Mártires de Chicago: Parsons, Engel, Spies e Fischer foram enforcados, Lingg (ao centro) suicidou-se na prisão.
A justiça levou a julgamento os líderes do movimento, August Spies, Sam Fieldem, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel. O julgamento começou no dia 21 de Junho e desenrolou-se rapidamente. Provas e testemunhas foram inventadas. A sentença foi lida a dia 9 de Outubro, no qual Parsons, Engel, Fischer, Lingg, Spies foram condenados à morte na forca; Fieldem e Schwab, a prisão perpétua e Neeb a quinze anos de prisão.
No dia 11 de Novembro, Spies, Engel, Fischer e Parsons foram levados para o pátio da prisão e executados. Lingg não estava entre eles, pois suicidou-se. Seis anos depois, o governo de Illinois, pressionado pelas ondas de protesto contra a iniquidade do processo, anulou a sentença e libertou os três sobreviventes.
AS ORIGEM DO 1º DE MAIO
"O 1º de Maio (ou melhor, as manifestações de trabalhadores no 1º de Maio), está, desde as últimas décadas do século XIX, intimamente ligado à história das lutas que determinaram o sentido histórico da movimentação social dos trabalhadores e, sobretudo, do proletariado industrial. A ligação íntima das manifestações do 1º de Maio ao processo de aquisição de uma consciência de classe generalizadamente enraizada nas massas populares explica-se pelo facto de que foram as condições de trabalho, e nomeadamente a luta, persistente e muitas vezes trágica, pela diminuição do horário de trabalho que estiveram na base do êxito organizativo do movimento operário e das expressões da sua própria capacidade. (...)
O 1º de Maio, dia do trabalhador/dia do trabalho, que hoje conhece diversos tipos de comemoração - porque "marco" e património colectivo da luta dos trabalhadores e "bandeira" visível da memória colectiva do movimento operário organizado - esteve imbricado no processo de sobrexploração inerente à expansão do capitalismo industrial no século XIX e às lutas do operariado por melhores condições de trabalho e remuneração.
A origem do 1º Maio como "marco histórico" do movimento operário situa-se nos Estados Unidos da América do Norte, exactamente no ano de 1886, data que culmina numa série de greves, manifestações e lutas que o operariado norte-americano vinha desenvolvendo sem cessar desde 1966/68, com o objectivo de conquistar o dia de oito horas de trabalho. Em 20 de Agosto de 1866, num Congresso Operário, em Baltimore, foi aprovado um documento a propósito da redução das horas de trabalho: "A primeira e maior necessidade do presente, a fim de libertarmos o trabalho deste país da escravidão capitalista, é a promulgação de uma lei, segundo a qual, o dia de trabalho deve compor-se de oito horas em todos so Estados americanos, e nós não abandonaremos, até ao triunfo, este alvo glorioso". Por outro lado, a transferência, desde Setembro de 1872, do Conselho Geral da AIT da Europa para os Estados Unidos, se significou o declínio da I Internacional na Europa, impulsionou, ainda que por breve período, a organização e capacidade de luta dos trabalhadores do Novo Mundo. Animado por operários emigrantes de origem alemã, polaca, italiana, o movimento operário norte-americano desenvolve, desde o Congresso referido, uma série de greves e manifestações ao mesmo tempo em que se implanta e consolida em todos os Estados norte-americanos desde a Nova Inglaterra à Pensylvania, do Illinois e Indiana ao Missouri e ao Maryland.
É, todavia, a partir de 1880, com a constituição da Federação dos Trabalhadores dos Estados Unidos e Canadá e, sobretudo, a partir de 1884, com a fixação do 1º Maio como dia de greve geral pela conquista das oito horas de trabalho. Nesse ano de 1884, como em 1885 e nomeadamente em 1886, declaram-se milhares de greves em todo o território dos EUA e em três anos perto de 300 000 operários norte-americanos alcançam, com dificuldades desiguais, a jornada de oito horas de trabalho. Das catorze horas de trabalho nos inícios do século XIX chegava-se às oito horas de trabalho nos finais do século, regime que generalizadamente aplicado nas zonas mais industrializadas dos Estados Unidos, estada longe, ainda, de cobrir todo o seu território.
Mas, nas greves e manifestações do 1º de Maio de 1886, no grande centro industrial que era já Chicago, algo ocorreu de importante e trágico nas lutas pelas oito horas de trabalho, ao ponto de ser essa data e os acontecimentos de Chicago, aqueles que são comummente referenciados como a "origem" histórica do 1º de Maio como jornada de luta e dia da solidariedade internacionalista dos trabalhadores. A preparação do 1º de Maio em Chicago foi intensa e quase meticulosamente organizada. Para esse preparação fundara-se a Associação das Oito Horas e haviam-se realizado inúmeras reuniões ("meetings"), redobrando, nos dias que antecederam o 1º de Maio de 1886, em Chicago, a agitação operária e a propaganda grevista. Na feitoria de Mac Cormich foram despedidos durante a preparação do 1º de Maio cerca de 1200 operários que se haviam recusado a abandonar os sindicatos.
Milhares e milhares de operários nesse 1º de Maio de 1886 entraram em greve. Um gigantesco comício agrupou em Chicago, sob convocação da Central Operária de Chicago, mais de 25 000 indivíduos. Generalizou-se o movimento grevista que em breve atingia cerca de 60 mil trabalhadores. Manifestações e greves continuaram a 2, 3 e 4 de Maio e o patronato viu-se obrigado, na maioria da empresas, a ceder às reivindicações do operariado. No entanto, a 3 de Maio, em frente das instalações de Mac Cormich, os operários que haviam sido despedidos foram violentamente atacados pela polícia no decurso de uma manifestação. Um morto, dezenas de feridos e prisões. O Arbeiter Zeitung, diário operário de língua alemã, publicou a seguir a estes acontecimentos um apelo clamando às armas. Manifestações e tiroteio intenso seguiram-se a este apelo. Iniciava-se a maior e mais violenta repressão jamais feita nos Estados Unidos. Todos os militantes que trabalhavam no Arbeiter Zeitung foram detidos, assim como os principais dirigentes operários.
A 20 de Agosto de 1886 oito militantes operários compareceram ante o tribunal de Cook County. Julgados e condenados à morte. A dois deles, Fielden e Schwarb, foi a condenação comutada em prisão perpétua e a um terceiro a 15 anos de prisão. A sentença cumpriu-se a 11 de Novembro de 1887 sobre quatro dos detidos já que um outro, Ling, se suicidou na véspera do enforcamento. Em 1893, e após um longo inquérito, o governador do Estado do Illinois reconheceu a inocência das vítimas de Chicago. Esse reconhecimento só beneficiou três dos condenados de 1886. Os "Mártires de Chicago" e o 1º de Maio de 1886 cimentavam uma luta que ganhou, nos anos posteriores, a Europa e o Mundo. A tragédia de Chicago em breve chegou à Europa e, na Europa, a Portugal onde desde então a solidariedade para com os trabalhadores norte-americanos e para com os "Mártires de Chicago" projectou o 1º de Maio como jornada de luta e solidariedade dos trabalhadores de todo o Mundo."
In, revista História, nº 7, Maio de 1979, excerto de artigo de César Oliveira - "Origens do 1º de Maio"
1 comentário:
Very pretty design! Keep up the good work. Thanks.
»
Enviar um comentário