"Sesimbra: Retrato de uma vila de pesca" - Fotografia e cinema de Denyse Gerin-Lajoie de 17 de Maio a 24 de Junho
SOCIEDADE NACIONAL DE BELAS ARTES
Rua Barata Salgueiro, nº 36
1250-044 Lisboa
Tel.: 213138510
Fax: 213138519
SESIMBRA
FOTOGRAFIA E CINEMA
Quando, há quinze anos, decidi partilhar a minha vida entre Montreal e Lisboa interessei-me fotograficamente por diferentes aspectos da vida portuguesa e em especial pela questão da pesca, questão que sempre me pareceu primordial na vida e na cultura dos portugueses. Uma região me apaixonou: Sesimbra. Ávida desta vila, onde jovens e adultos se dedicavam à pesca artesanal e onde os preparativos para as idas ao mar se desenrolavam nas próprias ruas, fascinou-me de maneira indescritível. Lembrei-me então de uma época, agora longínqua, em que os pescadores do Québec navegavam pelo rio Saint Laurent à procura do bacalhau que, naqueles anos, existia em grande abundância naquelas águas frias. Veio-me também à memória a epopeia dos pescadores portugueses que partiam para aquelas regiões à procura dos cardumes do rei dos peixes e isso antes de o Canadá existir como país.
Dizem que Sesimbra foi em tempos um abrigo para piratas. Mas também foi de lá que partiram muitos dos barcos que levaram os portugueses até mares inóspitos e desconhecidos, assim como serviu de fortaleza estratégica, primordial nas lutas contra os inimigos, vindos por terra e por mar. Mas agora, na minha frente, ali estavam os homens que, desde tempos imemoráveis, arriscam a vida no mar e as mulheres que, desde sempre, ficam em terra à espera, abafando a angústia, esperando um regresso são e salvo, ambos, tanto eles como elas, vivendo simultaneamente a tradição e a modernidade.
Foi em 1989 que, pela primeira vez, fui a Sesimbra. Estávamos no mês de Março e fazia um tempo esplendoroso. Ainda me lembro, com toda a nitidez, da minha primeira descida em direcção à Vila seguindo a estrada que serpenteia a colina, da vista sobre o mar, das casas dispersas pela encosta, até chegarmos, de súbito, ao Porto de Abrigo, fervendo de múltiplas actividades, por entre os barcos de mil cores, ancorados na água azul. Seguiram-se as marchas pela ruas estreitas e sinuosas, evitando as redes e as cordagens para não importunar o trabalho dos pescadores que se preparavam para voltar ao mar. As pessoas na rua, o mercado, as lojas, os restaurantes e os cafés, as janelas floridas, por vezes com peixes pendurados a secar ou roupa estendida, ao Sol, nas cordas, formavam um quadro palpitante de vida e de cor. Vinda do Norte, tudo isto me parecia um sonho, inesquecível. Um verdadeiro espectáculo, uma imensa explosão de cores. Intrigava-me também a atmosfera muito especial que se desprendia deste canto do mundo que eu desconhecia e que encontrava pela primeira vez. Disse então para comigo: um dia voltarei para fotografar a vida desta radiosa vila.
Vai-se a Sesimbra, não se passa por ela. De facto, a estrada que lá nos leva não tem outro destino, ela acaba junto ao mar. Quando alguém vai a Sesimbra fá-lo porque quer, por desejo, por necessidade. Ou então por erro, ou por sorte, dir-se-ia. Embora aí tenha voltado várias vezes, só no Outono de 1993 iniciei de facto o meu projecto e durante três anos fiz inúmeras estadias, fotografando as pessoas, os lugares, as actividades, os gestos e os objectos, a todas as horas do dia e durante quase todos os meses do ano. A pouco e pouco, dos planos afastados, fui-me aproximando dos pescadores e das suas famílias, das crianças, das pessoas na rua, dos comerciantes e da vida que se desenrolava em frente dos meus olhos e da minha câmara.
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SESIMBRA
FOTOGRAFIA E CINEMA
Quando, há quinze anos, decidi partilhar a minha vida entre Montreal e Lisboa interessei-me fotograficamente por diferentes aspectos da vida portuguesa e em especial pela questão da pesca, questão que sempre me pareceu primordial na vida e na cultura dos portugueses. Uma região me apaixonou: Sesimbra. Ávida desta vila, onde jovens e adultos se dedicavam à pesca artesanal e onde os preparativos para as idas ao mar se desenrolavam nas próprias ruas, fascinou-me de maneira indescritível. Lembrei-me então de uma época, agora longínqua, em que os pescadores do Québec navegavam pelo rio Saint Laurent à procura do bacalhau que, naqueles anos, existia em grande abundância naquelas águas frias. Veio-me também à memória a epopeia dos pescadores portugueses que partiam para aquelas regiões à procura dos cardumes do rei dos peixes e isso antes de o Canadá existir como país.
Dizem que Sesimbra foi em tempos um abrigo para piratas. Mas também foi de lá que partiram muitos dos barcos que levaram os portugueses até mares inóspitos e desconhecidos, assim como serviu de fortaleza estratégica, primordial nas lutas contra os inimigos, vindos por terra e por mar. Mas agora, na minha frente, ali estavam os homens que, desde tempos imemoráveis, arriscam a vida no mar e as mulheres que, desde sempre, ficam em terra à espera, abafando a angústia, esperando um regresso são e salvo, ambos, tanto eles como elas, vivendo simultaneamente a tradição e a modernidade.
Foi em 1989 que, pela primeira vez, fui a Sesimbra. Estávamos no mês de Março e fazia um tempo esplendoroso. Ainda me lembro, com toda a nitidez, da minha primeira descida em direcção à Vila seguindo a estrada que serpenteia a colina, da vista sobre o mar, das casas dispersas pela encosta, até chegarmos, de súbito, ao Porto de Abrigo, fervendo de múltiplas actividades, por entre os barcos de mil cores, ancorados na água azul. Seguiram-se as marchas pela ruas estreitas e sinuosas, evitando as redes e as cordagens para não importunar o trabalho dos pescadores que se preparavam para voltar ao mar. As pessoas na rua, o mercado, as lojas, os restaurantes e os cafés, as janelas floridas, por vezes com peixes pendurados a secar ou roupa estendida, ao Sol, nas cordas, formavam um quadro palpitante de vida e de cor. Vinda do Norte, tudo isto me parecia um sonho, inesquecível. Um verdadeiro espectáculo, uma imensa explosão de cores. Intrigava-me também a atmosfera muito especial que se desprendia deste canto do mundo que eu desconhecia e que encontrava pela primeira vez. Disse então para comigo: um dia voltarei para fotografar a vida desta radiosa vila.
Vai-se a Sesimbra, não se passa por ela. De facto, a estrada que lá nos leva não tem outro destino, ela acaba junto ao mar. Quando alguém vai a Sesimbra fá-lo porque quer, por desejo, por necessidade. Ou então por erro, ou por sorte, dir-se-ia. Embora aí tenha voltado várias vezes, só no Outono de 1993 iniciei de facto o meu projecto e durante três anos fiz inúmeras estadias, fotografando as pessoas, os lugares, as actividades, os gestos e os objectos, a todas as horas do dia e durante quase todos os meses do ano. A pouco e pouco, dos planos afastados, fui-me aproximando dos pescadores e das suas famílias, das crianças, das pessoas na rua, dos comerciantes e da vida que se desenrolava em frente dos meus olhos e da minha câmara.
Exposição integrada no Lisbon Village Festival
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