segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Há dias em que uma pessoa não devia sair de casa para não se arriscar a dar de caras com uma realidade que lhe troca todas as voltas. Foi o que aconteceu na tarde de sexta-feira, em que uma vulgar viagem de autocarro entre Setúbal e Lisboa se transformou numa aventura recheada de episódios quase surreais.

Tudo estava a correr sobre rodas, quando, a meio do caminho, em plena auto-estrada, o autocarro dos Transportes Sul do Tejo (TST) encosta à berma e pára. O motorista sai para a rua e fecha a porta. Os passageiros ficam a olhar uns para os outros, pensando alguns que o homem teria ido fazer alguma necessidade fisiológica inadiável. Mas não. Pouco depois ele volta, anuncia que se rompeu o tubo da água e "é preciso esperar por outro autocarro".

Logo se levanta um coro de protestos, enquanto uma senhora se recosta no banco e suspira "Isto é de mais. Na terça-feira também o autocarro avariou a meio da viagem. Já é a segunda vez numa semana". As pessoas desatam todas a ligar do telemóvel a avisar que vão chegar atrasadas, porque "o autocarro avariou outra vez. É o costume!"

Outra passageira queixa-se que "vai ficar tudo atrasado para fazer o exame médico. Como é que os vou convencer que o autocarro avariou na auto-estrada?"

Passados 25 minutos, outro autocarro encosta à berma. As pessoas desatam a sair para o apanhar, mas acabam por desistir. Afinal, aquele não ia para Lisboa. Cacilhas era o seu destino. Desanimados, os passageiros ficaram na estrada a apanhar ar e a fumar.

Mas logo a seguir entram todos a correr para o autocarro avariado. Mas o que é que se passa?, pergunta alguém. A explicação é simples chegou um carro da Brigada de Trânsito da GNR com dois agentes, que mandaram entrar toda a gente, porque não se pode estar apeado na auto-estrada. Ainda por cima, sem colete retrorreflector.

Meia hora após a avaria, lá chegou o autocarro de substituição, para onde os agentes da GNR escoltaram os passageiros. Ao passar pelo motorista da viatura avariada, uma senhora disse-lhe que "isto é inconcebível". E ele tentou justificar-se "Sabe. São coisas que acontecem. É como as pessoas. Às vezes estão bem e de repente dá-lhes uma coisinha má"...

Daniel Lam

Jornalista

Sem comentários: