O sorteio
Peripécias de um casal de tugas
Peripécias de um casal de tugas
Na peça Paris É Uma Miragem, do inglês John Godber, em cena na Companhia Teatral do Chiado, uma suburbana, leitora assídua da imprensa cor-de-rosa, ganha uma viagem a Paris. Depois de muito penar, consegue convencer o marido, um desempregado com pretensões a pintor, a acompanhá-la. Nenhum deles fala francês, quase nunca saíram da Cruz de Pau e estão cheios de ideias feitas acerca do mundo que não conhecem. Mas por detrás das aventuras hilariantes, das broncas indescritíveis e das «gaffes» impagáveis, acabam por fazer uma viagem única de enriquecimento e de descoberta interiores, ainda que temperada pelo desprezo contra tudo o que é português.
Naturalmente que John Godber não situou a acção na Cruz de Pau. Esta foi a escolha resultante da adaptação do texto para Portugal, por sinal muito boa. No trabalho de tradução de Gustavo Rubim e de Vítor d’Andrade tudo é plausível, nada soa a falso ou a forçado e até as pequenas inserções não deixam de vir a propósito. Personagens assim, aparentemente simples, exigem actores sagazes, inteligentes e com o dom da comédia, capazes de dosear o humor sem cair no tom revisteiro. A escolha de Sofia Duarte Silva e de Manuel Mendes foi excelente. Na sua prestação, este último não esconde o escárnio que sente pelo «seu» suburbano e cai muitas vezes na tentação de «overact», mas o registo do papel e a experiência do actor permitem-no. Sofia Duarte Silva é uma actriz muito associada a personagens mais sofisticadas, agarrando aqui a oportunidade de mostrar uma versatilidade quase insuspeita nos trabalhos que fez em televisão. A caracterização de ambos, desde o vestuário à linguagem, é perfeita e recria a simplicidade tocante do casal. A encenação de Juvenal Garcês, sem utilizar muitos adereços, é inteligente na gestão dos recursos e no modo como recria os espaços com apenas um ecrã. No mesmo registo de inteligência e de sobriedade encontra-se a iluminação de Vasco Letria e o som de Sérgio Silva, os quais sublinham a sugestão dos ambientes visitados.
Naturalmente que John Godber não situou a acção na Cruz de Pau. Esta foi a escolha resultante da adaptação do texto para Portugal, por sinal muito boa. No trabalho de tradução de Gustavo Rubim e de Vítor d’Andrade tudo é plausível, nada soa a falso ou a forçado e até as pequenas inserções não deixam de vir a propósito. Personagens assim, aparentemente simples, exigem actores sagazes, inteligentes e com o dom da comédia, capazes de dosear o humor sem cair no tom revisteiro. A escolha de Sofia Duarte Silva e de Manuel Mendes foi excelente. Na sua prestação, este último não esconde o escárnio que sente pelo «seu» suburbano e cai muitas vezes na tentação de «overact», mas o registo do papel e a experiência do actor permitem-no. Sofia Duarte Silva é uma actriz muito associada a personagens mais sofisticadas, agarrando aqui a oportunidade de mostrar uma versatilidade quase insuspeita nos trabalhos que fez em televisão. A caracterização de ambos, desde o vestuário à linguagem, é perfeita e recria a simplicidade tocante do casal. A encenação de Juvenal Garcês, sem utilizar muitos adereços, é inteligente na gestão dos recursos e no modo como recria os espaços com apenas um ecrã. No mesmo registo de inteligência e de sobriedade encontra-se a iluminação de Vasco Letria e o som de Sérgio Silva, os quais sublinham a sugestão dos ambientes visitados.
Rui Nunes da Silva
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