Esta é a capa da revista "Gente" (mãe da actual "Nova Gente") da semana de 23 - 29 de Abril de 1974. Assim sendo, foi a última "Gente" antes do 25 de Abril de 1974, dia da Liberdade, dos Cravos e de ilusões para a Esquerda.
Muitos são os artigos no interior da revista mas um me parece interessante salientar: a homenagem à poetisa Natércia Freire pelo número mil da sua famosa página literária no jornal "Diário de Noticias".
Estas páginas literárias, que então tinham o nome de "Artes e Letras", foram iniciadas por Natércia Freire em 1955. "Pode dizer-se que a maioria dos grandes vultos artísticos e literários do país aí estiveram representados", refere-nos o artigo.
Na homenagem estiveram vários vultos da cultura de então em Portugal: David Mourão-Ferreira, Fernanda Botelho, Vitorino Nemésio, Ferreira de Castro, Maria Lamas, Fernando Namora, Amélia Rey Colaço, escultor Martins Correia, Hernâni Cidade, entre outros.
Ironia do destino é que pouco depois deste artigo dá-se o 25 de Abril. A revolução que esqueceu Natércia Freire... injustamente. Não havia mulher mais livre de pensamento e de acção que Natércia Freire, pois a escrita é a forma mais leve de libertação.
É maltratada pelos "filhos", alguns bem "nobéis", que ajudou a criar no Diário de Noticias. Foi esquecida. Pouco depois deste artigo deixou de haver "Artes e Letras" com Natércia Freire.
Natércia Freire morreu com 85 anos no dia 17 de Dezembro de 2004. Aqui fica a homenagem, a recordação e um poema.
Um dia
Um dia partirei muito cansada
Com as lembranças cingidas ao meu peito
E uma voz de saudade e de nortada.
Com as lembranças cingidas ao meu peito
E uma voz de saudade e de nortada.
(Levarei voz para gemer de espanto.
Levarei mãos para dizer adeus...
Olhos de espelho, e não olhos de pranto,
Eu levarei. Os olhos, serão meus?)
Levarei mãos para dizer adeus...
Olhos de espelho, e não olhos de pranto,
Eu levarei. Os olhos, serão meus?)
Um dia partirei, talvez manhã.
Uma canção de amor virá das dunas.
De finas pernas, seguirei a margem
Límpida, boa, enorme, no ribeiro
De água discreta a reflectir miragem,
Braços de ramos, gestos de salgueiro.
Uma canção de amor virá das dunas.
De finas pernas, seguirei a margem
Límpida, boa, enorme, no ribeiro
De água discreta a reflectir miragem,
Braços de ramos, gestos de salgueiro.
Um dia partirei, muito diferente.
Enfim, aquela que jamais eu fora!
E os de Cá hão-de achar que vou contente.
Enfim, aquela que jamais eu fora!
E os de Cá hão-de achar que vou contente.
2 comentários:
olá danies, vim do meu para o teu blog, e encontro uma reportagem sobre a natércia freire. mulher que grande influência exerceu em mim. há no meu blog uns textos sobre ela e de vez em qd aparecem uns poemas dela tb.
Por indelicadeza do comentário do "Jorge de Sena Reborn" fui obrigado a apagar o seu comentário, pela primeira, no meu blog. Ao dito autor do comentário, devia ter vergonha de usar o nome de tal alto homem das letras portuguesas e que tanto estimo, Jorge de Sena
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