segunda-feira, julho 27, 2009

O escarrador obrigatorio nas casas publicas

Escarrador de Rafael Bordalo Pinheiro

“Pouca gente até á data se tem preocupado com o bem estar comum.
Existem meios de defeza a que a maioria das entidades não ligam aquela importância que deviam ligar e neste caso temos a utilidade do escarrador obrigatório nas casas publicas.
O uso do escarrador tem sido descurado no paiz.
Raras são as entidades que o utilisam.
Aparte, algumas Repartições publicas, alguns barbeiros e não o vemos nas casas de espectáculos, nos hotéis, casas de hospedes, nas casas de pasto e nos diferentes estabelecimentos comerciais onde o publico aflui com mais frequência.
Nós constituímos uma população que tende a contaminar-se, uma população, em suma, pouco higiénica, porque tirando-lhe o habito de lavar apenas a ponta do nariz conforme viram fazer aos seus avós, raros são aqueles que primam pelo banho habitual domestico: já que ir ás praias é coisa mais dispendiosa para quem não pode passar do limite do “caldo e da broa”.
A cuspinhada de taberna que o alcoólico atira, impregnada de vinho, que antes vai dar mais vida ás bactérias orgânicas aderentes, são focos que se poderiam pôr fóra de uso.
Porque, o nosso povo habitua-se a tudo.
Uma simples postura, modificar-lhes-hia os hábitos, tornando-o mais higiénico, porque. quanto a moralidade em certa gente é letra morta; só a escola obrigatoria poderia atravez as gerações limar as arestas que se notam na educação coeva do antigo serrano das selvas que não respeitava a decencia nem evitava os palavrões diante dos seus inocentes filhinhos.
Combatamos, pois aqui, os maus usos e os maus costumes e aliados á obra moralisadora do Estado, contribuiremos tambem, assim, para um Portugal que se há-de impor aquelas nações que nos dão luzes.
Nos meus insignificantes artigos, tenho-me declarado um francófilo sem nunca renegar esta admirável Patria a que pertenço, mas devemos confessar que a França é e será sempre o único paiz que dará o exemplo a todas as nações do Mundo.
É ali, que nas suas povoações se vê o escarrador publico, o escarrador que o transeunte topa a todo o passo para não ter desculpa de lançar ao pó das amplas ruas alcatroadas ou cimentadas o escarro contaminante.
É ali, tambem, que topamos o cesto para deitar papeis, muita vez utilisados por pessoas doentes e que lançados á via publica são outros focos de infecção ao envolver-se no pó dos caminhos.
Daqui até que nós atinjamos uma tão completa perfeição ha-de demorar, mas “Roma e Pavia não se fez num dia”.

Povo das Beiras, São Pedro do Sul, Junho de 1933 – José de Jesus Rogado”
...e a perfeição ainda não foi atingida...

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