João Aguardela, que em 1992 com os Sitiados pôs Portugal a cantar "esta vida de marinheiro está a dar cabo de mim/rapara para parapa raparaparê’’, morreu no domingo à noite, em Lisboa, vítima de cancro. Tinha 39 anos (faria 40 em Fevereiro) e a sua morte deixa mais pobre a música portuguesa.
Orgulhoso da tradição musical portuguesa, João Aguardela foi um visionário, um artífice da música popular portuguesa. Como matéria-prima elegeu as raízes profundas, que depois casava com sonoridades contemporâneas. Em 1994, tal ousadia valeu-lhe o Prémio Revelação atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores.
Além dos Sitiados, com quem lançou cinco discos desde a fundação em 1987 até 2000, a Aguardela se devem ainda vários outros projectos que tiveram a virtude de rejuvenescer a música portuguesa. Foram os casos de Megafone (recolhas etnográficas de Giacometti e José Alberto Sardinha com electrónica), Linha da Frente (cantando autores como Manuel Alegre, Ary dos Santos, Fernando Pessoa e Natália Correia, entre outros) e, mais recentemente, A Naifa, que conjuga o fado clássico com linguagens pop. Com este projecto lançou três discos, o último dos quais, ‘Uma Inocente Inclinação para o Mal’, data do ano passado. Exemplo da sua versatilidade (e disponibilidade), Aguardela fez ainda a banda sonora do documentário ‘Labirinto do Atum’.
O músico não quis velório e a cerimónia fúnebre realiza-se hoje (16h00) no cemitério do Alto de S. João, Lisboa.
TESTEMUNHOS
SABIA O QUE QUERIA E ERA UM ACTIVISTA: Zé Pedro, Músico, Xutos & Pontapés
Chegámos a tocar juntos no Estádio de Alvalade... Foi uma figura singular no nosso meio musical. Sabia o que queria e era um activista. Nunca baixava os braços.
PERDA IMPORTANTE E DEMASIADO CEDO: José Jorge Letria, Vice-presidente da SPA
Recebemos a notícia com surpresa e choque. Era um cooperador cordial e amigo. Com ele, perdeu-se um nome importante da nova geração de músicos. E demasiado cedo!
FAZIA COISAS COM SENTIDO: Adolfo Luxúria Canibal, Músico, Mão Morta
Fomos colegas de Direito e não estávamos juntos há muitos anos, mas, apesar de não trabalharmos no mesmo registo, eu percebia o que ele fazia. Fazia coisas com sentido.
Luís Figueiredo Silva - in: Correio da Manhã
Sitiados - Outro Parvo No Meu Lugar
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