sexta-feira, novembro 14, 2008

Os filhos menores de 50 anos de Carreira


A Valentim de Carvalho aproveitou os festejos dos 50 anos de carreira de Simone de Oliveira para lançar uma espécie de best-of da referida artista. O resultado é, no mínimo, desastroso. Passo a explicar.
Quem lê regularmente este blog sabe perfeitamente da admiração e do gosto pela carreira e pela figura de Simone de Oliveira. É raro o mês que não faço uma menção à artista, seja por algum concerto seja por uma música ou uma atitude. Custa-me por isso o lançamento deste disco.
É composto por dois CD's: um supostamente de clássicos e outro de versões. A distinção é já de si errada.
Do primeiro Cd consta: Desfolhada Portuguesa - Começar de Novo - Nem Eu Nem Vocês - Não Te Peço Palavras - Avé-Maria do Povo - Sensatez - De Saudade Em Saudade - Já Ouviste O Mar - Praia de Outono - Canção Cigana - Olhos Nos Olhos - Sol de Inverno - Canção Ao Meu Velho Piano - Pingos de Chuva - Nunca Mais A Solidão - As Palavras Que Eu Cantei - Apenas o Meu Povo - Mulher Presente.
Do segundo Cd consta: Yesterday (beatles) - Estranhos Na Noite/Strangers In The Night (Frank Sinatra) - Não Me Vais Deixar/Ne Me Quitte Pas (Jacques Brel) - Alguém Que Teve Coração/Anyone Who Had A Heart (Burt Bacharach) - As Coisas De Que Eu Gosto/My Favorite Things (Julie Andrews) - Aqueles Dias Felizes/Those Were The Days (Mary Hopkin) - Marionette/Puppet On A String (Sandie Shaw) - A Banda (Chico Buarque de Hollanda) - Falar Com Os Animais/Dr. Doolittle (Dr. Doolitle) - Eu Dançaria Assim/I Could Have Dance All Night ("My Fair Lady") - Quando Me Enamoro/Quando M'Innamoro (Anna Identici) - És A Minha Canção/This Is My Song (Petula Clark) - Que C'Est Triste Venise (Charles Aznavour) - Tu Só Tu (com Marco Paulo)/Something Stupid (Frank Sinatra) - Onde Vais/Edelweiss (Julie Andrews) - No Teu Poema (Carlos do Carmo) - Glória Glória Aleluia (com Quarteto 1111) (Tonicha) - Deshojada/Desfolhada Portuguesa
Relativamente ao primeiro, são raros os temas que terão sido pontos de interesse ou de viragem na carreira de Simone ou que se possam chamar realmente de "Clássicos". Nestes, a meu ver, deveriam estar o Tango Ribeiro, Prece, Degrau em Degrau, A Rosa e a Noite, Adeus (Palavras Gastas), Poema 8, Esta Lisboa que eu amo, Visita de Camarim e muitos outros que nem eu consigo, de momento, descortinar. Basta ver um concerto de Simone de Oliveira e perceber que os temas escolhidos para figurar no CD não são, concerteza, os seus favoritos ou aqueles que ela mesma escolheria para compôr um álbum de homenagem (de salientar que, como foi dito pela Simone no concerto do Maxime, a artista não teve "vota na matéria" na elaboração deste álbum, desconhecendo até a sua existência).
Relativamente ao CD 2, não entendo a existência do mesmo. A Simone não foi uma artista que fez carreira com Versões. Nunca foi reconhecida como tal. Foi sempre para além disso e procurou sempre originais. Estas versões apresentadas não têm, na minha opinião, qualquer expressão na construção da identidade artística de Simone de Oliveira.
Enfim, com isto quero apenas realçar que, mais uma vez, não foi feita justiça à música, aos poetas, aos músicos e à voz de Simone de Oliveira. No geral, não se realçou verdadeiramente a extraordinária pujança dos 50 anos que compõe a carreira de Simone. Há álbuns - que são autênticas perolas que há muito deviam ter re-edição em CD - que estão completamente omissos nesta colectânea.
Não sei quem fez a pesquisa e a recolha de temas para este álbum. Mas quem a fez, fê-la muito mal. Não sei se por ignorância, má vontade, falta de tempo ou problemas de direitos de autor. Mas confesso que, para se ter lançado isto, mas valia ter estado quietinho. Apenas uma mais valia deste conjunto: dar a conhecer ao grande público a extraordinária tradução de David Mourão-Ferreira do Ne Me Quites Pas, de Jacques Brel. Mas mesma esta, não é apresentada na sua melhor versão.

2 comentários:

Arnaldoooooo disse...

No site da Fnac descobro que este CD é relativo aos anos de 1963 a 1970-e-qualquer-coisa. Maneira simpática de reduzir toda uma carreira a meia dúzia de anos

Acredito que tenha mais a ver com os direitos de autor (a que a editora tem acesso) do que outra coisa

Anónimo disse...

Realmente, é inacreditável.

Supostamente, o Perfil é sempre um disco com os melhores sucessos de um artista. Neste caso, não o é. Nada do que nos é apresentado nestes cds reflecte o génio da grande artista que é Simone de Oliveira e nada lhe faz verdadeiro jus.

Obviamente que a Senhora cantou versões - quem, nos anos 60 e 70, não o fez? Até o Marco Paulo, ainda nos 80 fazia.

Este cd não passa de um documento histórico de mínima relevância.

E é de estranhar que nem um retrato surja no panfleto que acompanha o cd - já no anúncio televisivo as fotos são mais que nunca. Publicidade enganosa? No mínimo mau serviço público.

E Simone de Oliveira merecia muito mais!