sexta-feira, setembro 23, 2005

Dois mini-artigos sobre o vergonhoso carnaval de Fátima Felgueiras

A Fatinha
Regressada de umas longas férias em Copacabana, a Dona Fátima Felgueiras diz agora "estar disponível para a justiça". No entanto, durante dois anos e meio esteve fugida dos tribunais e de uma prisão preventiva que nunca cumpriu. A Dona Fátima Felgueiras justifica-se com os julgamentos mediáticos que sujeitam os políticos a condenações antecipadas. No entanto, durante mais de dois anos, usou a democracia mediática dando entrevistas às televisões em que se apresentava, para espanto geral, como uma exilada política e pressionava as autoridades portuguesas a reverem a sua prisão. A Dona Fátima Felgueiras defende o seu direito à presunção de inocência. Mas quando alguém foge por dois anos e meio a um processo em que é suspeito de ter praticado 23 crimes, não sobra muito dessa presunção de inocência. Pelo menos, não se é inocente de ter fugido a uma medida de coacção judicialmente decretada. A Dona Fátima Felgueiras exige os direitos iguais de qualquer cidadão comum. Mas um cidadão comum não anda fugido dois anos e meio a uma prisão preventiva da qual preventivamente escapou e, ao regressar a Portugal, acaba em situação mais confortável do que a que tinha quando saiu. A Dona Fátima Felgueiras quer colaborar com a justiça, esclarecendo tudo sobre um processo em que é suspeita da prática de crimes no exercício de um cargo político. Mas a primeira coisa que a Dona Fátima Felgueiras fez ao chegar a Portugal foi pestanejar aos habitantes de Felgueiras e anunciar heroicamente a sua candidatura à Câmara, como se nenhum processo existisse.
A Dona Fátima Felgueiras está há dois anos e meio a envergonhar a democracia e a justiça portuguesa. A sua candidatura à Câmara de Felgueiras só pode ser vista como um insulto. Portugal é um país brando, inofensivo, poucochinho. Não se pensava que também fosse uma farsa.
Pedro Lomba
Justiça e água de coco
A juíza que deixou sair em liberdade Fátima Felgueiras pode ter seguido à risca todas as leis da nação. Todas as leis, menos uma a do bom-senso. A fazer jurisprudência, a decisão tomada pelo tribunal aconselha o seguinte: se o caro amigo estiver a braços com a justiça e à beira de ser encarcerado, dê um tempo. Apanhe o primeiro avião para um paraíso tropical, dedique-se à água de coco, refresque- -se numa esplanada junto ao mar, passeie-se pelo calçadão de Ipanema, suba ao Cristo Redentor, visite o Museu de Arte Contemporânea de Oscar Niemeyer, e espere. Espere, pois, com calma, tudo se resolverá. É preciso algum dinheiro, mas sejamos francos: entre os calabouços da Judiciária e a baía da Guanabara, quem é que não escolheria a baía da Guanabara?
Fátima Felgueiras escolheu a Guanabara, e escolheu bem. Dezasseis meses depois voltou, a justiça agradeceu-lhe a amabilidade e o povo acolheu-a em delírio. Aliás, Fátima Felgueiras não voltou apenas - ela voltou muito melhor do que partira. Excelente cor, cabelo escadeado, nuances acobreadas, pele rejuvenescida, talvez mesmo um face lifting. É como se tivesse estado dois anos e meio num spa, parcialmente pago pelo Estado português, à espera que as feridas da justiça cicatrizassem.
E um dia, Fatinha olhou para o calendário, viu que era época de eleições e que a fase de inquérito do seu processo já tinha terminado, e decidiu regressar a Portugal. Combinou com a Polícia Judiciária um comité de boas-vindas, viajou para Felgueiras com gasolina paga pelos nossos impostos, e foi alegremente libertada pela juíza da comarca, porque, claro, já não existe perigo de fuga e toda a prova necessária ao julgamento do seu caso foi reunida. Lógico? Muito lógico. Muito legal. Muito constitucional. Só que no meio de todas estas leis rigorosamente cumpridas, há um País a afundar-se, ao ritmo do samba.
João Miguel Tavares

1 comentário:

Anónimo disse...

A nossa Evita de Felgueiras está divina.Ela pode ter cometido ilegalidades mas o povo adora-a.
Em democracia, o povo é soberano, é ele quem mais ordena. E os Felgueirenses querem que a sua Fátima seja, de novo, a chefona lá do sítio.
E enquanto a justiça funcionar nestes moldes, que seja o povo a decidir por muito que doa aos bem-pensantes dos intelectuais de Lisboa. zé maria