domingo, novembro 05, 2006

O Meu "Jackpot" no Casino Lisboa


Ontem, dia 4 de Novembro, fui pela primeira vez ao Casino Lisboa e, por apenas 25 euros, saiu-me um JACKPOT... mais um inesquecível concerto de Carlos do Carmo.
Após ter ido à sessão das 15 e 20 ver o filme "Em Paris" - que desde já recomendo - passei pela FNAC do Saldanha Residence com o intuito de comprar dois bilhetes - para a minha mãe e irmã - para assistirem ao concerto de Rui Veloso no Pavilhão Atlântico. Acabei por sair de lá com um bilhete, para mim, para o Carlos do Carmo no Casino Lisboa.
Já perdi a conta ao número de concertos dados por Carlos do Carmo a que já assisti - creio que o primeiro foi no Teatro Camões - e creio que acabo sempre por achar que o último é sempre melhor que o anterior. Desta vez... a história repete-se.
Foi um grande, grande concerto. Sala cheia com um "público de elite", usando uma expressão do próprio Carlos do Carmo. Recebido logo em apoteose, o ritmo manteve-se assim até ao final.
Muito humor, muitas verdades e inúmeros recados à industria discográfica e às rádios portuguesas. - "Se me quiserem ouvir cantar, sintonizem a Radio Nacional de Espanha... canto lá todas as noites", ironizava Carlos do Carmo, referindo que passa mais música portuguesa nas rádios estrangeiras que nas nacionais.
Homenageou Lucilia do Carmo que, se fosse viva, completaria neste dia 4 de Novembro, 87 anos de vida. Carlos do Carmo escolheu cantar do reportório de sua mãe o fado que ele e o pai mais gostavam de ouvir Lucilia cantar - "Olhos Garotos" (que a fadista Raquel Tavares incluiu no seu disco de estreia). Este tema trouxe também consigo uma homenagem a Jaime Santos e João Linhares Barbosa.
Carlos do Carmo abriu-nos o apetite durante o concerto ao cantar três novissimos fados que irão estar presentes no seu próximo disco, cuja gravação irá começar dentro de meses. Colocou os óculos, pediu desculpa por ter de usar cábula e cantou três espantosos fados. Um escrito por Nuno Júdice, outro por Júlio Pomar (sim, o pintor) e um outro, se a memória não me falha, por Fernando Pinto do Amaral. Os fados são fantásticos, surpreendentes, sendo "o fado mais jovem" o escrito pelo octogenário Júlio Pomar. Pela amostra dada será, com toda a segurança, um disco cheio de emoções e que nos irá trazer toda uma nova geração de poetas para o Fado.
O resto, foi todo um desfilar de parte dos grandes êxitos de Carlos do Carmo - faltando apenas, com grande pena minha, "Estrela da Tarde", de Ary dos Santos -, recentes ou antigos... na sua maioria acompanhados pela belissima Orquestra Sinfonietta de Lisboa.
Foram duas horas de pura magia em que eu pude exorcizar e transpôr vários estados de alma, fosse choro ou riso, melancolia ou euforia, Vida ou Morte.
Quanto à voz e postura de Carlos do Carmo em palco nem vale a pena referir... são 43 anos a pisar as tábuas... já não tem que provar nada a ninguém. As ovações de pé, os "bravo", os demorados "encores" e as caras comovidas e satisfeitas da assistência disseram tudo.
Como se vê, foi mesmo uma noite de JACKPOT e dos grandes... e ainda tive direito ao fado (ou cançã0) "No teu Poema" que, a meu ver, é um dos mais belos poemas de sempre (então a versão cantada por Simone de Oliveira derrota-me por completo).
Só me resta dizer - Obrigado!

NO TEU POEMA

No teu poema
existe um verso em branco e sem medida,
um corpo que respira, um céu aberto,
janela debruçada para a vida.

No teu poema existe a dor calada lá no fundo,
o passo da coragem em casa escura
e, aberta, uma varanda para o mundo.

Existe a noite,
o riso e a voz refeita à luz do dia,
a festa da Senhora da Agonia
e o cansaço
do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio,
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
existe o grito e o eco da metralha,
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonhos inquietos de quem falha.

No teu poema
existe um cantochão alentejano,
a rua e o pregão de uma varina
e um barco assoprado a todo o pano.
Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
existe a esperança acesa atrás do muro,
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro.

José Luis Tinoco

2 comentários:

Arnaldoooooo disse...

Bonito poema, espantoso cantor. Partilho o teu (bom) gosto

Anónimo disse...

Olá amiguinho: gostei muito do seu texto sobre o concerto do Carlos do Carmo e do poema...muito espontâneo e verdadeiro.
Parabéns e um abraço
zé maria