Esta é uma reportagem de Óscar Alves, para a Revista "Plateia", de 7 de Junho de 1966.
A entrevistada é, nada mais nada menos que, Maria de Jesus Barroso. Actualmente ex-actriz, ex-primeira dama, ex-directora do Colégio Moderno, ex-Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, uma das caras da revista "Cais" (da direcção, entenda-se; não estão a ver a Maria Barroso à porta de um Pingo Doce, vestida de amarelo, a vender a "Cais"), católica fervorosa (mas há pouco tempo), e muitas outras coisas que já nem me lembro.
Esta entrevista foi dada à revista "Plateia" devido à estreia nacional do filme "Mudar de Vida", de Paulo Rocha.
Eis alguns excertos da entrevista:
"Por grande amabilidade para com a "Plateia", Maria Barroso, que detesta publicidade e vive num mundo completamente extra-artistico, o seu mundo de familia e de mãe, acedeu a conceder-nos esta entrevista."
"- Porque não representou durante os dezassete anos em que esteve ausente do palco?
- Porque não se me deparou qualquer oportunidade de interesse. Dediquei-me por isso apenas a recitais poéticos, sobretudo em meios estudantis e operários".
- Porque não se me deparou qualquer oportunidade de interesse. Dediquei-me por isso apenas a recitais poéticos, sobretudo em meios estudantis e operários".
"- Sendo algarvia, foi-lhe dificil adaptar-se ao tipo de mulher piscatória nortenha?
- Sai do Algarve há muitos anos. E não se esqueça que o nivel do actor se revela, sobretudo, na capacidade de adaptação a cada nova situação que se lhe apresente."
- Sai do Algarve há muitos anos. E não se esqueça que o nivel do actor se revela, sobretudo, na capacidade de adaptação a cada nova situação que se lhe apresente."
"- Em Portugal os actores têm ou não um nivel de cultura suficiente?
- Temos actores muitos cultos e temos outros que porventura o serão menos. O grave, é que não possuimos, infelizmente, os meios necessários para podermos progredir e para melhorar a nossa condição de profissionais. É no entanto, com agrado, que verifico haver imensa gente nova que se interessa pelo teatro e que tem preocupações culturais muito sérias.
- Temos actores muitos cultos e temos outros que porventura o serão menos. O grave, é que não possuimos, infelizmente, os meios necessários para podermos progredir e para melhorar a nossa condição de profissionais. É no entanto, com agrado, que verifico haver imensa gente nova que se interessa pelo teatro e que tem preocupações culturais muito sérias.
- Parece-lhe certo o teatro que actualmente se apresenta em Portugal?
- Acho que, de uma maneira geral, está errado. Mas, a maior parte das vezes, as empresas não têm outras possibilidades...
- Acho que, de uma maneira geral, está errado. Mas, a maior parte das vezes, as empresas não têm outras possibilidades...
Ao terminar esta entrevista, Maria Barroso falou acerca da sua situação de actriz num pais onde ela não o pôde nem pode ser, a não ser por espaços, muito longe da medida das suas excepcionais faculdades.
- O futuro é sempre uma incógnita. Acima de tudo estou interessada em ter uma vida calma, dedicada ao meu lar e à minha familia. Se as condições de trabalho, em Portugal, não se modificarem, não creio muito provável que volte a representar."
- O futuro é sempre uma incógnita. Acima de tudo estou interessada em ter uma vida calma, dedicada ao meu lar e à minha familia. Se as condições de trabalho, em Portugal, não se modificarem, não creio muito provável que volte a representar."
Agora pergunto eu: Se naquela altura achava errado o teatro que se fazia, que diria Maria Barroso hoje? Em vez de um Teatro Nacional temos um jazigo plantado na Praça do Rossio. Em vez de Actores em palco, temos manequins. Seria uma Ivone Silva pior que uma Teresa Guilherme? Seria uma Fernanda Serrano superior a uma Mariana Rey Monteiro? Será que um Diogo Amaral é superior a um Rui de Carvalho (naquela época)?
Assim como assim, Maria Barroso teve o maior palco que se podia imaginar: Portugal. E se não continuou actriz foi pedagoga, sendo directora de um Colégio que muito me orgulho ter frequentado (tal como meu pai e meus muitos irmãos).
2 comentários:
Interessante momento de divulgação da nossa cultura e dos nossos problemas ligados ao teatro.
Seria bom que se pudesse, nos dias de hoje, meditar um pouco acerca do lugar que os verdadeiros actores devem ter na vida do país.
Quanto à situação de modelos e profissionais de comunicação social a desempenharem papéis nos nossos teatros, porventura retirando o lugar a actores de formação, trata-se de um problema que deve ser pensado pelas próprias companhias, produtores e encenadores. Se tiverem verdadeiras capacidades para fazer teatro…, tudo bem, mas se não tiverem e apenas anseiam mais público pelo facto de se acharem «colunáveis» que o podem atrair, ou apenas para encherem o seu ego…, então, realmente, as coisas irão de mal a pior…
No que concerne a Maria Barroso, um grande senhora da sociedade portuguesa, mesmo tendo abandonado a carreira teatral, continua, por certo, a ser uma grande pedagoga.
Pois é! umdos grandes problemas do teatro hoje, são exactamente os "submarinos" que querem ser actores para estarem sempre ao cimo (leia-se "revistas côr-de-coisanenhuma") da água, mas sempre perdidos no imenso mar da cultura e da arte.
Acerca da Dr.ª Maria Barroso apetece-me sempre gritar ao mundo o orgulho de ter sido aluno do seu/nosso Colégio Moderno.
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