Na Sexta e Sábado assisti a dois incríveis concertos de Fado no nosso lindo e deslumbrante Castelo de São Jorge. Foram eles os concertos de Aldina Duarte e Kátia Guerreiro.
Aldina Duarte é aquilo mesmo. Alma autêntica, Fado puro e cru na voz, sensualidade no corpo e ingenuidade no sorriso. Uma fadista a 100%, sem artifícios ou encenações. Tudo em Aldina é espontâneo, do momento presente. Todo o poder das palavras saem da sua voz de forma natural, apaixonada e, acima de tudo, de forma honesta. Ah... e canta muitas vezes sentada, o que não é para todos. Sem dúvida a melhor do Fado Tradicional.
Kátia Guerreiro enche-nos com a sua presença, a sua voz que parece não conhecer limites, a sua simpatia em palco. Os seus "covers" de alguns fados de Amália Rodrigues são absolutamente deslumbrantes, não chocando rigorosamente nada ouvi-los na voz de Kátia, como tantas vezes sucede quando um cantor canta uma música que rapidamente se associa a outro que foi o melhor, o original, o divino (como acontece tantas vezes com os que teimam em cantar Amália Rodrigues).
Os fados originais de Kátia Guerreiro têm poemas lindos de alma e conteúdo. O Amor, a Traição, o Ciúme, todos os ingredientes da vida estão contemplados, quase como sendo escritos de um Diário que nós mesmo redigimos.
O grande senão do concerto foi a cena familiar semi-improvisada, com uma criancinha a subir ao palco, o público de coração enternecido, as gracinhas da criancinha e a dita criatura a distrair o público no momento maior do concerto quando Kátia cantou o "Gaivota". O público, estúpido, preferiu rir das gracinhas da criancinha, todos aos "AH" e aos "OH", como se o "Gaivota" da Kátia ouvissem por aí aos pontapés e criancinhas não as houvesse mais, por aí, com as mesmas gracinhas. (Mas por que raio têm as pessoas que ficar sempre com cara de idiotas embevecidos sempre que aparece uma criança?)
No entanto, e como disse quem comigo foi ao concerto, é tempo de a Kátia Guerreiro pensar os seus espectáculos de outra forma. Tem de se deixar levar mais pela espontaniedade, pelo improviso e pela emoção. Os seus concertos tornam-se previsíveis, com as mesmas graças supostamente espontâneas, com os belíssimos efeitos da sua voz sempre nos mesmos sítios.
O poder da voz de Kátia Guerreiro é inesgotável. Resta agora que aprenda a usá-lo de uma forma mais verdadeira e consentânea com o Fado.
Sem dúvida, a melhor (apesar de tudo) do Fado Novo... mas sem criancinhas.
1 comentário:
Esperemos que a Kátia perceba que não precisa de aplausos fáceis nem de falsos improvisos para mostrar a excelente fadista que já o é, tornando cada espectáculo seu verdadeiramente único.
Enviar um comentário