terça-feira, novembro 22, 2005





ROMANCE DO COMBOIO

Vastos campos do Mondego
(eram campos, campos, campos...),
com choupos que têm alma
(António Nobre morreu...),
com verdes que são saudades
de Primaveras antigas.

Onde a água é mais calada
foi que perdi os meus olhos.
(Mas onde estava a tricana?)
Eram campos, campos, campos...
Mas onde estava a tricana?
Já Coimbra se não via
e ainda ela sorria
no aceno das minhas mãos.

No meu gesto havia choupos,
campos vastos, vastos, vastos,
águas suspensas à escuta
(que versos de que poeta
escutam aquelas águas?),
risos, silêncios e mágoas
de uma tricana escondida.

Na sua marcha o comboio
era uma égua de Espanha.
(Só vento norte de Espanha
lhe pode matar o cio.)
Fumegava, fumegava...
De paixão e de volúpia,
tinha as crinas eriçadas...
Só eu ouvia a voz triste
(por que mistério fui eu?)
que vinha não sei de aonde.
Era triste, triste, triste...

- Se não foi choupo nenhum,
quem foi que disse à tricana
que António Nobre morreu?

Sebastião da Gama, Campo Aberto

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