Sábado, 02 de Abril de 2005, pelos 20 h e 37 minutos falecia o Santo Padre João Paulo II.
Durante cerca de três dias assistiu-se a um nojo jornalístico nos mais diversos meios que esta nobre arte de informar (e de chatear) possuiu: rádio, televisão e imprensa escrita.
Nestes cerca de três dias o penoso definhamento do Santo Padre foi explorado, violado e escandalosamente profanado.
Nestes cerca de três dias as gentes foram obrigadas a assistir, angustiadas, a todo este teatro mediático que teve como actor principal uma das figuras históricas mais exemplares do final do séc. XX e inícios do séc. XXI.
Nesta era da informação e da globalização a Morte deixou de ser pacífica, solitária, introspectiva e momento de consideração ou reverência. Antes transformou-se num espectáculo obstinado, de especulação, de falsos boatos e de alarmismo. A Morte está banalizada e desrespeitada.
Nestes cerca de três dias o que se viu foi a fome da comunicação social pela Morte efectiva do Papa. Não esconderam a ânsia do seu desejo. Exploraram-na até ao cansativo, ao nojo, ao perturbante.
Nestes cerca de três dias falou-se, sem qualquer tipo de pudor ou pejo, de João Paulo II, pai da Cristandade, venerado por milhares em todo o mundo, homem actuante em diversos domínios, do social ao político, figura de notariedade planetária, homem sem descanso durante a sua longa vida (84 anos), propagador da paz e da tranquilidade, do igualdade dos povos e das crenças.
Nestes cerca de três dias o que se assistiu foi o desrespeitar de todas estas permissas. Desrespeitou-se todos os católicos e admiradores de João Paulo II.
Nestes cerca de três dias houve um homem no mundo que não teve a Morte que merecia. Uma Morte calma, tranquila e serena.
Nestes cerca de três dias chocou-me a conivência e a alta participação do clero neste realitydeath-show. Estes, que desde o início deveriam ter tido a preocupação de terem aberto a porta dos seus templos aos milhares de anónimos que procuravam consolo nas rezas e nas palavras de um sacerdote, preferindo antes ir para o comil televisivo ou radiofónico debitar até à exaustão palavras e mais palavras que em nada ajudavam aqueles que sentiam no seu interior a dor da proximidade da perda de alguém que lhes era querido, que lhes era da família, que lhes era amigo.
A cobertura jornalística da Morte do Santo Padre em nada o glorificou. Os jornalistas e o próprio clero corromperam e devassaram o que de mais sagrado e misterioso há na vida de um Homem, um dos focos centrais e fundadores de toda a ideologia cristã - a Morte.
1 comentário:
Pois é. É chocante, de facto, ouvir-se o que se ouviu, ver-se o que se viu. O Papa não escondeu, no entanto, o seu sofrimento. Antes, procurou partilhá-lo para que as pessoas encarem a morte como uma coisa natural. Foi o que ele fez, mas este mundo mediático não o poupou. Resta as imagens dos católicos partilhando serenamente esta sua passagem para outra margem...
zé maria
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