sexta-feira, agosto 04, 2006



Morreu aos 90 anos a maior cantora de Mozart e Strauss do século XX

Retirada nos Alpes austríacos (e, antes, nos Alpes suíços), parecia que ela sempre viveria ali, nas alturas. Mas não. A vida alguma vez tinha de ceder e a de Elisabeth Schwarzkopf cedeu ontem, ao início da madrugada, em Schruns, no Vorarlberg (Áustria). Tinha 90 anos.

Espantosa vida e magnífica carreira. Nascida a 9 de Dezembro de 1915, em Jarotschin (Posnânia), a jovem Olga Marie Elisabeth Frederike chega em Março de 1933 a Berlim, para estudar na Escola Superior de Música, primeiro com Lula Mysz-Gmeiner, depois com Maria Ivogün e o marido desta, Michael Rauch- eisen: diziam-na mezzo, até contralto (!), acabou soprano coloratura. Anos mais tarde, transita para soprano lírico. E aí se fará imortal.

Estreia operática como 2.ª Rapariga das Flores numa produção do Parsifal, na Deutsches Opernhaus, a 15 de Abril de 1938. Contrai tuberculose em 1943. Já curada, vai para a Staatsoper de Viena em 1944. Será com esse milagroso ensemble artístico, sob a batuta de Karl Böhm, que a Schwarzkopf se vestirá de Zerbinetta, Musetta, Mimì, Violetta, Konstanze. A mudança para soprano lírico permite-lhe abraçar, enfim, os compositores pelos quais sempre a adoraremos: Mozart e Strauss. Walter Legge, director da EMI, contrata-a logo em Março de 1946 (cantou um Lied de Wolf na audição...). A EMI será sempre a sua casa a partir daí. E Legge o seu marido (casam-se em 1953) até à morte dele, em 1979.

Em 1947 e 1948, a estrela nascente dá-se a conhecer à Europa operófila, quando a Staatsoper faz residências no Covent Garden e no Scala. A "receita" que usa é... Mozart: em Londres, "diz-se" Donna Elvira e em Milão "faz-se" Condessa. A rendição é total. A sala londrina não se cansa de a chamar até 1959 e a Milão irá sempre até 1963. Salzburgo ouve- -a, quase sem interrupção, de 1947 a 1964 e a Bayreuth vai em 1951, como Eva e Woglinde. Estreia a Anne Trulove do Rake's Progress, de Stravins- ky (La Fenice, 1951). Os EUA, conquista-os aos poucos: Carnegie Hall (1953), San Francisco Opera (55), Lyric Opera Chicago (59), enfim, o Met, em 1964. E em 1965. E 1966! Os "presentes" que tem são poucos - mas quanto valem: Dona Elvira, Condessa, Fiordiligi em Mozart; a Condessa e a Marechala em Strauss e a Alice Ford, do Falstaff ! E opereta, com gosto! Mas, sobretudo, uma consumada, requintada e inspirada intérprete de Lied: Mozart, Schubert, Brahms, Strauss, Mahler e, acima de todos, Hugo Wolf, cujo génio deu a conhecer pelo mundo inteiro.

Despede-se dos palcos de ópera em 1971/1972 (Bruxelas) e dos recitais de Lied em 1979 (Zurique). Depois disso, ensinou até ter forças. Por ironia, morreu durante o Festival de Salzburgo, no ano-Mozart...
Diário de Noticias - 04 Agosto de 2006

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