sábado, novembro 14, 2009

Teatro - A Dama de Copas e o Rei de Cuba - Companhia Teatral do Chiado



A Companhia Teatral do Chiado, residente no Teatro Estúdio Mário Viegas - Lisboa, estreou na passada Quinta-Feira, 12 de Novembro, a sua mais recente produção: A Dama de Copas e o Rei de Cuba, do sociólogo brasileiro Timochenco Whebi.

Juvenal Garcês - Director da CTC e encenador deste espectáculo - no seu breve discurso de estreia desta peça, referiu que a mesma é o pontapé de saída para a comemoração dos 20 anos da Companhia Teatral do Chiado e que a escolha deste texto não foi inocente. Timochenco Whebi, falecido há uns anos, foi grande amigo de Mário Viegas que nunca teve a oportunidade de encenar uma peça do amigo do "país irmão". Esta era a altura ideal. E a oportunidade de levar à cena um texto em lingua portuguesa.

Juvenal Garcês teve ainda a oportunidade de referir que esta peça foi levada à cena em Portugal, pela mão de Raul Solnado, no dia 22 de Abril de 1974. Três dias depois deu-se a Revolução dos Cravos e a oportunidade do êxito esfumou-se.

E o que dizer desta peça? Tiro certeiro, escolha acertada. Trata-se de um grande texto, escrito para uma realidade das favelas brasileiras mas aqui com uma excelente adaptação à realidade popular portuguesa, realidade popular citadina.

Três personagens muito bem construidas e conseguidas, quer na consistência quer na interpretação - Alexandra Sargento (Zinha), Cristina Basílio (Tita) e Pedro Saavedra (Avelino).
A acção desenrola-se num qualquer quarto de uma qualquer pensão da cidade de Lisboa, onde habitam duas personagens muito diversas mas com um ponto em comum - a solidão e a tentativa de fuga da mesma. Carlos Porto, critico de teatro, quando da estreia em 1974, referiu que esta peça era uma "comédia amarga". Nada mais certo. O segundo acto é, em certas cenas, altamente triste e comovedor.

São duas personagens femininas antagónicas, onde o cordeiro em pele de lobo (e vice-versa) assenta que nem uma luva.

O cenário é irrepreensível, onde as diferenças entre as personagens se notam até no mobiliário.

A escolha musical, apanágio aliás de qualquer encenação de Juvenal Garcês é comovedora e acertada. Amália Rodrigues, com "Formiguinha Bossa Nova" dá o arranque.

A encenação de Juvenal Garcês não apresenta uma única falha e, aqui, a sua imaginação e "sexto sentido" revela-se ao mais alto grau do bom-gosto e da inteligência, nunca caindo no óbvio e no brejeiro, caminho que seria de todo errado mas o mais fácil para o texto em questão.

As referências ao imaginário religioso português - como, não tenho dúvidas, no brasileiro - são uma constante na peça. Quer na referência à Procissão da Senhora da Saúde, quer no sonho de Zinha (onde uma Nossa Senhora aparece - cena de teatro brilhante), ou ainda, no final da peça, na Pieta de Zinha com Avelino (momento de celebração do Kitsch e de um certo imaginário Pierre Et Gilles).

O momento que elejo dos mais comoventes ao longo da peça, foi quando Tita abre uma caixinha de música e põe-se a danças ao som da música. Essa caixinha havia sido já usada por Lia Gama na peça que inaugurou a nova e bonita sala do Teatro Estúdio Mário Viegas - Oh Que Ricos Dias. Inocente ou não, esta caixinha de música marca uma nova etapa da Companhia Teatral do Chiado e do próprio Teatro em Portugal.

Só posso reforçar a escolha acertada de Juvenal Garcês, a sua encenação, os cenário e figurinos, a interpretação das actrizes. O extraordinário texto.

Parabéns Juvenal Garcês e a toda a Companhia Teatral do Chiado por este trabalho e pelos extraordinários 20 anos a encantar Portugal com o que de melhor se faz em Teatro.

Não percam esta peça: Quintas, Sextas e Sábados, às 21 horas, no Largo do Picadeiro, Chiado, Lisboa - Companhia Teatral do Chiado - Teatro Estúdio Mário Viegas

Interpretação: Alexandra Sargento, Cristina Basílio, Pedro Saavedra
Encenação: Juvenal Garcês
Adaptação: Juvenal Garcês, Luciano Cavaco
Cenografia: Luciano Cavaco
Figurinos: Luciano Cavaco
Desenho de Luz: Vasco Letria
Sonoplastia: Sérgio Silva
Assistência de Encenação: Aritz Bengoa
Contra-Regra: Aritz Bengoa
Produção: Companhia Teatral do Chiado
Direcção de Produção: Luís Macedo
Marketing e Comunicação: Nuno Santos
Responsável de Bilheteira: Duarte Nuno Vasconcelos
Bilheteira: Ana Filipa Neves, Joana Barreto
Gestão de conteúdos da página na internet: Duarte Nuno Vasconcelos

2 comentários:

LittleGirlBlue disse...

Concordo contigo em tudo o que escreveste! Vi, gostei, gostei muito! É um grande texto, com personagens irrepreensivelmente bem representadas, num cenário de se lhe tirar o chapéu!
Parabéns a todos!

Anónimo disse...

maravilhoso