domingo, abril 02, 2006

MARGARIDA REBELO PINTO - João Miguel Tavares - Diário de Noticias
Até há dois dias, o nome de João Pedro George era apenas conhecido num pequeno círculo de happy few, que gostam de livros e se interessam por quem gosta de escrever sobre eles. Graças a uma providência cautelar e a uma obra que ainda nem sequer foi lançada, João Pedro George transformou-se subitamente em protagonista de telejornais e numa das caras mais feias que já foram primeira página do 24 Horas. Nada disto seria possível sem o patrocínio de Margarida Rebelo Pinto (marca registada).
Margarida Rebelo Pinto (marca registada) é uma escritora medíocre mas uma mulher inteligente. Ela e o seu editor acusam João Pedro George, tristemente um homem sem marca registada, de ser o "caso evidente de uma pessoa que quer usar o nome da Margarida Rebelo Pinto para ganhar dinheiro", ao preparar-se para editar o livro Couves & Alforrecas, os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto, onde desanca no talento literário da romancista light. Eu não conheço pessoalmente João Pedro George, mas basta ter lido dois ou três textos seus e olhar para a cara que Deus lhe deu para se perceber que não estamos propriamente diante de um capitalista desvairado. Já de Margarida Rebelo Pinto (marca registada) não se pode dizer o mesmo. Ora, na verdade, ela está com um problema bem maior do que ele: as vendas dos seus romances caíram a pique e da sua pena não saem nem Códigos nem Codexes. Para Abril está previsto o lançamento do seu novo livro, Diário da Tua Ausência, e como acontece com todos os light que começam a escorregar pela ladeira, provavelmente ninguém iria dar por isso.
Margarida Rebelo Pinto (marca registada) arranjou forma de contornar o problema imolando o crítico mais provocador - e um dos mais instruídos - da nossa praça. Na verdade, não vale a pena chatearmo-nos muito, porque é um confronto onde todos vão ganhar: João Pedro George vai esgotar as Couves e Margarida Rebelo Pinto vai fazer render a sua mais recente alforreca. Claro que, no campo dos princípios, a acção contra George é uma pouca-vergonha. Mas as marcas registadas não têm vergonha.

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