Aldina Duarte fez-se voz de casas de fados há 15 anos, entre moradas de referência como o Clube do Fado e o Sr. Vinho. Desde então, editou dois discos, revelou-se investigadora e estudiosa da tradição fadista e acabou por ser dispensada pela sua editora, a EMI (em conjunto com outros músicos nacionais, durante o ano passado). No entanto, um terceiro álbum, Mulheres ao Espelho, não esperou por "respostas de outras editoras que nunca chegaram". Tem o carimbo "0001" da Roda-Lá Music, selo criado pela própria Aldina Duarte, e revela a tradição fadista na companhia de histórias de mulheres.
De xaile pelos ombros, Aldina recorda versos que escreve e canta: "Tenho um vestido alinhavado que envelhece só comigo", sussurra. As leis do fado, com seus modos e suas histórias, na voz de quem sabe: "Não sei a história desta canção. Quem a conhecerá, na verdade?" E esta mesma voz, que canta Lisboa na sua tradição, ocupa agora os dias com cursos de contabilidade, facturas e guias de transporte. "Não é coisa de fadista", diz-nos "mas eu cresci em Chelas a ler Dostoievsky, já na altura me chamavam bicho raro". "Tudo isto pode parecer muito alternativo, coisa de PJ Harvey", assume Aldina, fã da cantora inglesa. "Mas temos que nos envolver naquilo que diz respeito à nossa arte para lá da criação."
Dispensa argumentos sobre as dificuldades de criar uma editora. "Difíceis são os dias de quem é mais novo, de quem procura arriscar e não consegue." Porque os tempos menos bons, como o dos artistas - "em tempos de crise não é no pão que se corta, é na cultura", afirma -, juntam-se a uma estrutura social complexas e a realidades entendidas como "assuntos de mulheres". Que se escrevem no feminino mas se constroem "pela felicidade ou infelicidade de mulheres e homens". Os fados que canta acompanham "políticas económicas e sociais, do aborto aos problemas demográficos" mas não fazem de Mulheres ao Espelho um manifesto panfletário. Aldina dá voz a contos de "noivas e as amantes, de arrependimento e de saudade", como o fado sempre fez desde que se conhece.
A inspiração para Mulheres ao Espelho "seria mais natural num rocker". A frase é da autora mas ilustra pensamentos "de uma canção que também tem os seus preconceitos". Noctívago e boémio são características de um fadista "mas a ignorância também se pode manifestar", diz-nos uma Aldina que, "se assim tiver que ser", prefere carregar o rótulo de "alternativa". Se o sucesso estiver condicionado, que assim seja. Não existe por aqui o desejo do estrelato, a fama nunca será "a de um Camané ou de uma Mariza", assume. "Porque têm um dom vocal que eu não possuo e porque gostam da vida na estrada, que não me faz feliz."
Aldina prefere concentrar atenções na "liberdade de expressão". A de "artistas sujeitos a normas exigências de um mercado incompreensível" e de mulheres "cuja intimidade nem sempre lhes pertence". Reuniu vontades e fez um disco "orgulhoso e sentido, um disco de fado".
De xaile pelos ombros, Aldina recorda versos que escreve e canta: "Tenho um vestido alinhavado que envelhece só comigo", sussurra. As leis do fado, com seus modos e suas histórias, na voz de quem sabe: "Não sei a história desta canção. Quem a conhecerá, na verdade?" E esta mesma voz, que canta Lisboa na sua tradição, ocupa agora os dias com cursos de contabilidade, facturas e guias de transporte. "Não é coisa de fadista", diz-nos "mas eu cresci em Chelas a ler Dostoievsky, já na altura me chamavam bicho raro". "Tudo isto pode parecer muito alternativo, coisa de PJ Harvey", assume Aldina, fã da cantora inglesa. "Mas temos que nos envolver naquilo que diz respeito à nossa arte para lá da criação."
Dispensa argumentos sobre as dificuldades de criar uma editora. "Difíceis são os dias de quem é mais novo, de quem procura arriscar e não consegue." Porque os tempos menos bons, como o dos artistas - "em tempos de crise não é no pão que se corta, é na cultura", afirma -, juntam-se a uma estrutura social complexas e a realidades entendidas como "assuntos de mulheres". Que se escrevem no feminino mas se constroem "pela felicidade ou infelicidade de mulheres e homens". Os fados que canta acompanham "políticas económicas e sociais, do aborto aos problemas demográficos" mas não fazem de Mulheres ao Espelho um manifesto panfletário. Aldina dá voz a contos de "noivas e as amantes, de arrependimento e de saudade", como o fado sempre fez desde que se conhece.
A inspiração para Mulheres ao Espelho "seria mais natural num rocker". A frase é da autora mas ilustra pensamentos "de uma canção que também tem os seus preconceitos". Noctívago e boémio são características de um fadista "mas a ignorância também se pode manifestar", diz-nos uma Aldina que, "se assim tiver que ser", prefere carregar o rótulo de "alternativa". Se o sucesso estiver condicionado, que assim seja. Não existe por aqui o desejo do estrelato, a fama nunca será "a de um Camané ou de uma Mariza", assume. "Porque têm um dom vocal que eu não possuo e porque gostam da vida na estrada, que não me faz feliz."
Aldina prefere concentrar atenções na "liberdade de expressão". A de "artistas sujeitos a normas exigências de um mercado incompreensível" e de mulheres "cuja intimidade nem sempre lhes pertence". Reuniu vontades e fez um disco "orgulhoso e sentido, um disco de fado".
Diário de Notícias, 02 de Junho de 2008 - TIAGO PEREIRA e ANTONIO MAINI
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