É o país dos incêndios. O país que não tem meios materiais e humanos para apagar fogos. Mas, atenção – enquanto o seu PIB vai ardendo -, é o país do Euro 2004 e das SCUTs.
É o país que não tem dinheiro para comprar Canadair ou manter uma frota alargada de helicópteros Puma, que actuem onde bombeiros e viaturas não chegam, entre as estradas a rasgar serras e mato que nunca foram feitas.
É o país que não possui uma política séria para a floresta e a água. Mas que projecta Otas e TGVs. E que vibra com os cifrões que virão desses cegos que visitarem o então país da terra queimada.
É o país do maior défice da zona euro. Mas, mesmo pobre entre os ricos, vai sendo o país que alegremente mais lixo foi produzindo na Europa nas últimas décadas.
É o país que vê os seus cientistas partir e não regressar. O país onde o desemprego entre os jovens assusta o mais optimista dos licenciados. O país dos doutores e engenheiros de trazer por casa. O país do desemprego de longa duração, que já dobrou o existente há cinco anos. O país das feirinhas e festas de jet set da tanga.
É o país do «´tá tudo bem» e «dá cá o meu». Que tanto condecora estrelas da TV por ter um sorriso bonito, como admite que um irlandês receba com justiça uma comenda maior da Nação, ainda que vestido de cowboy. É o país do qualquer coisa com açúcar, mas de vida amargurada.
É o país dos festivais de música e dos telemóveis. O tal país que não poupa e se endivida. O país que, no entanto, não compra CDs e livros. E onde o IVA sobre a cultura mata qualquer ilusão de adolescente.
É o país dos paradoxos. Do inexplicável. O ponto de desencontro entre as mentes curtas e as visões progressistas. A terra dos milagres. A pátria dos desenrascanços. A morada das coisas belas do mundo. E a tumba dos seus sonhos.
É o país dos incongruentes. Dos que se moldam ao saltar a fronteira. Que procria inadaptados entre os seus. Faz-se gigante nos projectos impossíveis. Fracassa quando se lhe pede para somar «um e um».
Ri-se com a alma de um sul-americano. Mas, de costas voltadas para o Velho Continente, abraça-se no lamento, vidrado sem destino em África. É o país dos tristes e dos infelizes. E não era necessário um estudo do Instituto Alemão de Estudo do Trabalho para dizer isso. Portugal perdeu o sorriso. Seria preciso recuar muitos anos para encontrar um fado tão negro e carregado como este.
Portugal enterrou-se na descrença enquanto se deixava guiar pela fé. Foi-se enganando guiado pela inveja e o egoísmo. Foi fiador do maldizer da sua sorte enquanto continuava à espera de mais um outro D. Sebastião. De um Eusébio. Uma Amália. Um Variações. Ou de um totalista no euromilhões. O Portugal acomodado é tão culpado como o Portugal megalómano. E ambos merecem um valente pontapé no cu.
É o país que não tem dinheiro para comprar Canadair ou manter uma frota alargada de helicópteros Puma, que actuem onde bombeiros e viaturas não chegam, entre as estradas a rasgar serras e mato que nunca foram feitas.
É o país que não possui uma política séria para a floresta e a água. Mas que projecta Otas e TGVs. E que vibra com os cifrões que virão desses cegos que visitarem o então país da terra queimada.
É o país do maior défice da zona euro. Mas, mesmo pobre entre os ricos, vai sendo o país que alegremente mais lixo foi produzindo na Europa nas últimas décadas.
É o país que vê os seus cientistas partir e não regressar. O país onde o desemprego entre os jovens assusta o mais optimista dos licenciados. O país dos doutores e engenheiros de trazer por casa. O país do desemprego de longa duração, que já dobrou o existente há cinco anos. O país das feirinhas e festas de jet set da tanga.
É o país do «´tá tudo bem» e «dá cá o meu». Que tanto condecora estrelas da TV por ter um sorriso bonito, como admite que um irlandês receba com justiça uma comenda maior da Nação, ainda que vestido de cowboy. É o país do qualquer coisa com açúcar, mas de vida amargurada.
É o país dos festivais de música e dos telemóveis. O tal país que não poupa e se endivida. O país que, no entanto, não compra CDs e livros. E onde o IVA sobre a cultura mata qualquer ilusão de adolescente.
É o país dos paradoxos. Do inexplicável. O ponto de desencontro entre as mentes curtas e as visões progressistas. A terra dos milagres. A pátria dos desenrascanços. A morada das coisas belas do mundo. E a tumba dos seus sonhos.
É o país dos incongruentes. Dos que se moldam ao saltar a fronteira. Que procria inadaptados entre os seus. Faz-se gigante nos projectos impossíveis. Fracassa quando se lhe pede para somar «um e um».
Ri-se com a alma de um sul-americano. Mas, de costas voltadas para o Velho Continente, abraça-se no lamento, vidrado sem destino em África. É o país dos tristes e dos infelizes. E não era necessário um estudo do Instituto Alemão de Estudo do Trabalho para dizer isso. Portugal perdeu o sorriso. Seria preciso recuar muitos anos para encontrar um fado tão negro e carregado como este.
Portugal enterrou-se na descrença enquanto se deixava guiar pela fé. Foi-se enganando guiado pela inveja e o egoísmo. Foi fiador do maldizer da sua sorte enquanto continuava à espera de mais um outro D. Sebastião. De um Eusébio. Uma Amália. Um Variações. Ou de um totalista no euromilhões. O Portugal acomodado é tão culpado como o Portugal megalómano. E ambos merecem um valente pontapé no cu.
Filipe Rodrigues da Silva
1 comentário:
Não deveríamos mostrar-nos tão críticos
Entre o sim e o não
Não há tanta diferença como isso.
Escrever numa folha em branco
É bom.
Mas não menos bom é dormir e comer à noite
A água fresca sobre a pele o vento
Os fatos bonitos
O ABC
Defecar.
Falar de corda em casa de enforcado
É contrário à boa educação
E marcar no meio do lixo
Uma nítida diferença entre
A argila e o esmeril
Nâo parece conveniente.
Ah,
E o que fizer alguma ideia
Do que é um céu estrelado
Esse
Pode muito bem calar o bico.
Bertolt Brecht
Poemas, 1973
Gostei do texto, e concordo. Não podemos encostar-nos à espera de D. Sebastião, mas é o que está a acontecer. Mas milagres não existem.
O poema do Brecht parece-me encaixar em tudo isto. De uma outra forma..
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