terça-feira, julho 19, 2005

O SURGIMENTO DOS ARDINAS


"O Diário de Noticias creou uma útil industria para menores, e até para adultos que não tenham occupação, e que não gostem da vida ociosa, incommoda e precária á sociedade e a elles. A venda dos jornaes pelas ruas, inaugurada por nós nesta terra, dá um lucro rasoavel, e sufficientes meios aos que nella se occupam. Os cento e tantos indivíduos que se empregam actualmente na venda desta folha não são sufficientes para as exigências do consumo.
Todos os dias vem á administração grande numero de pessoas comprar números avulsos por lhes não passarem pela porta os vendedores, e isto é por elles serem relativamente poucos, e não chegarem a todos os pontos da cidade, e arredores. E em Lisboa há muitos menores e adultos sem occupação, e sem meios de subsistência. Muitos pedem esmolla tendo saúde robusta, e outros andam em criminosa vadiagem. O Diário de Noticias vende-se-lhes a 700 rs. cada cento, ou 175 rs. cada mão de 25 folhas, as quaes vendidas a 10 rs., seu preço invariável, lhes dão um lucro nesta proporção: 100 numeros vendidos 300 rs.; 75 numeros vendidos 225 rs.; 50 numeros vendidos 150 rs. Nenhum individuo que seja diligente vende menos de 50 numeros n’um dia. O ganho é pois muito mais avultado que o de outras industrias mais fadigosas, aonde se empregam os que intendem que o homem veio ao mundo para trabalhar. A venda na loja da administração principia ás 4 horas da manhã.
"

Diário de Noticias, Ano 1º, nº 183, Quinta-Feira, 17 de Agosto de 1865, Lisboa, Typ. Universal, pág. 3, 4ª coluna.

3 comentários:

Maria disse...

Ora aí está uma ideia interessante, até para os dias de hoje. Mas o jornal está caro e não sei se os leitores ainda serão muitos e fiéis... Para além disso dar trabalho a menores, hoje em dia, é coisa complicada...
Dulce

Anónimo disse...

A melhor maneira de dar trabalho a menores, maiores de 16 anos, seria fazê-los formar cooperativas de prestação de serviços na área sexual. Incentivava-se o espirito, a criatividade e a inovação empresarial num sector onde desde sempre imperou a balda, a improvisação e o amadorismo. Tentem V. Senhorias encontrar um bom chicote em Lisboa e vejam a dificuldade.

José Carlos Araújo disse...

Adorei o excerto; é delicioso.

Parabéns pelo blog