segunda-feira, janeiro 23, 2006

Do extraordinário blog http://blogcasmurro.blogspot.com/ - Gustavo Rubim escreveu:

"Os saudosos de Carrilho
Eu poderia, claro, subscrever esta posição do Eduardo Pitta no Da Literatura (como, de facto, subscrevo) e não me chatear mais. Infelizmente, abri a caixa de correio electrónico e estava lá uma mensagem a sugerir, pasme-se, que eu assinasse a petição contra o Ministério da Cultura a que o Eduardo Pitta se refere. Ora, isso já pede que uma pessoa se chateie. E como o Groucho meteu férias há que tempos, aproveito para me chatear aqui.
Começo pela evidência: se há um projecto para privilegiar, no Teatro Nacional, o teatro nacional e se a nação calha a ser a portuguesa, só resta discordar. Para ser claro: discordar com veemência. Talvez só restasse também discordar se a nação fosse outra qualquer, mas já não seria, digo eu, com a mesma evidência (e muito menos com a mesma veemência) se a nação calhasse a ser, por exemplo, a inglesa. Há diferenças. Estamos a falar de teatro.
Agora, se continuarmos por aí, a propósito do Teatro D. Maria II e da tal petição, vamos de certeza desconversar. A petição não tem nada a ver com isto. A petição apareceu porque o director até aqui do Teatro D. Maria II ― António Lagarto ― foi trocado por outro director. O agora ex-director António Lagarto não é um qualquer: é uma pessoa com ligações conhecidas, mais amigo de umas pessoas «da cultura» do que de outras pessoas «da cultura», e essas ligações e esses amigos é que foram aos arames com a substituição e é que tiveram a ideia da petição. O ex-director António Lagarto não estava no Teatro Nacional só pela sua pessoa: representava com muita competência os amigos e as ligações, como só não vê quem anda cá a ver passar os eléctricos.
Portanto, não vale a pena sequer discutir a programação que o ex-director inventou para o Teatro D. Maria II, porque salta aos olhos que não era nada que se parecesse com o que deve ser a programação de um Teatro Nacional. Há muitos anos que em Portugal (não é só em Lisboa) deixou de haver qualquer coisa de parecido com um Teatro Nacional, com a programação artística de um Teatro Nacional e o público de um Teatro Nacional. Com o ex-director António Lagarto apenas continuou a deixar de haver.
Os autores da famigerada petição não têm saudades de haver um verdadeiro Teatro Nacional em Portugal, têm só saudades de outro ministro e por isso é que a petição deles é contra a ministra actual e não tem nada a ver com teatro. Os autores da petição têm (e por excelentes razões) saudades do ministro Manuel Maria Carrilho e querem-no de volta, a ele ou a alguém do género dele ou com as, vamos lá, ideias dele.
Isto é que chateia: as pessoas não dizerem mesmo ao que vêm!"

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