"Somos a Canção que Somos" ...E os artistas vieram para a rua num encontro com o seu público
"Com o objectivo de angariar fundos para o seu sindicato, um grupo de artistas de variedades e fado organizou um espectáculo que se realizou no Coliseu dos Recreios, com lotação esgotada. Para que o povo de Lisboa, que não conseguiu vê-los nesse espectáculo, pudesse ouvi-los, os intérpretes estiveram no Largo de Camões, onde cantaram perante um público numeroso que os aplaudiu.
Com Amália, Mourão, Maria Dulce e Rui Mascarenhas à frente, os artistas desfilaram pelas ruas da cidade, desde o Coliseu ao Camões, empunhando cartazes com "slogans" como Somos a canção que Somos e A canção está na rua.
Em conjunto cantaram Grândola Vila Morena e, antes do "show", houve uma cerimónia simbólica: o lançamento de algumas dezenas de pombos.
Maria Dulce foi muito aplaudida quando declamou o soneto Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e Simone de Oliveira teve de bisar A Desfolhada, canção com que representou Portugal numa edição de um Eurofestival.
A iniciativa, para além da angariação de fundos referida, pretendeu pôr em contacto com o público diversos artistas que não têm tido oportunidade de ser ouvidos depois do 25 de Abril, considerando-se lesados por atitudes que apelidam de discriminatórias pela parte das emissoras de rádio e televisão.
O lisboeta desprevenido mostrou surpresa com a oferta deste espectáculo gratuito e aderiu com contentamento. Os artistas não esperavam, à partida, a presença de tanto publico com o qual confraternizaram durante muitas horas.
Os participantes pretenderam demonstrar que têm o seu público e que necessitam de contactar com ele. E o público esteve lá. E aplaudiu.
No Coliseu, Amália abriu o encontro musical cantando diversos fados. Entre os artistas, contavam-se os nomes de Carlos do Carmo, Paulo de Carvalho, Hugo Maia Loureiro, Duarte Mendes, Manuel de Almeida e as fadistas Maria da Fé e Maria Valejo."
in: Revista GENTE - semana de 16 a 22 de Julho de 1974
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