sexta-feira, junho 16, 2006


Beato Nuno Álvares Pereira
Cura milagrosa de olho abre caminho à canonização

Uma cura, alegadamente milagrosa, de um olho de uma mulher de 61 anos pode ser a chave para a conclusão do processo de canonização do beato Nuno Álvares Pereira, que foi aberto pelo Patriarcado de Lisboa. Segundo Francisco Rodrigues, frade carmelita e vice-postulador para a Canonização do Beato Nuno de Santa Maria, os relatórios médicos desta cura confirmam que a ciência não tem explicação para este caso, pelo que falta apenas autorização do Vaticano para que se constitua o tribunal canónico que vai analisar o processo de canonização.
O relato do presumível milagre confirma a intervenção divina de Beato Nuno no processo de cura do olho esquerdo de uma mulher residente em Ourém, que ficou queimado com óleo que saltou de uma frigideira a ferver. Depois do acidente, em Setembro de 2000, a idosa consultou vários especialistas, que confirmaram que uma eventual recuperação da visão nesse olho, caso viesse a suceder, demoraria sempre um mínimo de um ano.

O olho deveria ficar tapado de forma a não ser sujeito à luminosidade do sol e a senhora era obrigada a tomar medicamentos diários na tentativa de debelar a queimadura. “Mas mesmo com esses tratamentos não havia garantia de cura e a solução poderia ser um transplante de córnea”, explicou à Agência LUSA o Pe. Francisco Rodrigues,

Depois de várias novenas ao Santo Condestável feitas pelo pároco local e familiares, na noite de 7 de Dezembro de 2000, a senhora “encheu-se de coragem” e rezou de forma intensa ao Beato Nuno, tendo beijado uma imagem sua. «Logo então sentiu uma paz imensa. Foi sentar-se no sofá, ligou a televisão e apercebeu-se que via desse olho», recorda o sacerdote.

De acordo com o vice-postulador, existem «várias graças divinas» que envolvem a intercessão de Beato Nuno, entre os quais «curas de vários tipos de cancro» mas os responsáveis do processo entenderam avançar apenas com este caso já que é mais «evidente» e «simples de provar».

Devido à existência de vários documentos médicos que confirmam a incapacidade e a posterior recuperação da visão, a Postulação para a Causa para a Canonização do Beato Nuno decidiu avançar com o processo, tendo enviado várias informações para o Vaticano, que acolheu com agrado a proposta.

Agora, falta somente a confirmação da Santa Sé para que o tratamento e acompanhamento desta alegada cura seja feita pelo Patriarcado de Lisboa, que irá constituir um tribunal diocesano, à semelhança do que já sucede com a canonização dos Pastorinhos de Fátima.

«O cardeal D. José Policarpo está muito empenhado, bem como o cardeal D. Saraiva Martins», prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, entidade que tutela todos os processos de santidade antes de chegarem ao Papa. Posteriormente, caberá à Congregação dos Carmelitas «propor a canonização do Beato Nuno», explicou Francisco Rodrigues, mostrando-se entusiasmado com a possibilidade de concluir um processo que tem várias centenas de anos.


Mais frade que militar

Depois da sua beatificação, em 1918, por duas vezes, a Igreja tentou promover a sua canonização, que permite o seu culto universal e não apenas em Portugal, como agora sucede.

Em 1940, o Papa Pio XII tentou «canonizá-lo por decreto» como «exemplo do soldado cristão num tempo de guerra» mas pouco tempo depois optou por um processo normal, alicerçado em milagres ou graças divinas. Na década de 60, a Ordem dos Carmelitas deu um novo fôlego ao projecto mas o início da guerra colonial acabou por fazer fracassar esses intentos, com receio de que fosse mais valorizado o seu papel como soldado do que como religioso.

«Penso que agora é que é o momento certo para a sua canonização. Em que é mais importante o seu papel como frade do que como militar», justifica o vice-postulador, embora salientando que as suas virtudes pessoais já eram nítidas durante a crise de 1383-85.

Então, D. Nuno Álvares Pereira, que é também fundador da Casa Real de Bragança, optou pelo Mestre de Avis já que recusava entregar o trono a partidários de Castela, que então apoiava o Papa de Avinhão, ao contrário de Portugal, que defendia a Cúria de Roma, durante o cisma do Ocidente.

Francisco Rodrigues recorda mesmo que D. Nuno Álvares Pereira nunca praticou «guerra ofensiva» e obrigava os seus soldados a confessar-se e a ir à missa com regularidade, proibindo-os ainda de perseguir os espanhóis derrotados após as batalhas.

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