quarta-feira, dezembro 27, 2006

Mãe Galinha


"Quinta Dimensão
Inês Teotónio Pereira
Dei por mim a fixar os dias das greves dos professores, a ouvir debates sobre a indisciplina nas escolas e a participar em discussões sobre os manuais escolares. Deprimente. O meu filho mais velho entrou para a escola e eu voltei à escola. E só cheiro da mochila já me causa arrepios. Mas entrei na escola de cabeça erguida e preparada para estreitar os laços escola/família.
No fim da minha primeira reunião como membro da Associação de Pais perguntei quando é que era a próxima. Depois de alguns segundos de silêncio responderam-me que só há uma nova reunião quando houver razões para isso: só existem reuniões de pais extraordinárias. Pensei cá para mim que, afinal, esta coisa de ser uma mãe participativa não custa muito.
Uma semana depois resolvi marcar uma reunião com a professora do meu filho, já que a associação não queria saber de mim para nada. "Porquê? Passa-se alguma coisa?", perguntou-me admirada a professora. "Não, mas apetece-me falar sobre ele consigo, já que vai passar mais horas por dia com ele do que eu. Já agora: não quer ser minha amiga?"
Uma semana depois a criança ficou de castigo porque não ouviu não sei o quê.
- Mas o quê?
- Não sei, mãe. Não ouvi.
O certo é que teve uma "bolinha cor-de-laranja". Fiquei então a saber que as crianças são todos os dias classificadas pelo comportamento através de bolinhas que vão preenchendo uma tabela semanal. Estilo jogo de futebol: verde, está tudo bem; cor-de-laranja, está mal; encarnado, vai para a rua.
Na semana a seguir descobri que o professor de música tem como objectivo que as crianças "aprendam a ouvir os sons que as rodeiam", como o estômago, os carros, as árvores - e até se lhes pede que batam palmas com os pés - "porque tudo tem um som...". Não tive coragem de pedir a marcação de uma nova reunião: as aulas só tinham começado há um mês.
O resultado de tudo isto é que o meu filhote de seis aninhos, que ainda há dois meses tinha como objectivo primordial de vida fazer os trabalhos de casa, demora meia hora a levantar-se da cama para ir para a escola. Aprendi que a escola não é para ser levada muito a sério. Ninguém leva. Nem ele."
Revista Atlântico, nº 21 - Dezembro de 2006

1 comentário:

Anónimo disse...

Então, para quando uma actualização?