quinta-feira, janeiro 25, 2007

Diário de Noticias - 25 Janeiro 2007



Medievalista e erudito da maçonaria que deixa uma vasta obra histórica

Maçon convicto

Grande medievalista, maçon convicto e historiador que deixa marcas na comunidade científica com dezenas de obras, António Henrique Rodrigo de Oliveira Marques não resistiu terça-feira a problemas do coração, acabando por falecer num hospital de Lisboa, aos 73 anos. O funeral realiza-se hoje no Cemitério dos Prazeres, às 14.00.

É um nome mais do que conhecido no mundo académico, nacional e internacional (também pela sua erudição sobre a maçonaria). Mas pessoalmente mostrava-se muito reservado. O jornalista António Valdemar, que o conheceu durante 40 anos, declarou ao DN que Oliveira Marques "era uma pessoa de convívio altamente rigoroso", em que primava a discrição. "Só em circunstâncias muito especiais vinha a público. Era muito discreto, de grande afabilidade e correcção, mas que exigia contrapartida", acentua o jornalista. E dele recorda "o bom gosto pelo ambiente e pela comida, como pessoa que sempre viveu muito bem, financeiramente confortável, mas sem o gosto do novo rico".
Aos 40 anos entra na maçonaria, em que chegou a ser grão-mestre adjunto e grau 33 do Supremo Conselho, que manteve de 1991 a 1994.

"A partir daí Oliveira Marques entra para o Grande Conselho Maçónico, o órgão mais importante do Grande Oriente Lusitano. Ele teve sempre cargos muito importantes aqui dentro e manteve-se activo até ao fim", especificou ao DN o grão-mestre António Reis. Oliveira Marques estava a trabalhar no seu último volume da História da Maçonaria em Portugal, que incidia sobre o período de 1926 até 1974. "Não teve tempo de o acabar, mas espero que outras pessoas levem essa tarefa a cabo", observou António Reis.

Licenciado em 1956 em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Oliveira Marques segue no ano seguinte para a Alemanha, onde estagia em Würzburg. É em 1964 que inicia a sua carreira como docente universitário, mas parte para os EUA pouco depois, para leccionar em várias universidades, assim como dar conferências por todo o país - após ter apoiado a greve académica e de a ditadura lhe ter fechado as portas da universidade em Portugal, onde voltou em 1970.

A. H. de Oliveira Marques foi director da Biblioteca Nacional (1974/ 76). Em 1976, tomou posse do cargo de professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa. Foi condecorado em 1998 com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade pelo então presidente Jorge Sampaio, que ontem relembrou à agência Lusa as suas "vivas recordações" do assistente na Faculdade de Letras em 1961/62.
Ao longo da sua vida, Oliveira Marques escreveu mais de 60 livros e contam-se em mais de um milhar os artigos em revistas, enciclopédias e dicionários. Deu conferências em várias universidades europeias, norte-americanas e brasileiras. Após o 25 de Abril assumiu posições no movimento iberista, e pediu a extinção da Academia das Ciências.

A História de Portugal foi o seu livro mais conhecido, com 13 edições e tradução em nove línguas. Ultimamente dirigia em parceria com Joel Serrão duas colecções de história portuguesa, respectivamente Nova História de Portugal e Nova História da Expansão Portuguesa, além da História dos Portugueses no Extremo Oriente. Escreveu também sobre a I República e o Estado Novo.

1 comentário:

Anónimo disse...

A bem da verdade, que se acrescente também a sua conhecida apetência em importunar (utilizando um termo elevado) jovens universitários que o procuravam para esclarecer algumas dúvida ou recolher informações da àrea que lecionava.
Curiosamente, jovens do mesmo sexo.