Quem visita regularmente este blog, sabe que há poucos dias escrevi um texto um pouco violento e cheio de raiva, escrito num momento de desânimo pessoal, onde falava da questão dos incêndios e da saída do nosso ex-ministro das Finanças do governo.
Tenho perfeita consciência que os termos utilizados no texto não eram, de modo algum, nem apropriados nem elegantes para um blog com estas caracteristicas.
No próprio texto eu referi que o que escrevia era um desabafo, feito com a cabeça quente, e que o mais provavel é que o tirasse no dia imediatamente a seguir. A verdade é que, por esquecimento e estupidez, não o retirei e o mesmo ficou por tempo alongado.
Mas o pior é que ofendi, e muito, uma pessoa que representa toda uma classe.
Essa pessoa escreveu um comentário que me doeu como duas boas bofetadas na cara.
Fiquei envergonhadissimo, principalmente porque me considero uma pessoa correcta, com alguma sensibilidade e com dois dedos de testa. Enfim, o mal está feito e resta, humildemente, minimizar os "estragos".
Assim, ao Primeiro-sargento José Pereira e a todos os ramos das Forças Armadas, as minhas mais sinceras desculpas pela ofensa à(s) pessoa(s) e à instituição em causa. Não era minha intenção ofender nem menosprezar seja quem fosse. Muito menos ofender na honra.
Aceite, mais uma vez, as minhas desculpas e receba o meu obrigado pelo comentário que escreveu e que a seguir transcrevo.
Daniel
Transcrição do comentário feito pelo Primeiro-sargento José Pereira
Caro Daniel:
Não nos conhecemos e por isso passo a apresentar-me. Chamo-me José António Pereira e sou militar e tomei conhecimento, através do blog, sobre a sua impressão pouco abonatória para o grupo profissional a que pertenço, os militares, e não pude evitar deixar aqui também o meu comentário esclarecedor uma vez que no seu escrito demonstra um profundo desconhecimento sobre a realidade dos cidadãos em uniforme deste País e até mesmo um inusitado rancor, facto que me deixou perplexo e ofendido.
Como facilmente depreende tenho um orgulho muito grande em ser militar (mas não sou militarista), na farda que envergo, e no País que jurei, há mais de 20 anos atrás, defender mesmo com o uso da minha própria vida, situação sem paralelo em qualquer outro grupo profissional.
Ingressei na vida militar com 17 anos de idade, por opção própria, na Força Aérea Portuguesa e conheço bem a realidade das Forças Armadas na sua globalidade uma vez que, por vicissitudes do destino, sou, há mais de cinco anos, membro da direcção da Associação Nacional de Sargentos, uma associação sócio-profissional representativa dos Sargentos dos três Ramos das Forças Armadas e cujo cargo é exercido nos tempos livres e sem qualquer remuneração.
No seu entender os militares deveriam participar no combate aos incêndios.
Cabe-me esclarecer que durante a época de Verão existem em todo o País milhares de militares integrados no sistema de combate e vigilância aos incêndios coordenados pelo Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, usando os mais variados meios aéreos, de comunicações, veículos tácticos e de combate a incêndios assim como patrulhas armadas que percorrem diversas matas nacionais a pé e que ainda recentemente na Tapada de Mafra, detiveram incendiários em flagrante delito.
Acresce ainda que a generalidade dos militares não têm formação para combater incêndios e, caso se recorde, há cerca de 15 anos atrás uma patrulha com mais de uma dezena de militares, por esse motivo, morreram carbonizados combatendo um incêndio na Serra de Sintra.
Um combate a um incêndio florestal requer um treino específico e recordo-lhe que qualquer cidadão o pode obter de forma voluntária inscrevendo-se numa qualquer corporação de bombeiros, desde que reúna as condições e aptidões necessárias. Até o próprio Daniel o poderá fazer, como facilmente entende. Qualquer português tem o direito e também o dever de ser bombeiro, desde que assim o entenda.
De qualquer forma, como sabe desde 1982 que os militares estão submetidos, e bem, ao poder político. Quer isto dizer que todas as missões atribuídas em Lei às Forças Armadas, são definidas por esse mesmo poder politico e não cabe aos militares alterá-lo e portanto é particularmente injusto ser alvo das críticas apontadas pelo Daniel por algo de que não se tem culpa.
Deveria apontar o dedo, isso sim, aos sucessivos governos que têm dirigido o nosso País e que com as suas politicas implementaram a desertificação do interior do País, acabaram com a Agricultura e deixaram as terras ao abandono à mercê dos incendiários. Assim poderemos reunir todos os Portugueses e por mais que sejam nunca conseguiremos combater esta terrível praga que vem devorando o nosso território.
De qualquer forma, no seu entender, deveriam combater os incêndios, também os prisioneiros, eventualmente com os guardas prisionais atrás não fosse algum querer se escapar ou até atear um novo incêndio… Acrescento ainda uma sugestão, dentro da sua linha de pensamento: E porque não os desempregados, essa turba de malandros que não quer trabalhar? Já imaginou o sucesso que seria os mais de 500 000 desempregados a combater os incêndios. Não haveria fogo que resistisse… (espero que compreenda a ironia).
Também na sua opinião andam, os militares, a roçar o cu pelas paredes… como se fossemos um bando de inúteis. Caro Daniel: Participei ao longo da minha vida militar em várias missões em teatros operacionais onde posso destacar o embargo à antiga Jugoslávia, durante mais de três anos e uma outra que me deu particular prazer que foi a evacuação de cidadãos portugueses quando da guerra civil na Guiné-Bissau em 1998. Nunca poderei esquecer a gratidão expressa no rosto daqueles portugueses, para com os militares do seu País. Essas pessoas não partilharão com toda a certeza da sua opinião. Participei também em dois destacamentos na República Democrática de São Tomé e Príncipe, onde diariamente fazemos, desde há mais de 16 anos evacuações sanitárias de doentes da Ilha do Príncipe para São Tomé e que sem o nosso apoio muitos deles morreriam por falta de assistência médica.
Terei todo o gosto em o conduzir numa visita à minha unidade, Base Aérea nº1, Sintra, para que possa ver o trabalho que desenvolvemos diariamente na área da vigilância marítima, protecção ambiental, evacuações sanitárias, transporte táctico, busca e salvamento no mar, etc., e assim conhecer melhor a realidade das Forças Armadas para as quais contribui com os impostos que paga ao Estado.
Peço-lhe que não leve a mal esta minha intervenção. A culpa não é sua, mas sim do poder político que desde há muitos anos vêm desenvolvendo, maliciosamente, uma campanha de desinformação junto do Povo português.
As Forças Armadas serão sempre aquilo que os portugueses quiserem! Cumprimentos
As Forças Armadas serão sempre aquilo que os portugueses quiserem! Cumprimentos
José Pereira
Primeiro-sargento da Força Aérea Portuguesa
Nota: O Primeiro-sargento José Pereira, no comentário original, colocou o número do seu telemóvel. Por uma questão de privacidade e segurança, o mesmo foi retirado na transcrição.
1 comentário:
Meu caro Daniel
Não fique tão culpabilizado por causa dos seus desabafos. Pelo menos, tiveram a vantagem de provocar um esclarecimento sobre a acção positiva de um ramo das forças armadas que muita gente certamente desconhece.
Se fosse a si, aceitava o convite para uma visita à base aérea de Sintra, uma vez que difilmente o vejo na pele de bombeiro!
Um abraço
zemaria
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