quinta-feira, junho 28, 2012

Fernando Dacosta - Missa Campal


Fernando Dacosta - Missa Campal

Infiéis podem ser os que, por fidelidade a si mesmos, se apartam dos outros. Gosto, assim, bastante da palavra, pelo que ela significa de diferença, de ousadia.
Comecei a apreciá-la com Francisco Lucas Pires, homem de estimulante inteligência e cultura, ironia e criatividade. Foi ele, aliás, quem deu o título e a chave a um romance meu com esse nome.
Dizendo-se da “direita conservadora”, FLP surgiu no CDS até concluir haver-se enganado, o que era previsível, no partido. Se tivesse ido para o PS, quando este desandou, como ele, ao centro, ter-nos-ia por certo evitado um Eng. José Sócrates e, concomitantemente, um Dr. Passos Coelho.
Na campanha eleitoral como líder dos centristas, FLP quis, deliciosamente, converter as massas à sua ideologia – começando-a com uma missa campal em pleno coração mourisco, isto é, em vermelhusco descampado alentejano. Dali partiu “à reconquista do país”, não entusiasmando, no entanto, grandes multidões – pela fidelidade às mudanças que sentia em si, adaptava a si.
Os correligionários seriam, entretanto, os primeiros a infidelizaram-se-lhe, escorregando-o para a prateleira de Bruxelas.
Titular da Cultura, impulsionou o lançamento de bolsas de criação artística (anuladas depois pelo PSD) e de reformas de mérito cultural.
Quando da reeleição de Mário Soares, encarou a hipótese de se candidatar a Belém e arquitectou um slogan estimulante: avançava não para “concorrer com Soares” mas para “suceder a Soares”.
A referência que aqui se faz a Francisco Lucas Pires ganha especial significado por a coerência (altiva) que ele superiorizou estar a ser, agora, bastardamente crucificada.

Fernando Dacosta escreve agora às quintas-feiras no Jornal I

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