"Eça de Queirós, afirma, no Primo Basílio, que em Lisboa não existem só baratas, que há também percevejos.
Não o quero acreditar; mas visto que oferecem prémios aos que descobrirem um meio de destruir o oídio e a filoxera, porque é que não propõem um prémio ao homem de génio, ao filantropo ilustrado que inventar o modo de aniquilar a raça das baratas e dos percevejos e de limpar a terra destes parasitas?
O gato é o traste inseparável de todas as casas portuguesas. Não há no mundo país que tenha tantos gatos como Portugal.
Em alguns bairros de Lisboa vêem-se as ruas cheias de gatos. Diga-se em verdade que são muito úteis, visto que a cidade está inçada de ratos, às vezes tão grandes que, não raro, vingam-se majestosamente devorando os gatos inexperientes... Parte destes gatos são nómadas e livres pensadores.
Há-os magníficos! Vivem de cabeças de peixe que se atiram para as ruas. O que é singular, explicando-se unicamente pelos combates desesperados que sustentam com os ratos, é que, logo que nascem, cortam-lhes as orelhas e a cauda como aos buldogues.
Em Portugal desconhece-se completamente a arte culinária. A cozinha é tão má como a de Espanha e já não é dizer pouco. Desde a sopa até à sobremesa nada se faz sem azeite. Não é só isto que a torna abominável, são os cozinheiros (?) do país que podem alcunhar-se de estraga molhos.
Os elementos principais da alimentação das famílias constam de peixe, arroz e chá. Às nove horas da manhã, chá com leite e pão torrado coberto de uma camada de manteiga salgada, impossível! Às três horas, sopa, em que se deita um pedaço de carne acompanhado de couves e nabos; sardinhas ou bacalhau salgado e arroz. Às nove horas da noite, chá e uma segunda edição de pão torrado com unto rançoso.
O povo, esse alimenta-se exclusivamente de sardinhas e bacalhau; de resto, as sardinhas são, como todo o peixe de Lisboa, deliciosas e muito baratas. Come-se em Lisboa uma quantidade prodigiosa de sardinhas e expedem-se todos os dias milheiros para o resto do país. Quanto a vinhos, o de Colares é excelente. Já não falo dos outros vinhos de luxo que correspondem à sua merecida reputação.
A água em Lisboa é uma das mais importantes questões, ainda não resolvida. Como todos os países quentes, Portugal carece de enorme quantidade de água; de Verão, principalmente, é uma necessidade de primeira ordem, de que dependem a saúde dos habitantes e a higiene da cidade." - Continua
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