor sem as restrições aristolélicas da unidade de tempo e de lugar; a indumentária teatral era elementar, convencional e barata: Troilo e Créssida andavam em cena mais ou menos vestidos como o Hamlet e Lady Macbeth.

Ao grande aparato cenográfico da Idade Média sucedera-se a elementaridade sucinta dum palco em que tudo era a imaginar.

"Nesta arena de galos poderão caber
Os vastos campos da França?
Poder-se-ão, entre estas tábuas, juntar os capacetes
Que semeavam de espanto os ares de Agincourt?
Deixai trabalhar as forças da imaginação
Supondo agora que estão fechadas
Entre estas duas paredes
Duas grandes monarquias.
Supri com o pensamento a nossa imperfeição.
Quando falarmos de cavalos
Pensai vê-los marcando na terra mole os cascos orgulhosos.
É com essa imaginação que tendes de ataviar os reis,
Mudando-os de lugar, saltando sobre o tempo
E fazendo caber numa hora de ampulheta
O que leva muitos anos a acontecer." - Do prólogo de Henrique V.

É claro que o génio é génio e nunca o génio humano subiu a craveira mais alta do que a deste homem meão de estatura, bigodinho fruste, olhos redondos sempre de pálpebra visível e a testa despovoada de cabelo até ao cocuruto da cabeça, boca bem talhada, cabelos como asas emoldurando o oval do rosto até ao baixo das orelhas e, que nos seus retratos, se nos apresenta todo bem posto: gibão de veludo agaloado por várias bandas e o cabeção de renda engomada esticado, grande e todo triques-à-beirinha. Nem eu quero negar isso nem cometer a estultícia (tão à moda) de explicar por motivos sociais alheios e circundantes a misteriosa aparição do génio num indivíduo. Abelhas não somos e, mesmo as abelhas, só fabricam nas mestras a possibilidade monstruosa de porem ovos à bruta. Não é disso que se trata mas da liberdade.
Coitado do génio a que tudo atravanca o caminho e, desde a censura à finança, tudo o impede de manifestar-se! Nascido como nasceu, dotado como nasceu, um século mais cedo ou um século mais tarde, ou noutro lugar que não fosse a Londres daquele tempo (que o digam os espanhóis de génio seus contemporâneos) o significado, a extensão, a profundidade e a liberdade da sua obra, se não a sua beleza literária também genial, não teriam atingido o que atingiram.
Não fosse ele homem do palco ou fosse outro o palco para que concebia o seu teatro e as restrições do lugar lhe atrapalhariam a fluência. Prisões, campos de batalha, salas reais de trono, os pátios das conjuras, antros de feiticeiras, florestas, cemitérios, ruas de cidades a distâncias enormes umas das outras, sucedem-se ao ritmo fácil desta imaginação para que se apela, dum adereço dum telão ou dum letreiro.
Não fosse ele inglês e homem do seu tempo e essa cavalgada monstruosa de crimes, de ambições de conjuras infames e monstruosidades com que ele teceu o estofo dos tronos em que se sentaram as personagens duma história que viu à luz de mil archotes de sangue, e não soaria talvez ao cantante bronze dos sinos maravilhosos a sua liberdade de falar:

"Pompa vã e glória vã do mundo - eu vos odeio!
E sinto o coração de novo aberto. Quão miserável
É o pobre homem que depende do favor dos príncipes!
Existem, entre o sorriso a que aspiramos
No seu semblante ameno e a sua ruína
Mais angústias mortais e medos, do que existem
Ou guerras ou mulheres." - Henrique VIII, fala do cardeal Wolsey

Ser quem escreveu isto o próprio amante da rainha, como agora anda um preopinante a querer provar? Deixemo-nos de asneiras! [Nota Autor: É de propósito que não cito o autor da "nova teoria". Era só o que faltava dar-lhe publicidade!]
10 tragédias históricas, mais outras 13 tragédias, mais 14 comédias, ao que me lembro e falta-me a pachorra para ir verificar a certeza destes números... Tanto faz, neste caso, mais uma ou menos uma! Uma montanha. E, nessa montanha, a cada passo um espanto, quase a cada verso ou a cada linha de prosa uma beleza. Bem-aventurada fluência!

Notícias dele como autor e actor só se têm ao certo desde 1592. Tudo isso é mais ou menos depois dessa data e antes de 1614. E além das suas peças, ainda representou algumas de Ben Jonson. E, a avaliar pela comezaina que fez com ele e com Michael Drayton, de que lhe resultou a morte, segundo mais tarde contou o vigário de Stratford, e a contar com a caçada furtiva na coutada de Sir Thomas Lucy, a que deve ter-se seguido lauta ceia e foi o motivo concreto da sua quase fuga inesperada de Stratford para Londres - bendita hora! - ainda lhe sobrava tempo para pândegas...
Santo William Shakespeare, meu irmão, herói e mártir, como eu disse num programa de televisão, bicho de teatro pelo génio, pelo vício, por ofício e pelo sangue, perdoa aos literatos que não sabem o que dizem... e ensina-lhes, pelo menos, a escrever bem.

Festeja-se-lhe agora o centenário. Se houver homens na Terra e se não tiverem perdido a graça de falar, festejar-se-á o seu milenário também, que os homens mudam pouco, mesmo em mil anos, no que têm de essencialmente mau e essencialmente bom, nas suas ambições, no seu amor, nos seus ridículos e nas suas fúrias.
Festejá-lo-ão os homens, porque não arrefece o sangue vivo das suas personagens nem as envelhece o tempo. Festejá-lo-ão os poetas, porque foi poeta, os dramaturgos porque foi dramaturgo. Festejá-lo-ão sempre e sobretudo os homens de teatro, fabricantes do efémero, porque foi ao serviço dessas duas horas de riso ou de angústia que sempre tentam erguer no ar como um perfume que se desfaz, que um seu colega de génio compôs uma obra que o transcendeu ou transpôs efémero para a eternidade.

António Pedro, Revista Colóquio, nº 29, Junho de 1964, Fundação Calouste Gulbenkian".

Transcrevi este texto para o Juvenal e para o Simão... embora o Cintra também o devesse ler... se entender.

terça-feira, março 27, 2007

DIA MUNDIAL DO TEATRO

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E porque é hoje o Dia Mundial do Teatro, faço uma pequena homenagem a uma das maiores actrizes de sempre do Teatro em Portugal - Eunice Muñoz - que estreia hoje, no Teatro Municipal Maria Matos - a peça "Dúvida".
Desta vez foi buscar um artigo saído em 11 de Fevereiro de 1965, na revista Colecção Cinema. Assim, homenageia-se a actriz pelo seu trabalho nos palcos e nos ecrãns.
Espero que gostem.
"Galeria do Cinema Nacional - Eunice Muñoz
- Nome completo: Eunice do Carmo Muñoz Borges
- Nasceu em Lisboa, a 30 de Julho de 1930
A considerada pela crítica como a maior actriz da sua geração, Eunice Muñoz possui uma excepcional galeria de interpretações teatrais, das quais se destacam "Joana d'Arc", "O Milafre de Ana Sullivan" e "O Adorável Mentiroso". Não é só no drama que se distingue, pois no desempenho noutro género notabiliza-se da mesma forma. Recordemos a sua presença na farsa ("Os Direitos da Mulher" e "Três em Lua de Mel") e mais recentemente na comédia ("Mary Mary").
Ao longo dos seus 23 anos de actividade, intercalados com um período de desânimo no qual tentou ser uma empregada comercial, Eunice tem dado o seu concurso, sempre com nota de relevo, à Rádio e Televisão, interpretando folhetins e diversos apontamentos de tele-teatro, destacando-se neste último sector "As Cenas da Vida de uma Actriz".
FILMOGRAFIA
1946 - "Camões", de Leitão de Barros
- "Um Homem do Ribatejo", de Henrique Campos
1947 - "Os Vizinhos do Rés-do-chão", de Alexandre Perla
1948 - "Não há Rapazes Maus", de Eduardo Maroto, (Onde a sua voz se ouvia, narrando a biografia do Padre Américo)
1949 - "A Morgadinha dos Canaviais", de Caetano Bonucci
- "Ribatejo", de Henrique Campos
- "Cantiga da Rua", de Henrique Campos
1964 - "O Trigo e o Joio", de Manuel Guimarães."

quarta-feira, março 21, 2007

Projecto Guttenberg


Acede ao blog www.pagina-a-pagina.blospot.com e fica a saber do que se trata o Projecto Guttenberg.
Podes inscrever-te como revisor de obras ou fazer download de milhares de livros - EBOOK - em várias línguas e sobre variadíssimos assuntos, em formato txt.
Pode-se ainda descarregar IMAGENS, PARTITURAS DE MÚSICAS, AUDIOFILES, AUDIOBOOKS, e tudo de uma forma legal e autorizada, pois este trata-se de um projecto institucional a nivel mundial.
Vale a pena passar por lá.
Para saber mais podes também visitar http://www.gutenberg.org/wiki/PT_Principal.
Lista completa

Esta é a lista completa de obras em língua portuguesa concluídas e disponíveis no Projecto Gutenberg. A grande maioria passou pelo Distributed Proofreaders.
Por ordem alfabética (autor):
Ameno, Francisco Luís
Anchieta, St. Joseph
Anes, Bandarra Gonçalo
Azevedo, Guilherme d’
Barbosa, Vicente
Bocage, Manoel Maria de Barbosa du
Braga, Teófilo
Brandão, Raúl
Camões, Luis Vaz de
Castelo Branco, Camilo
Castilho, António Feliciano de
Castro, Urbano de
Coelho, Trindade
Daniel, João
Dinis, Júlio
Espanca, Florbela
Feijó, António
Figueiredo, António Cândido de
Fonseca, Sebastião da
Freitas, Joaquim de Melo
Galvão, Duarte
Garrett, Almeida
Gil, Augusto
Gonzaga, Tomás António
Herculano, Alexandre
Lendas e Narrativas
Volume I;
Volume II;
Opúsculos por Alexandre Herculano
Volume I;
Volume II;
Volume IV;
Volume V;
Volume VII;
Volume IX;
Junqueiro, Guerra
Leal, José da Silva Mendes
Lopes, Fernão
Matos, Júlio de
Neto, J. Simões Lopes
Nobre, António
Nunes, Cláudio José
Ortigão, Ramalho e Queirós, Eça
As Farpas:
Pato, Raymundo Antonio de Bulhão
Pina, Rui de
Queirós, Eça de
Quental, Antero de
Sepúlveda, Cristóvão
Serpa Pinto, Alexandre Alberto da Rocha de
Silva, Possidonio da
Tolentino, Nicolau
Vasconcellos, António Augusto Teixeira de
Verde, Cesário
Viana, A. R. Gonçalves
Villeneuve, João

Dia Mundial da Poesia - Poema para Galileo









Poema para Galileo - António Gedeão

Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.


Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… eu sei…
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!


Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.


Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar- que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação-
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.


Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.


Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.


Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas- parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e descrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai Galileo!
Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.


Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto incessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos.

segunda-feira, março 19, 2007

Diz-me quem és, dir-te-ei em quem votas.

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Divirta-se com este fantástico quadro de Rui Ramos, sobre a temática do Concurso da RTP - "Os Grandes Portugueses"... genial.
In: Revista Atlântico, Março de 2007


O Melhor de "Bandeira"





GRANDE FESTA DE ANIVERSÁRIO VAMPIRICA - ROCK IN CHIADO


GRANDE FESTA VAMPÍRICA
No próximo dia 6 de Abril, o espectáculo As Vampiras Lésbicas de Sodoma completará um ano de representações. Para assinalar o aniversário, o Clube de Fãs As Vampiras Lésbicas de Sodoma está a organizar uma festa no Rock In Chiado, mesmo ao lado do Teatro-Estúdio Mário Viegas, a que a Companhia Teatral do Chiado se associará, comparecendo em peso: elenco, encenador e restante equipa.
Como a festa é para todos, os espectadores da sessão desse dia estão automaticamente e compulsivamente convidados a aparecerem no referido espaço nocturno a partir das 00h30, para co-celebrar a Grande FestaVampírica! Caso não consiga bilhete para a representação dessa noite memorável não desespere, porque, ainda assim, a sua presença não só será permitida como desejada. Promete-se muita música, muita festança e folguedo e, claro (ou será melhor dizer escuro?! Afinal é de"vampirices" que se trata!),… muita, muita dentada!
Deixamos o melhor para o fim: o consumo mínimo é de €5,00; uma bagatela para conviver de perto com as estrelas, como aliás se pode comprovar com a recém nomeação do espectáculo para a edição de 2007 dos Globos de Ouro da SIC/Caras.
NÃO FALTEM E DIVULGUEM A GRANDE FESTA VAMPÍRICA