Amélia Muge apresentou-se ontem à noite na Culturgest para apresentar o seu último álbum "Não sou daqui".
Com um grupo extraordinário de músicos a acompanhá-la - Filipe Raposo, Yuri Daniel, José Manuel David, e Carlos Mil-Homens - Amélia Muge proporcionou uma viagem mágica de som, imagem e poesia.
Interpretando letras de Natália Correia, Hélia Correia, António Ramos Rosa, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio Lisboa, Grabato Dias e da própria Amélia Muge, fomos transportados para o mundo de sonho e de fantasia da artista.
Com uma concepção plástica absolutamente genial - em que um "pintor" de génio ia fazendo a computador diversas pinturas que iam ilustrando cada um dos temas, sendo projectadas num enorme ecrãn ao fundo do palco - fomos sendo levados pela voz poderosa e cativante de Amélia Muge até ao seu mundo, mundo esse feito de sonhos, optimismo e beleza.
Senhora de um à-vontade sincero, Amélia Muge comunica com o seu publico não apenas com a sua voz, mas também com os seus olhos, o seu sorriso, com o baloiçar discreto do seu corpo e, acima de tudo, com aquilo que não diz.
Profundamente honesta, Amélia Muge irradia, como um farol, uma luz transparente que nos abraça e emociona, enchendo a nossa alma de sentimentos belos, de uma calma de barco atracado em maré baixa, como se anjos nos levassem ao céu e nos mostrassem onde mora em nós o reino desaparecido do "Prestes João".
Qualquer tentativa de descrever a magia da noite de Sábado na Culturgest é vã e ficará sempre àquem das emoções sentidas. Ficam na memória as quase duas e meia de um espectáculo que deveria demorar apenas hora e um quarto. Fica na memória as ovações prolongadas, as lágrimas sentidas derramadas, a beleza das imagens, do som da voz e dos pensamentos intimos provocados.
Outras conversas. Outras descobertas. A música popular portuguesa só? E então a poesia que não cabia nos ritmos populares portugueses? Que imagens para esta música? Que territórios para os sentidos do cantar? O Teatro. Mário Viegas. A Céu Guerra. O Alberto e a Priscila. A Educação sempre. De todos para todos. A serra Algarvia. A Vica. A poesia tecendo os encontros. As tecedeiras de Cachopo.
In: Programa do concerto: Texto de Amélia Muge
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