Exposição Universal de Paris - 1900 - Torre Eiffel
vista pela Revista Occidente, de 30 de Julho de 1900
"Á exposição universal de Paris em 1900 parece faltar, não obstante as maravilhas ali reunidas, o costumado clou, isto é, uma obra pasmosa e que só ella se tornasse digna de attrahir á capital da França todo o mundo civilisado, ávido de admirar o prodigioso engenho humano.
em verdade, bem se tratou de conseguir para o grande certamen uma obra de subido arrojo inventivo, e os projectos não faltaram, tão interessantes como originaes. Dos que se levaram a effeito, uns não atingiram precisamente o que se imaginára, outros são inderiores á grandeza colossal do conjuncto da exposição. Assim, o grande telescopio para ser ver a lua a um metro nãoproduziu esse effeito, mostrando-a comtudo a uma distancia relativamente curta. O castello d'Agua, o Palácio da Electricidade, e o passeio rolante, muito embora sejam obras notáveis não se deve considerar qualquer d'ellas como o clou da exposição.
Mas confessemos que depois da Torre Eiffel é difficil fazer-se obra mais assombrosa, que a exceda ou sequer a eguale. Succede, pois, que para muitos dos visitantes da exposição, e que pela primeira vez vão a Paris, é ainda, passados onze anos, a Torre Eiffel o clou do grande certamen universal. O monumento ergue-se ousadamente; o olhar do forasteiro vê-o de qualuqer sitio. O monstruoso edificio de ferro esbraseia-se nas noites de festa, ou illumina-se phantasticamente; de forma que é sempre admirado, quer de longe, quer subindo ás plataformas e vendo d'ellas o panorama da cidade.
É realmente extraordinária a impressão de quem d'essas alturas observa Paris, ou vê o formigar da multidão por entre as variadissimas installações da grande feira.
Na estampa pode o leitor attentar melhor toda a enormidade do colosso de engenharia d'este século, essa prodigiosa torre que se ergue 300 metros acima do solo, imaginar das impressões que se poderão experimentar em tal altura.
Na primeira plataforma, que está a 38 metros, o espectáculo é ainda vulgar, porém na segunda, a 110 metros, o panorama é extremamente curioso, porque todos os grandes edificios que povoam Paris parecem pequenas casinhas que se erguem sobre grandes manchas escuras, formadas pelos telhados das outras edificações ou pelas mattas dos bosques e grandes avenidas da cidade, confundindo-se na distancia com os campos que a circumdam. Na terceira plataforma, que está á altura de 207 metros, o panorama é ainda mais dilatado e confuso. O monte Valeriano deixa-se dominar pela torre e a vista extende-se para além d'elle, descobrindo a collina de Montmartre, que parece um grande promontorio alvinitente n'uma extensa costa marítima.
Sobre a quarta plataforma, que está a 273 metros levanta-se a cupola, e sobre esta o farol que não obstante ter 8 metros de altura, parece, visto do solo, um pequeno botão. Em volta d'este pharol há uma varanda circular, unico ponto accesssivel da torre, que ainda conta até á cuspide mais 20 metros prefazendo o total de 300 metros tão celebrados.
Nas festas nocturnas da exposição continua-se decorando-se com vistosas iluminações a gigantesca torre e a ella sobem milhares de visitantes, que não se cançam de admirar o aspecto feerico do immenso recinto da exposição, tão constellado de luzes como o céo o é de estrellas em noites limpidas e serenas."
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