terça-feira, outubro 24, 2006

Recordar o Poeta Carlos Queirós (um dos meus Poetas mais queridos)

Queirós, Carlos (José Carlos Queirós Nunes Ribeiro)

(1907 - 1949)


Poeta português, natural de Lisboa. José Carlos Queirós Nunes Ribeiro estudou na Universidade de Coimbra. É considerado um elo de ligação entre as gerações de Orpheu e da Presença, estando o seu nome sobretudo ligado a esta última. Colaborou em várias publicações, como a Revista de Portugal, a Contemporânea, a Variante, a Atlântico, e dirigiu a Litoral e a Panorama.

Distinguindo-se de muitos dos traços típicos da poesia presencista, os seus temas principais são os da nostalgia da infância, do amor e do ofício de poeta, temas tradicionais envoltos num certo humor irónico, num estilo depurado que conjuga classicismo, romantismo e modernidade. Escreveu Desaparecido (1935, Prémio Antero de Quental) e Breve Tratado de Não-Versificação (1948). Deixou, também, inéditos, incluídos no volume póstumo Poesia de Carlos Queirós (1966). É, ainda, autor dos ensaios Homenagem a Fernando Pessoa (1936) e de uma Carta à Memória de Fernando Pessoa, publicada na Presença, nº 40, Julho de 1936.



Libera me

Livrai-me, Senhor,
De tudo o que for
Vazio de amor.

Que nunca me espere
Quem bem me não quer
(Homem ou mulher).

Livrai-me também
De quem me detém
E graça não tem,

E mais de quem não
Possui nem um grão
De imaginação.

Carlos Queirós

Desaparecido

Sempre que leio nos jornais:
"De casa de seus pais desapar'ceu..."
Embora sejam outros os sinais,
Suponho sempre que sou eu.

Eu, verdadeiramente jovem,
Que por caminhos meus e naturais,
Do meu veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse ser o próprio arrais.

Eu, que tentasse errado norte;
Vencido, embora, por contrário vento,
Mas desprezasse, consciente e forte,
O porto de arrependimento.

Eu, que pudesse, enfim, ser meu
- Livre o instinto, em vez de coagido.
"De casa de seus pais desapar'ceu..."
Eu, o feliz desapar'cido!

Carlos Queirós

Paisagem
Nós sabemos que é grave o que se passa
Quando nada parece acontecer.
Nada se passa, não se passa nada,
Nem graça nem desgraça,
Nem uma ideia vem para entreter,
Nem um amigo para conversar,
Nem essa cara que se vê passar
Todos os dias ao entardecer.
Nem toca o telefone, nem na escada
Há um ruído estranho. Nada, nada
Parece acontecer. Nem graça nem desgraça...
Mas sabemos que é grave o que se passa:
- É a morte que anda à caça
E o tempo que anda a pascer.


Nós sabemos que é grave o que se passa
Quando nada parece acontecer.
Nem graça nem desgraça...
- É a morte que anda à caça
E o tempo que anda a pascer.


Carlos Queirós

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