sexta-feira, julho 15, 2005

Fotografia do Castelo de São Jorge - Lisboa - 1877

8 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns ao pesquisador
pela descoberta deste documento praticamente desconhecido.
Desde há muito que se sabia que Portugal possui uma riquíssima documentação fotográfica que certamente, muito contribuirá para se ter uma ideia de como eram certas regiões do País na último quartel do século XIX.
Graças às obras da DGEMN nas décadas de 30 e 40 do século XX, foram restituídos aos monumentos a sua dignidade original. Muitas das intervenções foram polémicas, é certo, pois "apagaram" muitas intervenções realizadas em épocas posteriores e que faziam parte da história do monumento. Mas no caso em apreço, sem dúvida que o castelo de São Jorge ficou bastante mais valorizado.
Parabéns pelo achado.
Abraços
zemaria

Anónimo disse...

A DGEMN fez, nas décadas de 1930 e 1940, crimes extraordinarios um pouco por todo o País. É estranho ver agora alguém dizer que o Castelo estilo "portugal dos pequeninos" que o Estado Novo nos legou com as suas destruições é melhor que a enorme massa monumental da "praça militar" que existia e que correspondia a edificios construidos entre os séculos XVI e XVIII.
Pior que essa só aquela tolice de dizer que falta monumentalidade a Lisboa, quando é precisamente a ausencia dessa dita monumentalidade (inventada pela cidade oitocentista) que é a marca mais caracteristica e original da nossa capital.
Quanto aos documentos por descobrir o que tambem nao falta sao historiadores preguiçosos e que há décadas que nao poem as ferraduras nos arquivos.

Anónimo disse...

É pena que alguém, de uma forma masoquista, prefira defender a ruina à reabilitação. Basta ler os escritos de Herculano,Garrett ou Ramalho para se ter ideia do estado em que se encontravam grande parte dos monumentos do País no século XIX por via da extinção das Ordens Religiosas em 1834, do saque e das revoltas permanentes. Basta ler os boletins de obra da DGEMN sobre as intervenções nos monumentos para se ter uma ideia do imenso trabalho que foi feito em defesa da nossa identidade, embora como foi referido certo tipo de trabalhos de restauro tivessem sido realizados de uma foram radical. Está tudo lá: preto no branco.
Só um troglodita pode comparar a obra realizada no Castelo de São Jorge ao Portugal dos pequeninos!
zemaria

Anónimo disse...

Caro José Maria:
Parece que o José Hermano de Saraiva consegue, de facto, fazer proselitos na sua sanha contra o liberalismo oitocentista. A ignorancia e os preconceitos nacionalistas continuam a povoar a cabeça de muitos historiadores portugueses, que apenas tem visibilidade mediatica, mas cujo trabalho irá para o caixote do lixo da História. Infelizmente, é a voz deles que parece passar. Não foi a extinçao das ordens religiosas, nem o saque (se é que se pode utilizar essa expressão), nem muito menos as revoltas (que apenas apanham a primeira metade do século XIX) que deram cabo no nosso patrimonio. Eu gostava de saber em que estado já estavam muitos dos edificios conventuais em 1834, mas infelizmente, ninguem sabe. Foram individuos como Herculano e Garrett (e muitos outros hoje mais esquecidos) que começaram a associar património, identidade e nacionalismo. O processo foi lento. Quando chegou o Estado Novo, na década de 1930, começaram as obras, mesmo que já tivessem sido feitas intervenções em monumentos, como a Sé de Lisboa. Contudo, numa marcada leitura ideologica do patrimonio tentava-se regressar a uma Idade Média mitificada, destruindo a maior parte das intervenções que os séculos seguintes realizaram. Fizeram-se destruições irreparáveis um pouco por todo o País, nalguns casos alterou-se boa parte do edificio (como no paço ducal de Guimaraes). Nao quer dizer que nao se tenham posto os castelinhos todos de pé ou que nao se tenham reabilitado a maior parte do patrimonio medieval e manuelino. A obra foi radical e "está tudo lá: preto no branco". O bom e o mau. E o mau tambem existiu. E foi muito.
O facto de se ser funcionário de uma instituição nao quer dizer que nao se tenha distanciamento face ao que ela realizou. Carl Schmitt foi nazi e eu nao quero que queimem os livros dele. Agora, trogloditicamente, continuo a achar que olhando para a foto e para o que o Estado Novo nos deixou penso que apenas resta um castelo ao estilo "portugal dos pequeninos". É pena.
Cumprimentos
Paulo

Anónimo disse...

Meu caro:
O Paço Ducal de Guimarães é o pior exemplo que escolheu. Leia o boletim de obra da DGEMN sobre este monumento e veja a documentação fotográfica, reveladoras do estado de degradação e de ruina em que o mesmo se encontrava. Leia os estudos arqueológicos que foram realizados para se tentar fazer uma reconstrução o mais fidedigna possível do monumento com base em estudos históricos até aqui não contrariados.
E que dizer das igrejas românicas em que as pedras tumulares devassadas eram utilizadas pela soldadesca para fazerem de manjedoura dos cavalos. Leia os "Opúsculos" do Herculano e depois conversamos.
Não entendo essa sua obsessão em relacionar a preservação do património com o nacionalismo. Até dá a sensação que se não houvesse património degradado não teria havido a ditadura!
Obviamente que não estou a fazer juizos de valor sobre a história, nem ponho em causa a aliança entre a igreja e os absolutistas.
Mais do que ajuizar, interessa sobretudo compreender. Pelos vistos, parece que ainda não está suficientemente distanciado do regime do Estado Novo que faz parte da história deste País. E é pena.

Anónimo disse...

Caro,
tentei colocar uma replica um pouco mais longa, mas nao sei se devido ao excesso de rapidez com que ando ultimamente ficou em nenhures. Continuo a sustentar que o que está em Guimarães é, em boa parte, uma fabricação da cabeça do arquitecto Rogério de Azevedo. O melhor seria ver a tese de mestrado de Maria Mónica Pimenta de Brito (2003) ou mesmo pegar na polémica que Rogério Azevedo sustentou com Alfredo Pimenta nos cinzentos anos do Estado Novo (que a si tanta banal bonomia parecem provocar). Quanto ao nacionalismo, aos regimes autoritários e totalitários e à sua relação com o património recordo-o apenas da campanha de recuperação que Mussolini fez em Roma. Se acabou por salvar uma parte do Forum, destruiu outra e desfigurou outro tanto. A DGEMN fez, a uma escala bem menor, intervenções igualmente duvidosas. Mas isto parece que é sacrilégio dizer. Por enquanto apenas existe uma tese de doutoramento sobre estes serviços realizada por Maria João Neto e, por sinal, pouco inspirada. Parto para banhos dentro de horas e os avioes nao esperam. Um bom Verao para si.
Cumprimentos,
Paulo

Anónimo disse...

Caro José Maria:
O Paço Ducal de Guimarães é apenas um exemplo entre muitos (penso que a intervenção no interior da Sé de Coimbra, também não foi a melhor, se a memória não me falha). A polémica começou logo cedo com um opúsculo de Alfredo Pimenta, senhor muito afeiçoado ao regime salazarista que espero nao lhe cause tanta bonomia como aquela que deixa transparece no comentário. Ele nao ficou nem satisfeito, nem convencido, com os projectos do arquitecto Rogério de Azevedo. É estranho que havendo uma tese de mestrado de Maria Mónica Pimenta de Brito (2003) exclusivamente sobre este monumento o senhor fosse buscar, qual texto canónico, os sacro-santos Boletins da DGEMN. Esperava melhores argumentos e mais actualização por parte de um técnico superior reputado.
A preservação do património nao conduz a ditaduras mas o património cria identidade e tem usos políticos.
Mussolini que espero não ser tão indiferente ao seu coração como o Estado Novo, e que também foi História de Itália recuperou muitas das ruínas de Roma antiga. O que hoje vemos lá muito deve às campanhas de restauro empreendidas pelo regime fascista. O pior foi o que elas deixaram debaixo do alcatrão das vias que atravessam hoje parte da zona. O que está em causa não é a recuperação do património, nem sequer o facto de este ter sido um conceito que demorou muito tempo a sedimentar e a criar um corpo de conhecimentos e de profissionais próprio. O que está em causa é ter uma visão crítica do passado e da História. Esta não se constroi com "ses", mas também não se pode fazer se pensarmos que toda a obra foi isenta de erros e apenas merece hossanas. Obviamente, não critico a recuperação do património, mas antes os usos e os erros que à sombra dela um regime autoritário fez.
Despeço-me pois, parto para banhos amanhã.
Cumprimentos e votos de bom Verão,
Paulo Sousa

PS - Conheço bem a Obra de Alexandre Herculano.

José Pires F. disse...

Meu caro, a foto é de facto extraordinária pela diferença que verificamos hoje no monumento e como é evidente pelo seu interesse histórico, mas interessante também, foi a leitura dos comentadores anteriores.