quarta-feira, dezembro 21, 2005


Maria Rattazzi sobre o Teatro de São Carlos
(1876 - 1879)
"(...) Eis-nos, pois, no teatro. É realmente um teatro ou um botequim? O que é certo é que, desde as portas que dão ingresso para a sala, em qualquer parte do edifício, do fundo dos mais obscuros recantos até ao telhado, S. Carlos é uma vasta loja de bebidas: corredores, salas, gabinetes, bastidores, escadas, estão pejados de fumantes e de fumo. Há uma ordem que proíbe fumar no interior do teatro; mas o que é uma ordem em face do costume? Visto que toda a gente transgride, porque toda a gente tem razão. As proibições, em Portugal, são escritas ora em pergaminho, ora na película de uma cebola. Umas ficam, outras leva-as o vento. A que proíbe fumar, é das últimas. E contudo, nada mais acertado e justo, não é verdade? Pois tende o bom senso de não o dizer. Desfechar-vos-iam uma gargalhada no nariz.
Um dia, por ocasião de ir ver o palco, notando que toda a gente andava de cigarro ou charuto na boca, um dos meus compatriotas, o sr. X..., teve a audácia de manifestar algumas apreensões a propósito da possibilidade de um incêndio; eventualidade muito possivel, dado o estado do material e dos aparelhos que, pela sua vetustez, equivalem a um vasto montão de matérias inflamáveis. Pois estas reflexões foram repelidas da maneira mais original.
- A sua Ópera de Paris - respondeu-se-lhe -, a sua Ópera onde era proibido fumar, e onde se não fuma, ardeu; o nosso S. Carlos é incombustível; a sua glória preserva-o do incêndio!
Que responder a semelhante argumento?
Há ainda outras razões que se poderiam invocar com sobejos motivos.
Sabido é que o fumo do tabaco incomoda os estrangeiros e mesmo os nacionais, e que há muitas pessoas que se privam do prazer da música para não correrem o risco de ser asfixiadas. É frequente ouvir queixaram-se cantores e cantoras, de não somenos reputação, de que são fumados, como presuntos da Vestfália, antes de entrar em cena. Eis o que se lhe responde:
- É costume! O Tejo pode secar ou desviar-se da corrente, mas o costume é inflexível.
Conversava, uma vez, a respeito destes inconvenientes, num camarote, com uma encantadora portuguesa, esposa de um diplomata espanhol, senhora de bastante espírito.
- É abominável, mas verdadeiro, dizia ela; odeio o cheiro acre e nauseabundo que os nossos fumantes largam nos corredores e que se respira por todos os lados. É preciso contudo resignar-me, e só começarei a queixar-me no dia... - naturalmente prestes a raiar - em que se mascar tabaco e se salivar sobre a cabeça do próximo, como na América.
Não resta mais nenhum traço a dar neste quadro de usos e costumes.
Pode ler-se, nos bastidores de S. Carlos, escritos em letras de quinze centímetros de alto, cinco ou seis avisos, do seguinte teor literal: É EXPRESSAMENTE PROIBIDO FUMAR NO PALCO."

2 comentários:

Alvaro Gonçalves Correia de Lemos disse...

Oi amigo,

Espero k te possa chamar assim, de amigo.
Antes de mais quero agradecer a tua tão querida visita ao meu cantinho, que muito adorei, espero ver-te mais vezes por lá.
Estive a ler teu lugar, e gostei, tem garra, tem de td para ser um lugar bom para estar.
Felicidades.
Aproveito para te desejar um bom Natal, muito embora e como eu sempre digo, e frizando Ary, Natal é quando o homem quer, pois é tb esse o meu lema.
Um BIG xi - coração e até mais logo.

Alvaro Gonçalves Correia de Lemos disse...

Nossa!!!

Não resisti em cá passar mais uma vez e te desejar uma vez mais um feliz Natal cheio de paz, amor e harmonia e que possamos todos vivê-lo todos os dias de nossas vidas transmitindo-o tb aos outros.
mil e um xi - corações.